Promessas de doadores para reconstruir Moçambique serão conhecidas este sábado

Presidente da Assembleia Geral pede “ação concreta de apoio”; representante do Unicef diz que reposta de financiamento tem sido muito baixa; especialista da OMM afirma que ciclones serão mais frequentes; Programa Mundial de Alimentos prevê que necessidades humanitárias continuem muito altas.
A cidade da Beira, em Moçambique, acolhe até sábado a Conferência Internacional de Doadores para conseguir financiamento para a reconstrução após os ciclones que atingiram o país.
Em mensagem enviada ao encontro, a presidente da Assembleia Geral disse que a comunidade internacional precisa “fazer mais” para expressar a sua solidariedade.
Maria Fernanda Espinosa disse que a conferência “tem de enviar um forte sinal e uma mensagem clara de que a comunidade internacional está ao lado do povo de Moçambique em palavras e gestos.”
A representante declarou que “o caminho da reconstrução não é fácil”, mas que com cooperação multilateral é possível “criar as condições para o sucesso de Moçambique.”
Para Espinosa, isto “significa ajustar as condições da dívida e das linhas de crédito para aumentar a resiliência” e “também significa recursos, materiais e voluntários.”
A presidente da Assembleia Geral termina a mensagem pedindo que “esta conferência seja uma nova prova do espírito de generosidade da comunidade internacional.”
Moçambique precisa de US$ 3,2 mil milhões para a reconstrução pós-ciclone nas províncias de Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Inhambane Nampula e Cabo Delgado.
A base deste apelo é a Avaliação das Necessidades Pós-Desastres, Pdna na sigla em inglês, que foi realizada pelo governo com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, União Europeia, Banco Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento.
Discussões técnicas marcaram o primeiro dia da conferência. O segundo dia será dedicado às promessas dos diferentes doadores em sessões presididas pelo presidente do país, Filipe Jacinto Nyusi.
Na ocasião, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, também apresenta um relatório com recomendações para lidar com eventos climáticos extremos. Nove peritos da agência visitaram as áreas afetadas para preparar a pesquisa.
O chefe da missão, Filipe Lucio, disse à ONU News que os ciclones Idai e Kenneth “puseram a descoberto uma série de limitações que tem de ser tratadas para aumentar a resiliência do país face a ciclones e cheias.”
O especialista também alertou que estes eventos deverão ser mais frequentes.
“Há a indicação de que a ocorrência de ciclones de categoria 4 e 5 nos próximos anos tenderá a aumentar. Por outro lado, províncias como Gaza e Maputo, que nunca tinham sofrido um ciclone tropical, agora sofrem o risco de ocorrência. Porque a probabilidade de um ciclone afetar Gaza e Maputo é significativa.”
O especialista, que é diretor do Escritório sobre o Quadro Global para os Serviços Climáticos da OMM, disse que isso deve mudar a forma como o país se prepara para estes eventos.
“A preparação para fazer face a um ciclone tropical tem de ser um problema nacional. Ao longo de toda a costa de Moçambique, é importantíssimo que as pessoas estejam educadas, informadas, sensibilizadas sobre o perigo que os ciclones tropicais representam e as medidas que devem tomar.”
Na Beira, a especialista do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, disse à ONU News que a resposta de financiamento para esta emergência “tem sido muito baixa.”
No âmbito deste evento, Cecilia Sánchez afirmou que isso surpreendeu “toda a gente, porque um desastre natural em uma zona que não é de conflito deve receber uma resposta dos doadores bastante forte.” Segundo ela, o Unicef “está usando os seus recursos próprios, que têm de ser devolvidos logo, para que existam sempre fundos disponíveis para a próxima emergência.”
Segundo a agência, Unicef, pelo menos 1 milhão de crianças foram afetadas pelo ciclone Idai.
Até ao momento, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, já prestou ajuda a 1,7 milhão de pessoas atingidas pelos dois ciclones. No total, cerca de 2,1 milhões de pessoas precisam de assistência alimentar.
Para os próximos meses, a agência diz estar “preocupada que as necessidades humanitárias continuarão altas, e vão se agravar nas próximas semanas e meses antes da próxima grande colheita.”
Além da ajuda humanitária, o PMA orienta a resposta aos esforços de reconstrução. A agência trabalha com as autoridades nacionais para adaptar o sistema de proteção social, aumentar as atividades de gestão de risco climático, e aumentar a resiliência dos agricultores.
O PMA precisa de US$ 140 milhões para a sua resposta no país nos próximos três meses. A diretora executiva assistente do PMA, Ute Klamert, representa a agência na Conferência Internacional de Doadores.