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Guterres diz que novos recordes de temperatura exigem “mudanças rápidas e profundas”

O secretário-geral António Guterres durante coletiva de imprensa na sede da ONU em Nova Iorque
ONU/Mark Garten
O secretário-geral António Guterres durante coletiva de imprensa na sede da ONU em Nova Iorque

Guterres diz que novos recordes de temperatura exigem “mudanças rápidas e profundas”

Clima e Meio Ambiente

Falando a jornalistas em Nova Iorque, secretário-geral disse que esta é uma corrida que o mundo pode e deve vencer; chefe da ONU falou ainda sobre tensões no Golfo Pérsico, atritos entre Estados Unidos e China e diferenças entre países com armas nucleares.

O secretário-geral da ONU alertou esta quinta-feira para o aumento do aquecimento global e o crescimento de tensões políticas em todo o mundo.

Falando a jornalistas na sede da ONU em Nova Iorque, António Guterres disse que “ambos são perigosos e ambos são evitáveis.”

Emergência

Secretário-geral António Guterres visita uma escola no campo de Mandruzi, reassentamento a 40 km da Beira, em Moçambique.
Secretário-geral António Guterres visita uma escola no campo de Mandruzi, reassentamento a 40 km da Beira, em Moçambique, ONU/Eskinder Debebe

Começando com a emergência climática, o chefe da ONU informou que o mês de julho igualou, ou superou, o mês mais quente da história registrada. Em junho, o mesmo recorde já tinha sido batido.

Isso significa que o mundo está no caminho para que os anos entre 2015 e 2019 sejam os cinco anos mais quentes observados.

Guterres disse que “prevenir a mudança climática irreversível é a corrida das nossas vidas e pelas nossas vidas.” Segundo ele, esta “é uma corrida que podemos e devemos vencer.”

Encontro

É por isso que ele está convocando a Cúpula/Cimeira sobre Ação Climática em 23 de setembro. Dois dias antes, acontece um encontro semelhante dedicado a juventude.

Guterres disse aos líderes convidados que o preço do ingresso para participar no encontro “é uma ação ousada e uma ambição muito maior.”

Para evitar os piores impactos da mudança climática, é necessário limitar os aumentos de temperatura a 1,5ºC. Alcançar esse objetivo exige uma redução nas emissões de gases do efeito estufa em 45% até 2030 e a neutralidade de carbono até 2050.

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O chefe da ONU disse aos líderes que não participem no encontro “com belos discursos”, mas sim “com planos concretos e passos claros para melhorar as contribuições determinadas a nível nacional até 2020 e estratégias para a neutralidade de carbono até 2050.”

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Boas notícias

O secretário geral disse que há boas notícias. Segundo ele, “em todo o mundo, governos, empresas e cidadãos estão se mobilizando para enfrentar a crise climática.”

A tecnologia também está ajudando, fornecendo energia renovável a um custo muito menor do que a economia movida a combustíveis fósseis. A energia eólica solar e eólica são agora as fontes mais baratas de energia nova em praticamente todas as principais economias.

Prevenir a mudança climática irreversível é a corrida das nossas vidas e pelas nossas vidas

Guterres deu depois exemplos de várias iniciativas, na Noruega, Chile, Finlândia, Reino Unido, Ilhas Marshall, Etiópia, Nova Zelândia, Fiji e Paquistão.

Mencionou também alguns dados sobre o mundo empresarial. Segundo ele, os gestores de ativos que representam quase metade de todo o capital investido no mundo estão exigindo ação climática urgente, pedindo aos líderes globais que eliminem os subsídios aos combustíveis fósseis e coloquem um preço significativo no carbono.

Em relação às Nações Unidas, o Pacto Global já conseguiu o apoio de empresas com um valor combinado de mais de US$ 1,3 trilhão e esse número está crescendo rapidamente.

Guterres conclui dizendo que o mundo “precisa de mudanças rápidas e profundas na forma como faz negócios, gera energia, constrói cidades e alimenta o mundo.”

Crises

Além da mudança climática, o secretário-geral destacou três crises de relações internacionais.

Primeiro, mencionou o aumento das tensões no Golfo Pérsico, dizendo que “um pequeno erro de cálculo pode levar a um grande confronto.” Também repetiu o pedido para todos os lideres envolvidos de “máxima restrição.”

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Em segundo lugar, disse estar “preocupado com o crescente atrito entre as duas maiores economias globais”, Estados Unidos e China. Segundo ele, é “preciso aprender as lições da Guerra Fria e evitar uma nova.”

Olhando para um futuro não muito distante, o chefe da ONU disse ver “o possível surgimento de dois blocos concorrentes, cada um com sua própria moeda dominante, regras comerciais e financeiras, estratégia de internet e inteligência artificial e visões geopolíticas e militares contraditórias.”

Segundo ele, ainda existe “tempo para evitar isso.”

Armas nucleares

Em terceiro lugar, Guterres destacou o aumento das tensões entre os Estados que possuem armas nucleares.

Ele lembrou o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, INF, na sigla em inglês, dizendo que “é um acordo histórico que ajudou a estabilizar a Europa e a acabar com a Guerra Fria.”

O Tratado deve expirar em 2020 e Guterres disse que “o mundo perderá um inestimável travão à guerra nuclear.” Ele acreditar que “isso provavelmente aumentará, e não reduzirá, a ameaça representada pelos mísseis balísticos.”

O secretário-geral incentivou fortemente os Estados Unidos e a Rússia a estenderem o chamado "New Start" para “fornecer estabilidade e tempo para negociar futuras medidas de controle de armas.”

Guterres terminou a sua mensagem dizendo que a ONU nunca irá abandonar os “esforços para garantir a paz, reduzir o sofrimento humano e construir um mundo sustentável para as pessoas e o planeta.”