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Surto de ebola completa um ano na RD Congo

Um cuidador no Centro de Tratamento Ebola de Butembo, beija um bebê de sete meses que perdeu a mãe devido ao ebola poucos dias antes.
© UNICEF/Vincent Tremeau
Um cuidador no Centro de Tratamento Ebola de Butembo, beija um bebê de sete meses que perdeu a mãe devido ao ebola poucos dias antes.

Surto de ebola completa um ano na RD Congo

Saúde

Líderes de agências da ONU descrevem cenário da “doença implacável e devastadora”; mais de 2,6 mil casos foram confirmados e número de mortos ultrapassa 1,7 mil; vacina contra o vírus foi administrada a mais de 170 mil pessoas desde agosto de 2018.

Este 1º de agosto marca um ano desde a declaração do surto de ebola na província de Kivu do Norte pelo governo da República Democrática do Congo, RD Congo.

Há duas semanas, a doença também foi oficialmente declarada uma emergência de saúde pública de interesse internacional para atrair mais atenção para a crise. Após o anúncio, o Banco Mundial concedeu US$ 300 milhões para ajudar na resposta.

Zona de tratamento do ebola na província do Kivu Norte
Zona de tratamento do ebola na província do Kivu Norte. Foto: Unicef/Tremeau

Provação

De acordo com as Nações Unidas, mais de 2,6 mil casos foram confirmados e o número de mortos chega a 1.790 em áreas das províncias de Ituri e Kivu do Norte.

Em comunicado, líderes de agências da organização destacam que quase um em cada três pacientes é uma criança e que cada “caso” é alguém que passou por uma provação inimaginável. Destes menores, mais de 770 sobreviveram.

A nota é assinada pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, o subsecretário-geral dos Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, a diretora executiva do Fundo da ONU para a Infância, Henrietta Fore, e o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos, David Beasley.

Pelos efeitos nas comunidades do leste congolês, os representantes dizem que a “doença é implacável e devastadora.”  O comunicado ressalta que o ebola “passa de mãe para filho, de marido para esposa, de paciente para cuidador, do corpo morto da vítima para o parente de luto”.

Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,
Unicef/UMichele Sibiloni
Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,

Saúde

Os representantes destacam ainda que a doença vira ao avesso os aspectos mais básicos da vida cotidiana, “prejudicando as empresas locais, impedindo que as crianças frequentem a escola e dificultando os serviços de saúde vitais e de rotina ”.

As Nações Unidas revelaram que o total de pessoas vacinadas desde agosto de 2018 já ultrapassa os 170 mil.

A transmissão do vírus tem sido especialmente difícil de controlar, principalmente no norte da província do Kivu do Norte. Um dos casos mais recentes ocorreu na cidade de Goma, com mais de 2 milhões de habitantes na fronteira de Ruanda.

O centro urbano está ligado a dois postos fronteiriços onde passam entre 40 mil a 70 mil pessoas atravessam diariamente.

 Uma paciente com ebola no Centro de Tratamento de Ebola em Beni, no leste da República Democrática do Congo.
PMA/Marco Frattini
Uma paciente com ebola no Centro de Tratamento de Ebola em Beni, no leste da República Democrática do Congo.

Risco

A declaração destaca que o caso ocorrido em um centro populacional tão denso ressalta o risco muito real de transmissão de doenças pelas fronteiras do país, a necessidade urgente de reforçar a resposta global e o aumento do investimento dos doadores.

A vítima infectada em Goma morreu na quarta-feira. Agências de notícias citaram as autoridades congolesas como tendo confirmado um terceiro caso na cidade.

De acordo com os relatos das agências, nesta quinta-feira o Ruanda anunciou que iria fechar as fronteiras com a RD Congo.  

Como parte da resposta na intervenção contra o ebola com o apoio da ONU, pelo menos 1,3 mil pessoas foram tratadas com terapias investigativas em 14 centros de tratamento e trânsito. 

Por dia, pelo menos 20 mil congoleses que tiveram contato com pacientes são visitados para garantir que não fiquem doentes. A cada semana, 3 mil amostras são testadas para o vírus em oito laboratórios.

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