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Violência interétnica no Sudão leva 20 mil pessoas a buscar abrigo no Chade BR

Refugiados sudaneses fogem pela fronteira para escapar da violência em Darfur. Refugiada sudanesa de 23 anos fugiu com seus filhos para Kartafa, no Chade, em julho de 2020.
© Acnur/Aristophane Ngargoune
Refugiados sudaneses fogem pela fronteira para escapar da violência em Darfur. Refugiada sudanesa de 23 anos fugiu com seus filhos para Kartafa, no Chade, em julho de 2020.

Violência interétnica no Sudão leva 20 mil pessoas a buscar abrigo no Chade

Migrantes e refugiados

Mulheres, crianças e idosos são 80% de todos os refugiados no país vizinho; total de sudaneses nos acampamentos do Chade atinge 365 mil; insegurança, chuvas e falta de infraestruturas dificultam trabalhos do Acnur.

Pelo menos 2,5 mil pessoas foram obrigadas a atravessar a fronteira do Sudão em busca de refúgio no Chade desde que a violência eclodiu no oeste de Darfur em julho passado. 

Os ataques atribuídos a grupos armados nômades provocaram a morte de 61 membros da comunidade Masalit e feriram 88 pessoas na aldeia de Masteri e arredores. Várias casas foram incendiadas durante os atos.

Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, revelou que a violência étnica terá afetado cerca de 20 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças.
Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, revelou que a violência étnica terá afetado cerca de 20 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças. Foto: UNAMID/Mohamad Almahady

Viagem de 24 horas

A Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, revelou que a violência étnica terá afetado cerca de 20 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças. Juntamente com idosos, estes compõem mais de 80% dos que chegam a Adré, uma aldeia fronteiriça no Chade.

Uma mulher de 25 anos de idade explicou a um funcionário do Acnur como seu marido foi apunhalado até a morte na sua presença. Ela teve que fugir com os três filhos para o Chade numa carroça.

O Acnur atua com o governo chadiano e parceiros locais para transferir os deslocados para o acampamento de Kouchanguine-Moura . O local já abrigava mais de 6 mil sudaneses que chegaram em fevereiro.

Falta de estradas

O transporte dos deslocados por escolta é lento devido às péssimas condições das estradas e fortes chuvas, informou a agência. A situação permanece imprevisível, apesar da calma relativa em Darfur depois dos ataques.

Como consequência, os deslocados internos, sobretudo os que se encontram no centro de acolhimento de El Geneina têm medo de regressar a casa e pedem mais segurança. Relatos apontam que as Autoridades Federais em Cartum já reforçaram a segurança para acalmar a situação.

Um grupo de agências humanitárias avalia os riscos de proteção e necessidades de apoio às famílias deslocadas. Entre as principais necessidades estão abrigo e outros artigos de socorro.  Fatores como chuvas, condições das estradas e insegurança limitam a resposta à situação.

A insegurança na região do Lago Chade aumentou com a redução dos recursos de água
Ocha/Ivo Brandau
A insegurança na região do Lago Chade aumentou com a redução dos recursos de água

Conversações

Na semana passada, uma delegação de Masalit e líderes tribais árabes, provenientes de Cartum, chegaram a El Geneina onde ocorrem negociações de paz entre as partes.

O acampamento de Kouchanguine-Moura  fornece abrigo, água, comida e itens de alívio aos refugiados. Outros serviços disponíveis são de higiene e saúde, incluindo unidades de isolamento no âmbito da resposta ao Covid-19. 

Dos 476 mil refugiados e requerentes de asilo que vivem no local, 3,65 mil são cidadãos sudaneses.

 

*Amatijane Candé para a ONU News .