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Efeitos climáticos podem custar US$ 50 bilhões por ano às nações africanas BR

Uma mulher caminha em busca de água com seu filho de dois anos no condado de Garissa, no Quênia
© Unicef/Lamek Orina
Uma mulher caminha em busca de água com seu filho de dois anos no condado de Garissa, no Quênia

Efeitos climáticos podem custar US$ 50 bilhões por ano às nações africanas

Clima e Meio Ambiente

OMM defende aumento de alerta e medidas de prevenção; altas temperaturas baixaram produtividade agrícola em mais de um terço; preços elevados limitam acesso a alimentos e expõem mais de 58 milhões de pessoas a insegurança alimentar aguda.

Um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial, OMM, menciona questões como desigualdade no acesso à água, secas e inundações arrasadores que atingem severamente as comunidades, as economias e os ecossistemas africanos. De acordo com o estudo, as geleiras estão desaparecendo, os lagos secando e as chuvas diminuindo.

Área afetada pela seca no sudeste da Etiópia
© UNICEF/Mulugeta Ayene
Área afetada pela seca no sudeste da Etiópia

Conflitos

O aumento do consumo combinado com a frequência de secas e eventos de calor vai aumentar a demanda de água e pressionar os já escassos recursos hídricos. A interrupção na disponibilidade da água pode minar o acesso à água potável e acender conflitos entre pessoas que já enfrentam desafios econômicos.

O relatório “Situação do Clima em África 2021” fornece informações científicas sobre tendências de temperatura e outros indicadores climáticos. A publicação mostra como o clima severo e as alterações climáticas estão minando a saúde, a segurança humana, alimentar e hídrica, além do desenvolvimento socioeconômico.

A África representa apenas cerca de 2 a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas sofre de forma desproporcional com os resultados. O documento indica que a carência de água pode afetar cerca de 250 milhões de pessoas no continente e levar perto de 700 milhões ao deslocamento até 2030. 

Segundo o Secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, o agravamento da crise e a fome iminente no extremo leste da África, atingido pela seca, mostram como as mudanças climáticas podem exacerbar os choques hídricos. A situação colocaria em perigo a vida de centenas de milhares de pessoas e poderia desestabilizar comunidades, países e regiões inteiras.

Escola na província de Bujumbura, Burundi, completamente inundada pelas cheias
Foto: IOM 2021/Triffin Ntore
Escola na província de Bujumbura, Burundi, completamente inundada pelas cheias

Alterações climáticas

África aqueceu mais do que a média global de 0,3º C nos últimos 30 anos. A taxa média anterior era 0,2º C. A subida do nível do mar vem seguindo a mesma tendência, sobretudo ao longo do Mar Vermelho e do sudoeste do Oceano Índico.

As previsões apontam que a tendência se mantenha no futuro e acelere a frequência e gravidade das inundações costeiras em cidades baixas. O resultado será uma maior salinidade das águas subterrâneas devido à invasão da água do mar. A situação ameaça o setor agrícola, os ecossistemas e a biodiversidade, podendo, até 2030, expor entre 108 e 116 milhões de pessoas.

A comissária para Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Africana, Josefa Correia, afirmou que ondas de calor, inundações, ciclones tropicais, secas prolongadas e aumento do nível do mar minam a capacidade da África em cumprir as metas dos ODSs e da Agenda 2063.

Em 2021, cerca de 14,1 milhões de pessoas foram deslocadas internamente na África Subsaariana, incluindo cerca de 11,5 milhões devido a conflitos e violência. Outros 2,5 milhões foram desalojados devido a desastres.

Mulher caminha até um ponto de transporte de água na Somália
© UN Photo / Fardosa Hussein
Mulher caminha até um ponto de transporte de água na Somália

Gestão de Água

O relatório defende um impulso concertado para uma gestão mais integrada dos recursos hídricos. Outro desafio é melhorar a prestação de serviços climáticos e o reforço de capacidade na coleta de dados para variáveis hidro meteorológicas. A meta é salvar vidas e meios de subsistência.

A taxa de implementação do sistema de alerta precoce de riscos múltiplos cobre apenas 40% de habitantes em África. Pelo menos 28 países fornecem serviços climáticos de nível básico ou essencial. Nove deles contam com um serviço integral. Quatro países podem prever completamente secas ou contam com serviços de alerta avançado.

Na África Oriental, a seca piorou após sucessivas estações fracassadas de chuva. O sul de Madagáscar também sofre uma seca aguda. Inundações severas afetaram o Sudão do Sul, a Nigéria, o Congo, a República Democrática do Congo e o Burundi. Episódios de calor extremo acompanhado de incêndios florestais assolam o norte da África.

Estima-se que, até 2050, os impactos climáticos possam custar às nações africanas US$ 50 bilhões por ano.

Escolas resilientes ao clima em Moçambique
ONU-Habitat Mozambique
Escolas resilientes ao clima em Moçambique

Ambição

Nos últimos 50 anos, os perigos da seca mataram mais de meio milhão de pessoas, provocaram perdas econômicas de mais de US$ 70 bilhões. Mais de mil desastres de inundações foram relatados, resultando em mais de 20 mil mortes na região.

A OMM lidera uma campanha quinquenal de acesso universal a alerta precoce a pedido do secretário-geral da ONU, António Guterres. África é prioridade e mais de 40 países atuam em planos climáticos mais ambiciosos, adicionando maiores compromissos à adaptação e mitigação do clima.

Mais de 83% dos planos climáticos nacionais incluem metas de redução de gases de efeito estufa. O foco é dado a áreas como energia, agricultura, resíduos, uso da terra e silvicultura.

O relatório recomenda o reforço de sistemas de alerta precoce, mais cooperação transfronteiriça, troca de dados e de conhecimento.

 

*De Bissau, Amatijane Candé para a ONU News.