Mais de metade da população do Sudão do Sul em risco de insegurança alimentar
Cerca de 6,96 milhões de pessoas devem enfrentar níveis agudos de insegurança alimentar ou piores até o final de julho; baixa produção de alimentos, insegurança e conflito estão entre as principais causas; agências da ONU preparam resposta.
O número de pessoas que enfrentam falta crítica de alimentos no Sudão do Sul é o mais alto de todos os tempos, alertaram esta sexta-feira três agências das Nações Unidas.
De acordo com a pesquisa Classificação da Segurança Alimentar Integrada, IPC, cerca de 6,96 milhões de sudaneses do Sul enfrentarão níveis agudos de insegurança alimentar ou piores até o final de julho. O número representa 61% da população do mais novo país do mundo.
Níveis
A informação foi divulgada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, FAO, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e o Programa Mundial de Alimentos, PMA.
Cerca de 21 mil pessoas devem enfrentar uma falta de acesso a alimentos de nível catastrófico, ou fase 5, o nível mais alto da classificação. Cerca de 1,82 milhão enfrentarão o nível de emergência, fase 4, e outros 5,12 milhões devem ocupar o nível de crise, fase 3.
As estimativas representam um aumento desde o último relatório, de janeiro, com mais 81 mil pessoas previstas na terceira fase, sobretudo nos estados de Jonglei, Lakes, Unidade e Bahr el Gazal.
Causas
Entre as causas, está o começo mais cedo da estação da escassez, após níveis de produção baixos em 2018, e o início tardio das chuvas sazonais. A instabilidade econômica e os anos de conflito também contribuíram para a interrupção dos meios de subsistência.
Outras razões são os altos preços dos alimentos causados pelas fracas colheitas, as perturbações do mercado devido à insegurança, os elevados custos de transporte e a depreciação da moeda.
Em nota, as agências afirmam que “a implementação do acordo de paz e a estabilidade política são obrigatórias para permitir a assistência humanitária urgente, proteger os meios de subsistência e impulsionar a produção agrícola.”
Trabalho
O representante da FAO no Sudão do Sul, Meshack Malo, disse que "muito trabalho precisa ser feito” e que “a recuperação da produção de alimentos e o aumento do rendimento dependem da manutenção da paz."
A FAO trabalha com os agricultores que foram deslocados durante o conflito e retornam e ajudam as populações a adaptar-se às mudanças nos padrões de chuvas. Malo disse, no entanto, que "ainda muito precisa ser feito para aumentar a capacidade de lidar com esses choques de maneira sustentável."
Por sua vez, o representante do Unicef, Mohamed Ag Ayoya, disse que a maior estabilidade no país melhorou o acesso aos necessitados e permitiu tratar mais de 100 mil crianças com subnutrição grave nos primeiros cinco meses deste ano. Mais de 90% dessas crianças estão se recuperando.
Apesar disso, Ayoya afirmou que "os níveis de subnutrição continuam críticos em muitas áreas e o medo é que a situação possa piorar nos próximos meses."
Para o diretor do PMA no Sudão do Sul, Ronald Sibanda, esta "é uma corrida contra o tempo e a natureza.” Segundo ele, é preciso “agir agora para salvar vidas e a subsistência de milhões de pessoas à beira da fome".
Resposta
Como parte da resposta das agências da ONU a esta crise, a FAO fornece novas variedades de sementes adequadas às condições locais e formação em técnicas que reduzirão as perdas causadas por secas e inundações. A agência apoia ainda 800 mil famílias vulneráveis com sementes, ferramentas agrícolas e equipamentos de pesca, a agência está vacinando animais e prestando outros serviços veterinários.
O Unicef pretende ampliar os serviços durante a época de escassez para alcançar mais crianças. Mais de 100 mil menores afetados devem receber ajuda durante o pico da baixa temporada.
O PMA deve prestar apoio a 5,1 milhões de pessoas, distribuindo comida e dinheiro. A agência já preparou 173 mil toneladas de alimentos em mais de 60 áreas, mais 66 mil toneladas do que no mesmo período de 2018.