ONU pede US$ 5,5 bilhões para combater fome que deve aumentar em 20 países BR

Novo relatório diz que conflitos e pandemia de Covid-19 são as principais causas da crise; Angola e Moçambique são os únicos países de língua portuguesa que integram lista de nações mais afetadas; Iêmen, Sudão do Sul e norte da Nigéria são as áreas mais graves.
Sem assistência urgente e ampliada, a fome aguda deve aumentar em mais de 20 países nos próximos meses.
O alerta é da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA, num relatório publicado esta terça-feira.
Iêmen, Sudão do Sul e norte da Nigéria estão no topo da lista e enfrentam níveis catastróficos de fome aguda, com algumas famílias já em risco de morte.
Embora a maioria dos países afetados esteja na África, a fome aguda deve aumentar vertiginosamente na maior parte do mundo: do Afeganistão, na Ásia, à Síria e Líbano, no Oriente Médio passando por Haiti, no Caribe.
Em todo o mundo, mais de 34 milhões de pessoas lutam contra os níveis de emergência de fome aguda, IPC 4, que significa a um passo da fome.
Em comunicado, o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, disse que “a magnitude do sofrimento é alarmante.” Para ele, “é responsabilidade de todos agir agora e rapidamente para salvar vidas, proteger meios de subsistência e evitar o pior.”
Já o chefe do PMA, David Beasley, acredita que três passos são precisos, urgentemente, para impedir que milhões morram de fome. Primeiro, parar os combates, depois, ter acesso a comunidades vulneráveis e, por fim, apoio dos doadores para angariar os US$ 5,5 bilhões necessários para ajuda humanitária.
Angola e Moçambique fazem parte da lista de países onde a insegurança alimentar deve aumentar.
Em Angola, os principais motivos são condições de seca, desafios econômicos e um surto de gafanhotos do deserto, que devoram as plantações.
Outra estação seca deve prejudicar as famílias nas províncias do sudoeste do país. A baixa precipitação danificará a produção agrícola, incluindo nas principais regiões produtoras de cereais, bem como a criação de animais.
Já o surto de gafanhotos do deserto migratórios deve agravar a situação. Relatos iniciais mostram que nuvens gigantes arrasaram várias colheitas na província do Cuando Cubango, no sudeste de Angola, e continuam sendo uma ameaça.
Os desafios econômicos por causa da Covid-19, condições de crédito e redução da atividade empresarial são outros empecilhos no caminho.
O relatório prevê um aumento do preço dos alimentos e informa que o valor cobrado pela farinha de mandioca e de milho, os principais alimentos básicos do país, já subiu 30% e 25% no ano passado, respectivamente.
As agências estimam que 1 milhão de pessoas sofrerão de insegurança alimentar em 2021, cerca de 17% acima da média de cinco anos.
Em Moçambique, os principais fatores são tempestades e ciclones, a crise da Covid-19 e a insegurança na província de Cabo Delgado
Os desastres naturais causaram deslocamentos e destruíram infraestrutura e colheitas. Segundo avaliações iniciais, 100 mil hectares de terras cultivadas foram afetados. Nas províncias do sul, os agricultores não tiveram sementes suficientes para uma segunda temporada.
Em Cabo Delgado, a violência abrandou em janeiro e fevereiro, mas deve se intensificar com o fim da estação das chuvas esse mês, aumentando o número de deslocados, que estava em 668 mil no final do ano passado.
Um total de 2,9 milhões de pessoas devem enfrentar altos níveis de insegurança alimentar aguda, IPC Fase 3 e acima, entre janeiro e março. O valor está acima dos 2,7 milhões de pessoas nos três meses anteriores.
Esse número deve diminuir para 1,7 milhão entre abril e setembro, devido à época das colheitas e tendência de redução dos preços dos alimentos, mas as agências alertam para o possível impacto de vários fatores.
Apesar do aumento do apoio humanitário, a resposta tem sido dificultada por várias restrições, como insegurança e fortes chuvas.
Em todo o mundo, conflitos e a pandemia de Covid-19 são as principais causas da crise alimentar.
A situação de violência pode prolongar-se, ou aumentar, em partes do Afeganistão, República Centro-Africana, Sahel Central, Etiópia, norte da Nigéria, norte de Moçambique, Somália, Sudão do Sul e Sudão.
A crise de saúde deve seguir ao redor do mundo. A América Latina, a mais afetada pelo declínio econômico, será a mais lenta para se recuperar. Iêmen, Síria e Líbano sofrem com uma rápida depreciação da moeda e inflação vertiginosa.
Os extremos climáticos e o fenômeno La Niña provavelmente continuarão em abril e maio. Os surtos de gafanhotos do deserto na África Oriental e na costa do Mar Vermelho continuam a ser preocupantes e podem chegar a partes da África Austral, arrasando as colheitas de verão.
O relatório recomenda ações de curto prazo em cada um dos locais mais afetados.
As propostas vão desde o aumento da assistência alimentar, à distribuição de sementes, tratamento e vacinação dos rebanhos, esquemas de trabalho em troca de dinheiro e reabilitação de estruturas de coleta de água.
Segundo as agências, a produção agrícola é essencial, especialmente onde o acesso é limitado e as pessoas dependem da produção local.