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Mais de 3 milhões de refugiados atingidos por cortes de rações na África Oriental  BR

Refugiados da República Centro Africana em centro de distribuíção de ajuda no norte da República Democrática do Congo
Acnur/Hélène Caux
Refugiados da República Centro Africana em centro de distribuíção de ajuda no norte da República Democrática do Congo

Mais de 3 milhões de refugiados atingidos por cortes de rações na África Oriental 

Migrantes e refugiados

Agências da ONU pedem recursos para evitar suspensão de até 60% em ajuda; sem financiamento, milhares de refugiados, incluindo crianças, não terão o suficiente para comer.  

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, e o Programa Mundial de Alimentos, PMA, estão pedindo US$ 266 milhões para socorrer mais de 3 milhões de refugiados na África Oriental. Eles foram afetados pelo corte de rações de alimentos devido à falta de fundos financeiros. 

Os cortes chegaram até 60% em vários países. As agências alertaram para riscos como aumento da desnutrição e anemia, atraso no crescimento de crianças e riscos de proteção. 

Financiamento 

O impacto é agravado por medidas contra a Covid-19 como o confinamento social. A crise tirou os alimentos das prateleiras e destruiu as esperanças de muitos refugiados de sustentar suas famílias com trabalho eventual e pequenos negócios. 

Refugiada de 23 anos, do Burundi, em sua nova casa no Quênia
Acnur/Samuel Otieno
Refugiada de 23 anos, do Burundi, em sua nova casa no Quênia

Em comunicado, a diretora do Escritório Regional do Acnur para o Leste, Sudeste da África e Grandes Lagos, Clementine Nkweta-Salami, disse que “a pandemia foi arrasadora para todos, mas para os refugiados ainda mais.” 

Segundo Nkweta-Salami, “se mais fundos não forem disponibilizados, milhares de refugiados, incluindo crianças, não terão o suficiente para comer.” 

Ela contou que as famílias estão reduzindo refeições, fazendo empréstimos com juros altos, vendendo bens, recorrendo a trabalho infantil e sendo vítimas de violência doméstica. 

Segundo a diretora do Acnur, “muitas vezes existe um desespero e um sentimento de falta de alternativa.” 

Necessidades 

Já o diretor regional do PMA para a África Oriental, Michael Dunford, informou que “a prioridade imediata para todos deve ser restaurar a assistência aos níveis mínimos.” 

Segundo ele, a agência nunca teve “uma situação de financiamento tão terrível para refugiados.” Faltam US$ 266 milhões nos próximos seis meses para as necessidades mínimas. 

Dunford explicou que, se os cortes continuarem, “os refugiados enfrentarão uma decisão muito difícil: permanecer nos campos onde a segurança alimentar e nutricional está se deteriorando ou considerar o risco de voltar quando não é seguro.” 

Cortes 

Nos 11 países cobertos pelo Escritório do Acnur para esta região, 72% dos 4,7 milhões de refugiados enfrentam cortes de alimentos, além de déficits de financiamento para assistência e apoio não alimentar. 

A falta de financiamento forçou o PMA a reduzir sua assistência mensal em até 60% em Ruanda, 40% em Uganda e Quênia, 30% no Sudão do Sul, 23% em Djibouti e 16% na Etiópia. 

Covid-19 agravou situação para refugiados, como neste assentamento em Kivu Sul, na República Democrática do Congo
Acnur/Sanne Biesmans
Covid-19 agravou situação para refugiados, como neste assentamento em Kivu Sul, na República Democrática do Congo

Quase 140 mil refugiados e requerentes de asilo vivem em Ruanda, principalmente da República Democrática do Congo e do Burundi. O PMA apoia 138 mil pessoas vivendo em assentamentos e 12,5 mil crianças da comunidade de acolhimento.  Segundo a agência, “o corte de 60% não tem precedentes.” 

Trabalho 

No Quênia, o PMA já reduziu as rações para 417 mil refugiados em 40%. São necessários US$ 61 milhões para prestar essa ajuda entre março e agosto. Na Tanzânia, as rações para 280 mil pessoas já tiveram um corte de 32% e são precisos US$ 17 milhões para o mesmo período. 

No Uganda, que acolhe a maior população de refugiados da África, a assistência para 1,27 milhão de pessoas teve um corte de 40%. São necessários US$ 77 milhões para repor essa ajuda. 

Já no Sudão do Sul, Etiópia e Djibouti, o PMA precisa de US$ 82 milhões para ajudar quase 1 milhão de refugiados. 

Apenas no Burundi e no Sudão estão sendo distribuídas rações completas. Até agosto, são precisos US$ 18 milhões para continuar esse trabalho.