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ONU diz que novo ciclone em Moçambique afetou 250 mil pessoas BR

Ciclone tropical Eloíse atingiu a região da Beira, em Moçambique, no fim de semana
Unicef/Ricardo Franco
Ciclone tropical Eloíse atingiu a região da Beira, em Moçambique, no fim de semana

ONU diz que novo ciclone em Moçambique afetou 250 mil pessoas

Ajuda humanitária

Eloíse atingiu o país no fim de semana na região central da Beira, que enfrentou a tempestade tropical Chalene há menos de um mês; mais de 18 mil estão deslocados agravando a crise na região que já sofre com violência e confrontos além da pandemia.

Agências da ONU estão intensificando esforços para ajudar as comunidades afetadas pelo ciclone tropical Eloíse, que atingiu a região da Beira, em Moçambique, no fim de semana. A área estava se recuperando da tempestade Chalane, que passou pelo país no fim do mês passado.

A representante das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, disse a correspondentes, por videoconferência, nesta terça-feira, que a ONU está “muito preocupada com a capacidade de resposta humanitária.”

ONU muito preocupada com situação humanitária em Moçambique

Danos

A chefe do Sistema ONU no país de língua portuguesa atualizou para 250 mil o número de pessoas afetadas, quase 100 mil a mais do que o anunciado várias horas após a passagem do ciclone.   Eloíse causou mais de18 mil deslocados, danificou 76 centros de saúde e 400 salas de aulas. 

Segundo Myrta Kaulard, as pessoas precisam com urgência de abrigos, água, cobertores, produtos de higiene, equipamentos sanitários, máscaras e alimentos.

Ela contou que, por enquanto, as agências “conseguiram responder, mas já podem perceber as necessidades crescentes.” Os estoques estão “extremamente baixos” e as agências estão usando, sobretudo, materiais do governo. Algumas estão remanejando recursos no norte do país, em Cabo Delgado, mas Kaulard diz que isso apenas deve acontecer em último caso.

Ela destacou o “impacto arrasador” nos terrenos de lavoura, dizendo que é preciso aguardar para saber o efeito das inundações nas colheitas esperadas para abril. 

O Unicef avalia os danos causados pelo Ciclone Tropical Eloise no bairro Praia Nova, na Beira. As necessidades imediatas identificadas são abrigo, comida, água, atenção médica e a proteção de crianças contra abuso e exploração
Unicef Moçambique/Ricardo Franco
O Unicef avalia os danos causados pelo Ciclone Tropical Eloise no bairro Praia Nova, na Beira. As necessidades imediatas identificadas são abrigo, comida, água, atenção médica e a proteção de crianças contra abuso e exploração

Desafios

A coordenadora disse que Moçambique e parceiros estão tentando responder, ao mesmo tempo, a três desafios: a crise humanitária causada pela violência em Cabo Delgado, o aumento da resiliência à mudança climática e o desenvolvimento sustentável, dificultado pela pandemia de Covid-19. 

Sobre a crise de saúde, ela informou que a nação africana deve receber até maio ou junho doses para vacinar cerca de 20% da sua população.
Ela também realçou o setor da educação, dizendo que milhares de crianças perderam aulas em 2019 por causa do ciclone, em 2020 por causa da pandemia, e planejavam voltar ao colégio este ano.

Mudanças climáticas

Kaulard afirmou que o último ciclone “é uma chamada de atenção para o quão Moçambique está exposto aos efeitos da mudança climática.”
Ela contou que “é de partir o coração falar com aqueles que já estavam quase se reerguendo com suas colheitas, na reconstrução de suas casas.”

Segundo a coordenadora da ONU, os maiores afetados “são pessoas muito pobres, que ficaram mais pobres por causa do ciclone Idai, e agora tiveram mais este obstáculo, que é piorado pela pandemia de Covid-19.”

Ciclone tropical Eloíse causou mais de18 mil deslocados, danificou 76 centros de saúde e 400 salas de aulas
Unicef Moçambique/Ricardo Franco
Ciclone tropical Eloíse causou mais de18 mil deslocados, danificou 76 centros de saúde e 400 salas de aulas

Roupa do corpo

Também esta terça-feira, falando a jornalistas em Genebra, o porta-voz do Ocha, Jens Laerke, disse que as necessidades humanitárias mais urgentes são alimentos, barracas, água potável, kits de higiene, materiais de prevenção Covid-19, mosquiteiros e cobertores. 

Cerca de 32 centros de acomodação para os deslocados foram instalados na província de Sofala, fortemente afetada, incluindo a cidade da Beira, proporcionando alojamento temporário a cerca de 15 mil famílias.

Segundo o porta-voz da Organização Internacional das Nações Unidas para Migrações, OIM, igrejas, mesquitas e alguns escritórios do governo também estão abrigando os deslocados.

Paul Dillon disse que muitas dessas pessoas “fugiram com pouco mais do que as roupas do corpo.”

Doenças crônicas

Segundo a agência, mais da metade dos 71 centros de reassentamento que abrigam pessoas deslocadas pelo Ciclone Idai estão em áreas que foram agora afetadas pelo ciclone Eloíse.

A equipe da OIM está distribuindo sabão, um suprimento limitado de máscaras para os mais vulneráveis e informando sobre a necessidade de manter o distanciamento físico, mas o porta-voz disse que esse trabalho “é muito difícil nas atuais circunstâncias."

Também há sérias preocupações para os pacientes com doenças crônicas que perderam seus medicamentos. A agência da ONU está monitorando a situação para encaminhar esses casos às unidades de saúde, muitas das quais foram danificadas.

Os danos causados pelo ciclone Eloise no bairro Praia Nova na Beira, em Moçambique.
Unicef Moçambique/Ricardo Franco
Os danos causados pelo ciclone Eloise no bairro Praia Nova na Beira, em Moçambique.

Alimentos

Segundo o Programa Mundial de Alimentos, PMA, janeiro a março são o pico da época de escassez no país, altura em que as pessoas lutam mais para encontrar comida.

Quase 3 milhões de pessoas no sul, centro e norte de Moçambique já enfrentavam altos níveis de insegurança alimentar antes do ciclone.

Segundo o porta-voz do PMA, a tempestade também inundou grandes áreas de terras agrícolas e destruiu ferramentas e sementes agrícolas.
Tomson Phiri disse que "as pessoas precisam de ajuda alimentar agora para lidar com a situação e precisarão de apoio para restabelecer seus meios de subsistência no futuro."

O PMA tem cerca de 640 toneladas métricas de alimentos disponíveis no seu armazém na Beira, como parte da sua resposta em curso à época de escassez. Esses recursos podem ser usados para fornecer assistência urgente, mas “mais recursos serão necessários com urgência para montar uma resposta adequada em tempo útil.”