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Filhos de pais que combateram pelo Isil são mantidos em “centros de detenção secretos” na Síria BR

Uma criança caminha pelas ruas de Aleppo, na Síria.
Foto: Unicef/Grove Hermansen
Uma criança caminha pelas ruas de Aleppo, na Síria.

Filhos de pais que combateram pelo Isil são mantidos em “centros de detenção secretos” na Síria

Direitos humanos

Menores detidos na Síria não têm permissão para se comunicar com suas famílias;  Escritório de Direitos Humanos revela que essas  ações seriam  supostamente da  responsabilidade de autoridades curdas.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU apontou suspeitas de menores cujos pais lutaram pelo grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil, que são “mantidas em assentamentos” não identificados e em “instalações de detenção secretas”.

Uma nota publicada esta terça-feira, em Genebra, menciona que eles são mantidos longe de seus pais. A responsabilidade por manter jovens com mais de 12 anos na província de al-Hassakeh, no nordeste da Síria, seria das autoridades curdas.

Crianças deslocadas e adultos que fugiram de áreas controladas pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil.
Crianças deslocadas e adultos que fugiram de áreas controladas pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil. Foto: Unicef/Soulaiman

Forças Curdas

A porta-voz do escritório, Marta Hurtado, destacou relatos de menores de idade que “não têm permissão para se comunicarem com suas famílias” e que os seus familiares não estão informados sobre seus paradeiros ou condições em que se encontram.

Ainda na Síria, o escritório expressou preocupação com a situação de pessoas que ocupam o  acampamento de al-Hol , na província de al-Hassakeh,  após fugirem de áreas que eram controladas pelo Isil e foram recuperadas pelas forças curdas.

O acampamento abriga atualmente mais de 70 mil pessoas que enfrentam condições de vida precárias.

Cerca de 2,5 mil crianças menores de 12 anos nascidas de pais que estiveram associados ao Isil foram autorizadas a continuar com suas mães.

Falta de Clareza

Hurtado disse que a preocupação é com o “falta de clareza” sobre quanto tempo durarão essas restrições temporárias de circulação, impostas aos civis em al-Hol e em outros campos para deslocados internos dirigidos pelas autoridades curdas. O argumento é que a medida faz parte de um processo de triagem e verificação.

No noroeste da Síria ocorrem ataques aéreos e terrestres nas províncias de Idlib e Hama, apesar do anúncio de um cessar-fogo de 72 horas.

Desde que começou a mais recente escalada militar, no final de abril, pelo menos 105 civis foram mortos e 200 mil pessoas fugiram de combates no sul de Idlib e  norte de Hama.

O escritório da ONU destaca que forças pró-governo e grupos armados não estatais não desrespeitaram o direito internacional humanitário.

Na semana entre 8 e 16 de maio, ocorreram “ataques múltiplos” das forças pró-governo onde morreram  pelo menos 56 civis incluindo muitas mulheres e crianças.

Acampamento de Al Hol, na Síria, abriga atualmente mais de 70 mil pessoas que enfrentam condições de vida precárias.
Unicef/Delil Soleiman
Acampamento de Al Hol, na Síria, abriga atualmente mais de 70 mil pessoas que enfrentam condições de vida precárias.

Grupos Armados

Cinco escolas e um hospital sofreram danos no mesmo período em que foram realizados ataques de grupos armados não-estatais, causando pelo menos 17 mortes, a maioria mulheres e crianças.

O escritório revela que objetos militares foram colocados próximos a civis e seus bens, resultando em mortes e ferimentos e causando danos significativos à infraestrutura civil, como hospitais, mesquitas, escolas e mercados.

Grupos armados não estatais lançaram ataques terrestres em áreas sob o controle de forças do governo, atingindo bairros residenciais e assentamentos de refugiados na província de Hama e na cidade de Alepo.

Controle Militar

No sudoeste da Síria, ocorrem “assassinatos seletivos” de pessoas que retornaram às áreas retomadas pelas forças do governo, no ano passado.

Segundo o acordo, o governo restabeleceu sua autoridade civil em Alepo, mas alguns dos grupos armados continuaram a manter o controle militar efetivo em algumas áreas.

Nos últimos nove meses, foram mortos vários ex-membros dos grupos armados e civis que assumiram cargos em entidades governamentais, incluindo civis locais ou militares ou forças de segurança aparentemente vítimas de  assassinato.

Durante o mesmo período, o escritório documentou 11 desses incidentes e recebeu relatos de pelo menos 380 presos ou detidos.