Moçambique: Acnur ajuda deslocados a obter documentos em Cabo Delgado
Agência presta apoio jurídico promovendo direito à documentação; milhares de pessoas terão acesso ao projeto durante os dois meses na fase experimental; iniciadiva agora na capital províncial norte deve chegar a outras províncias do norte.
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados, Acnur, trabalha com a Universidade Católica de Moçambique para apoiar 10 mil deslocados e seus anfitriões na obtenção de documentos na província de Cabo Delgado.
De acordo com a agência da ONU, até o momento a iniciativa de assistência jurídica já apoiou cerca de 7 mil beneficiários durante a fase experimental.
Províncias vizinhas
O Acnur destaca que a situação humanitária continua a piorar na área de extremo norte onde mais de 530 mil pessoas deixaram os lares em refúgio após ataques terroristas. Eles também procuram abrigo nas províncias vizinhas de Nampula, Niassa e Zambézia.
Neste momento, o projecto abrange o bairro Josina Machel em Pemba, capital de Cabo Delgado. Os deslocados internos recebem aconselhamento jurídico e apoio em questões relacionadas ao registo de nascimento e documentação.
Em nota, a coordenadora do projeto e reitora da Universidade Católica de Moçambique, Bianca Gerente, disse que a situação de Cabo Delgado é dramática, por isso a urgência em ajudar as populações.
A académica realça que as populações perderam tudo, “inclusive sua identidade e dignidade”. Ela acrescentou que muitos dos deslocados não sabem dos seus direitos, por isso ser imperioso fornecer este tipo de informação.
Identidade
A falta de certidões de nascimento, bilhetes de identidade nacionais, o registro de óbitos, casamentos e outras mudanças no estado civil são as principais preocupações.
Em Cabo Delgado, várias famílias continuam fugindo da violência, com poucos ou nenhum artigo, sobrevivendo com quase nada por dias. Com o deslocamento forçado foi perdida ou destruída documentação e registros pessoais e civis, criando problemas para muitos que não têm meios de provar sua identidade.
Para a diretora-adjunta do Acnur para a África Austral, Angele Dikongue-Atangana, o projeto é uma lição de humanidade. Ela destaca que “proteger os deslocados é vital e um esforço coletivo com vista a estabelecer um ambiente seguro para os deslocados internos.”
Segundo agência, este fenômeno pode ter consequências graves para indivíduos e comunidades, incluindo na liberdade de movimento.
Fronteira
Angele Dikongue-Atangana realçou que quando alguém é forçado a fugir para outra área do país ou cruza uma fronteira internacional sem documentos de identidade não pode viajar com segurança.
Nessas circunstâncias, o acesso a bens e serviços que facilitem a autossuficiência e a integração local, como educação e saúde, pode ser muito difícil.
O projeto-piloto de dois meses deve servir principalmente mulheres e crianças que fugiram dos ataques armados dos distritos de Quissanga e Macomia, no norte de Cabo Delgado.
De Maputo para ONU News, Ouri Pota.