Guterres: “situação continua sendo um pesadelo” em 10 anos do conflito na Síria
Em 15 de março de 2011, repressão a manifestações pacíficos iniciou violência e guerra no país; secretário-geral pede justiça para vítimas de abusos de direitos humanos e apela à comunidade internacional para ultrapassar diferenças e alcançar a paz.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou esta quarta-feira que, 10 anos depois do começo da guerra na Síria, a situação no país “continua sendo um pesadelo”.
Falando a jornalistas, em Nova Iorque, ele lembrou que “a repressão violenta de manifestações populares pacíficas" levou o país “a uma guerra horrível.”
Consequências
Guterres afirmou que, após uma década de conflito, em meio a uma pandemia e enfrentando um fluxo constante de novas crises, a Síria não aparece mais nas primeiras páginas dos jornais, mas mesmo assim precisa ser lembrada.
Centenas de milhares de sírios morreram e milhões ficaram deslocados. Muitos seguem detidos ilegalmente e muitas vezes são torturados, desaparecem ou vivem na incerteza.
Guterres lembra que, por 10 anos, “o mundo assistiu à destruição e derramamento de sangue na Síria.”
Segundo ele, os sírios sofreram violações dos direitos humanos numa escala massiva e as partes em conflito violaram o direito internacional humanitário, “com absoluta impunidade.”
Violações
O secretário-geral destacou vários episódios de violência, com bombas e morteiros sobre casas, escolas, hospitais e mercados, armas químicas causando um sofrimento indescritível e cidades sitiadas, deixando civis famintos.
Para Guterres, “as partes impuseram restrições indefensáveis à ajuda humanitária” e “áreas substanciais do país foram controladas por grupos designados como terroristas pelo Conselho de Segurança, que sujeitaram muitos sírios a violência e repressão inimagináveis.”
Ele afirma que o povo sírio sofreu alguns dos maiores crimes que o mundo testemunhou neste século e que os perpetradores devem ser responsabilizados.
Justiça
Cerca de metade das crianças na Síria nunca viveu um dia sem guerra. Para agravar esse sofrimento, o país enfrenta o colapso econômico e o aumento da pobreza causados por uma combinação de conflito, corrupção, sanções e a pandemia de Covid-19. Cerca de 60% dos sírios correm o risco de passar fome este ano.
Guterres pediu que a comunidade internacional continue apoiando essas pessoas e apelou, mais uma vez, por um aumento do acesso humanitário.
O chefe da ONU pediu ao Conselho de Segurança um consenso sobre esse tema, garantindo que a ONU continuará buscando um acordo político, de acordo com a resolução 2254 do Conselho de Segurança.
Solução
Um primeiro passo para a paz está sendo dado com o Comitê Constitucional. Segundo Guterres, as partes têm a oportunidade de demonstrar disposição para encontrar um consenso.
O secretário-geral afirmou que “este é o caminho que levará a uma solução que atenda às aspirações legítimas de todos os sírios, crie as condições necessárias para o retorno dos refugiados em segurança e dignidade e respeite a soberania, a integridade territorial e a independência da Síria.”
Para ele, toda a sociedade síria deve participar e a comunidade internacional tem que reduzir as divisões com “diálogo diplomático sólido e sustentado.”
Segundo o chefe da ONU, se isso não acontecer, o mundo estará “condenando o povo sírio a mais desespero.”