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Uma semana após ciclone Kenneth “ainda não são bem conhecidos dados sobre saúde e riscos” 

Antonio Manuel, que vive em Pemba, Moçambique, na frente de sua casa destruída pelo ciclone Kenneth durante a noite de 25 de abril.
PMA/Deborah Nguyen
Antonio Manuel, que vive em Pemba, Moçambique, na frente de sua casa destruída pelo ciclone Kenneth durante a noite de 25 de abril.

Uma semana após ciclone Kenneth “ainda não são bem conhecidos dados sobre saúde e riscos” 

Ajuda humanitária

Agências da ONU apoiam purificação de 1 milhão de litros de água potável em Cabo Delgado; província do norte deve receber material para facilitar acesso de mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva. 

Agências das Nações Unidas enviaram produtos para purificar 1 milhão de litros de água potável em apoio às autoridades de Moçambique. O anúncio foi feito para marcar uma semana após a passagem do segundo ciclone pelo país em 2019. 

Ainda sob chuvas e inundações, o país também recebeu tendas, unidades de purificação de água, sacos para cadáveres e luvas descartáveis da Organização Mundial da Saúde, OMS, e do Fundo da ONU para a Infância, Unicef

Deslizamentos de terra são temidos no bairro de Mahate, em Pemba, depois que o ciclone Kenneth varreu Moçambique.
Deslizamentos de terra são temidos no bairro de Mahate, em Pemba, depois que o ciclone Kenneth varreu Moçambique. Foto: Ocha/Saviano Abreu

Riscos  

​​As avaliações com o Ministério da Saúde continuam para atualizar as informações sobre este setor e os riscos à saúde que “ainda não são bem conhecidos devido à falta de acesso a algumas áreas”. 

Até ao momento, 188.676 pessoas precisam de assistência médica ou estão em risco de adoecer. Pelo menos 17 unidades de saúde estão danificadas e espera-se que o número suba com o aumento do acesso às áreas isoladas. 

A OMS revela que aldeias inteiras estão arrasadas em distritos da província de Cabo Delgado, como Quissanga, Macomia e Ibo. Nessas áreas, cerca de 42 mil casas sofreram danos.  

Uma parte das populações de Cabo Delgado também sofreu com as recentes inundações.
Moçambique, 29 de abril de 2019. Impactos do ciclone Kenneth no Rio Mieze, a 20 km de Pemba, em Cabo Delgado., by PMA/Mohamed Razak

Acompanhamento 

Milhares de mulheres moçambicanas afetadas pelo ciclone Kenneth terão acesso ao acompanhamento para grávidas, apoio para o caso de episódios de violência e cuidados de saúde após a passagem do fenômeno.  

A partir da segunda semana de maio, centros do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, devem oferecer esses serviços a mulheres. As atividades planeadas incluem oferta de kits de dignidade, sessões de informação sobre saúde sexual e reprodutiva e atendimento às sobreviventes de violência doméstica.  

A agência terá em conta as cerca de 7 mil mulheres grávidas do total de 200 mil pessoas afetadas pelo fenômeno na província do extremo norte de Moçambique.  

Os serviços devem seguir os padrões da província de Sofala, que há sete semanas foi a mais afetada pelo ciclone Idai. Na região, continua a entrega de kits de maternidade, além de formações sobre violência baseada no gênero, treinamento de ativistas, e parteiras.  

Apoiam as atividades da agência da ONU ativistas como a sobrevivente Laura Brito. Quando está em ação, ela mobiliza e ajuda outras mulheres no campo de acolhimento da cidade da Beira, o que revela a importância desses serviços numa província onde vivem mais de 70 mil pessoas nesses locais. 

Sobrevivente do ciclone Idai, voluntária apoia outras mulheres em campo de acolhimento

Laura  

Num momento de reconstrução pós-ciclone Idai, a moçambicana Laura é uma das mulheres que se destacam por optar por se tornar voluntária na iniciativa, mesmo estando grávida do quarto filho. Ela fala da importância desses serviços para as mulheres afetadas. 

Laura conta que foi uma chocante história que a inspirou a realizar palestras.  

Coqueiro  

Segundo ela “uma mulher saiu de casa porque precisava ir onde estavam os filhos, só que quando ela ia para lá, o coqueiro caiu em cima dela. Ela perdeu a vida logo ali.” 

Agora, Laura lida com as participantes nesses debates sem qualquer embaraço e diz que “quando conversa com elas, parece que conversa com a própria filha.” 

Preocupada com outras mulheres, a moçambicana de 34 anos acompanha as grávidas e apoia as sobreviventes de violência no acesso aos cuidados de saúde que são oferecidos no centro apoiado pelo Unfpa. 

Orgulho  

Segundo a ativista, a força que é dada às mulheres é para que estas não fiquem desanimadas, uma ação da qual se sente orgulhosa. 

O ciclone Kenneth piorou os riscos para a saúde na província de Cabo Delgado ao atingir populações já vulneráveis ​​pelo sistema de saúde frágil e infraestrutura fraca de água e saneamento. 

 

Ciclone Kenneth: Bombeiros brasileiros em operação de busca e salvamento em Pemba, Moçambique.
Bombeiros do Brasil
Ciclone Kenneth: Bombeiros brasileiros em operação de busca e salvamento em Pemba, Moçambique.