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Aumento da violência em Darfur causa o deslocamento de milhares de civis BR

Um menina de 12 anos (direita) que vive em um acampamento para deslocados em Darfur, contou ter sido abusada sexualmente por soldados.
Unicef/Ron Haviv
Um menina de 12 anos (direita) que vive em um acampamento para deslocados em Darfur, contou ter sido abusada sexualmente por soldados.

Aumento da violência em Darfur causa o deslocamento de milhares de civis

Migrantes e refugiados

Segundo Agência da ONU para Refugiados, muitos atravessaram a fronteira para o Chade; situação é mais crítica em Jebel Moon, onde nas últimas semanas 10 mil pessoas decidiram abandonar suas casas.

A violência na região de Darfur, no Sudão, tem aumentando nas últimas semanas, fazendo com que milhares de civis abandonem suas casas. Nesta terça-feira, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, divulgou uma nota onde destaca a “enorme preocupação com a escalada” do conflito desde novembro.

Quase 10 mil pessoas já fugiram da violência intercomunitária em Jebel Moon, localizada na zona oeste de Darfur. Cerca de 2 mil, a maioria mulheres e meninas, foram buscar refúgio no Chade. 

Mortes e incêndios 

Najla Umda Adam Suleiman, de 19 anos, fugiu com a família para o Chade quando tinha apenas três anos de idade após o conflito em Darfur.
Foto: Acnur/Modesta Ndubi
Najla Umda Adam Suleiman, de 19 anos, fugiu com a família para o Chade quando tinha apenas três anos de idade após o conflito em Darfur.

Segundo o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, dezenas de pessoas já foram mortas em Jebel Moon e quase 800 casas foram incendiadas. 

As equipes do Acnur estiveram em Jebel Moon na semana passada, entregando ajuda para 1,6 mil famílias de deslocados internos, incluindo cobertores, colchonetes, kits para cozinha e redes mosquiteiras. 

Os funcionários da agência da ONU também tem recebido relatos que consideram ser “alarmantes” sobre a destruição de vilas em Darfur, casos de violência sexual e roubo de cabeças de gado. O Acnur teme que esses ataques aumentem, piorando ainda mais a situação humanitária na região sudanesa. 

Insegurança alimentar 

Refugiados sudaneses fogem pela fronteira para escapar da violência em Darfur. Refugiada sudanesa de 23 anos fugiu com seus filhos para Kartafa, no Chade, em julho de 2020.
© Acnur/Aristophane Ngargoune
Refugiados sudaneses fogem pela fronteira para escapar da violência em Darfur. Refugiada sudanesa de 23 anos fugiu com seus filhos para Kartafa, no Chade, em julho de 2020.

Além da violência, os moradores de Darfur sofrem com a falta de chuvas e a infestação de insetos, que prejudicam a temporada de plantio agrícola. Muitos agricultores estão preocupados com a possibilidade das colheitas não acontencerem, o que apenas agravaria a insegurança alimentar. 


Com o aumento do número de civis em risco, o Acnur e parceiros estão se encontrando com autoridades do país e líderes comunitários para discutir a piora da situação e tentar garantir a segurança dos civis. 


Os sudaneses que conseguiram atravessar para o Chade precisam de comida, água e abrigo e o Acnur trabalha com as autoridades locais para garantir a assistência de emergência. 

Crise econômica 

O Sudão tem cerca de 3 milhões de deslocados internos, sendo que mais de 80% vivem na região de Darfur. Somente neste ano, houve pelo menos 200 incidentes violentos, levando ao aumento dos desalojados. 

Já o Ocha lembra que o Sudão enfrenta uma recessão econômica desde 2018, o que agrava ainda mais as condiçõs de vidas dos civis. A estimativa é de que 6,2 milhões de pessoas em Darfur precisem receber assistência humanitária em 2022, representando metade da população da região. 

O conflito na área tem tomado “dimensões múltiplas”, com muitos grupos armados e criminosos operando na região. O Ocha avalia que reduzir as necessidades humanitárias depende de soluções duradouras para os deslocados e da melhoria da crise econômica.