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Mais da metade dos bebês não são amamentados na primeira hora de vida

Masita Lemorin, de 26 anos, amamenta o seu filho Nathanael, de quatro meses, no Haiti.
Unicef/Marco Dormino
Masita Lemorin, de 26 anos, amamenta o seu filho Nathanael, de quatro meses, no Haiti.

Mais da metade dos bebês não são amamentados na primeira hora de vida

Saúde

Informação consta de novo relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, e do Fundo da ONU para a Infância, Unicef; Guiné-Bissau é o país lusófono com taxa mais baixa de amamentação na primeira hora; já Timor-Leste tem a porcentagem mais alta; Semana Mundial da Amamentação começa esta quarta-feira.

Todos os anos, cerca de 78 milhões de bebês, ou três em cada cinco recém-nascidos, não são amamentados na primeira hora de vida. A conclusão faz parte de um relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, e do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, publicado esta terça-feira.

Dentre os países lusófonos analisados, a Guiné-Bissau tem a taxa mais baixa de amamentação na primeira hora, 33,7%, seguida de São Tomé e Príncipe, 38,3%, Brasil, 42,9%, Moçambique, 69,0%, e Cabo Verde, 72,7%. Timor-Leste, com 75,2%, é o lusófono com a taxa mais alta.

Vantagens

A especialista em nutrição infantil do Unicef Maaike Arts explicou à ONU News, de Nova Iorque, porque é importante amamentar um recém-nascido logo após o parto.

“Primeiro, é muito mais fácil começar o aleitamento materno quando se começa dentro da primeira hora, porque o bebê tem os reflexos para começar a aprender a amamentar. Também ajuda o bebê ter contato pele a pele, ajuda a ter as bactérias saudáveis da mãe dentro do corpo. E, terceiro, o risco de morrer dentro do primeiro mês é muito mais baixo. Houve um estudo que mostrou que, se a mãe esperar mais de uma hora, o risco de morrer aumenta 33%. Se esperar mais do que um dia, o risco aumenta mais do que duas vezes”.

Amamentar os bebês oferece o começo de vida mais saudável.
Amamentar os bebês oferece o começo de vida mais saudável. , by Unicef/Rosenda Quintos

Motivos

A nutricionista diz que existem vários motivos para isto acontecer, que podem estar relacionados com a cultura dos países, os recursos existentes e a formação do pessoal médico.

“Pode haver normas dentro da população. As pessoas podem pensar que não é muito importante, ou que é importante dar outros líquidos ou alimentos ao bebê após o nascer. Também, dentro do serviço de saúde, estamos a ver que há muitas barreiras. Pode ser que o pessoal não seja capacitado suficientemente, ou pode haver práticas de rotina, por exemplo, dar outros líquidos ou outros alimentos, ou rotineiramente separar mamãs e bebês sem haver uma razão médica. Também nas cesarianas, os partos por cesariana, muitas vezes não há apoio necessário para a mãe, para fornecer o aleitamento logo após o parto”.

O relatório descreve práticas de alimentar os bebês com mel, por exemplo. Segundo a pesquisa, as crianças que nascem por cesariana têm taxas de amamentação precoces muito mais baixas. Finalmente, os dados também mostram que, quanto mais partos acontecem em centros de saúde com pessoal formado, mais crescem as taxas de amamentação. 

Resultados

A pesquisa analisou 76 países em todo o mundo. As taxas de amamentação na primeira hora são mais altas em nações do oriente e sul de África, 65%, e mais baixas no Ásia Oriental e Pacífico, 32%.

Perto de nove em cada 10 bebês no Burundi, Sri Lanka e Vanuatu são amamentados na primeira hora. Em contraste, apenas dois em cada 10 passam pela mesma situação no Azerbaijão, Chade e Montenegro.

Maaike Arts acredita que a situação está a melhorar, mas não ao ritmo necessário. Em 2017, 42% dos bebês receberam este aleitamento precoce. Em 2005, esta percentagem era de 37%.

Importância

No que toca ao começa da amamentação, tempo é tudo, e em muitos países pode ser uma questão de vida ou de morte

Em nota, a diretora-executiva do Unicef, Henrietta Fore, diz que “no que toca ao começa da amamentação, tempo é tudo, e em muitos países pode ser uma questão de vida ou de morte”.

Quanto ao diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus afirmou que “é preciso aumentar de forma urgente o apoio dado as mães, seja por familiares, funcionários de saúde ou governos”.

Semana da amamentação

A nutricionista do Unicef explicou à ONU News porque continua a ser importante promover esta prática.

“O aleitamento materno é muito importante para os bebês em todos os países do mundo. Ajuda a sobreviver, a crescer, ao desenvolvimento, e ajuda a prevenir doenças crônicas, como obesidade e como os cancros, especificamente para a mãe. Também para os países, os custos de saúde e os ganhos econômicos são muito grandes. Começar na primeira hora é muito importante para prevenir as mortes nas crianças e para começar o aleitamento materno da melhor maneira”.

Esta quarta-feira, começa a Semana Mundial da Amamentação, que decorre até 7 de agosto. O tema deste ano é “Amamentação: Fundação da Vida”.