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Agência da ONU ressalta disparidades no preço dos alimentos entre países BR

Mulheres carregam ajuda humanitária do PMA em Thaker, no Sudão do Sul
PMA/Gabriela Vivacqua
Mulheres carregam ajuda humanitária do PMA em Thaker, no Sudão do Sul

Agência da ONU ressalta disparidades no preço dos alimentos entre países

Saúde

Programa Mundial de Alimentos, PMA, revela que um trabalhador em Nova Iorque, gasta 0,6% do seu salário para comprar um prato de comida; no Sudão do Sul, o mesmo prato custaria o equivalente a 186% dos rendimentos do consumidor; Moçambique é único país de língua portuguesa no estudo. 

 O Programa Mundial de Alimentos, PMA, apresentou o “Custo de um Prato de Alimentos 2020” que compara o preço da comida entre os países com base na renda salarial dos consumidores. 

Utilizando uma tabela com variantes e índices em 36 países, o PMA constatou que um trabalhador em Nova Iorque gasta 0,6% do seu salário com um prato feito com arroz e feijão. A mesma refeição equivaleria a US$ 393 no Sudão do Sul, ou 186% do salário mensal de um trabalhador no país africano. 

Pandemia 

Essas disparidades foram agravadas com a crise da Covid-19. Por causa da pandemia, houve um aumento de 27 pontos percentuais no valor gasto para uma refeição básica no Sudão do Sul. 

Ação do PMA em Changara e Moatize ajuda a combater desnutrição em Moçambique
WFP/Evan Sheldon
Ação do PMA em Changara e Moatize ajuda a combater desnutrição em Moçambique

 

Esta é a terceira edição do estudo, que analisa as razões para a insegurança alimentar no mundo com base em múltiplos fatores. A falta de meios para comprar comida deixa milhões de pessoas com fome. Além disso, fatores como conflitos, mudança climática influenciam na situação. 

Moçambique é o único país de língua portuguesa entre as 36 nações analisadas pelo índice.  Na relação aparecem ainda Burundi, Malauí, Haiti, Sudão e Mali. São 17 países da África Subsaariana. Das Américas estão República Dominicana, Colômbia e Panamá nos lugares 33, 34 e 35, respectivamente. 

Crises  

O diretor-executivo do PMA, David Beasley, disse que a análise expõe o quão destrutivo é o impacto do conflito, da mudança climática e de crises econômicas agora agravadas pela Covid-19. 

O chefe da agência ressalta que os piores efeitos recaem sobre os mais vulneráveis cujas vidas eram limitadas antes da pandemia, diante da pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Agora, a situação “é muito pior, pois a pandemia ameaça levar a nada menos do que uma catástrofe humanitária”. 

O relatório aponta o fator conflito como chave para a fome em muitos países. Esta situação leva pessoas a abandonar suas casas, terras e empregos, reduzindo de forma drástica a renda e a disponibilidade de alimentos a preços acessíveis. 

Medidas  

Ao receber o Prêmio Nobel da Paz, este mês, o PMA ressaltou a estreita conexão entre segurança alimentar e paz. Até 270 milhões de pessoas terão as vidas e os meios de subsistência de sob grande ameaça este ano, se não houver medidas imediatas para combater a pandemia. 

PMA precisa de US$ 300 milhões com urgência para ampliar a resposta em tempos de pandemia.
Foto Unicef/ Tsvangirayi Mukwazhi
PMA precisa de US$ 300 milhões com urgência para ampliar a resposta em tempos de pandemia.

 

Burquina Fasso aparece pela primeira vez no índice pela onda de conflitos aliada a mudanças climáticas. O número de pessoas com fome ali triplicou para 3,4 milhões e mais 11 mil habitantes das províncias do norte do país estão ameaçados. 

Quanto ao Haiti, o documento realça o gasto de mais de um terço da renda diária pelos habitantes para comprar um prato de comida, o equivalente a US$ 74 para quem vive em Nova Iorque.  

Contribuem para a situação haitiana as importações de metade dos alimentos e 83% do arroz. Esses fatores tornam o país vulnerável à inflação e à volatilidade dos preços nos mercados internacionais, em especial em crises como a atual pandemia. 

Mercados 

Beasley ressaltou que os habitantes de áreas urbanas também “estão altamente vulneráveis”, diante de efeitos da pandemia como as altas no desemprego, que baixam o poder de uso dos mercados alimentares de que as pessoas dependem. 

Para milhões delas “perder um dia de trabalho significa perder um dia de comida, para elas e seus filhos”. Esse fator também pode causar crescentes tensões sociais e instabilidade. 

Antes chamado de “Contando os Feijões”, o relatório usa a variável da renda média estimada em cada país para calcular a percentagem dos gastos em uma refeição básica, como alguns feijões ou lentilhas, com um carboidrato de preferência local. 

O preço que um residente em Nova Iorque poderia pagar foi calculado com base na relação entre a refeição e renda entre este e um habitante de uma nação em desenvolvimento. 

Ajuda do PMA chegando no Haiti
Foto: ONU/Logan Abassi
Ajuda do PMA chegando no Haiti