Milhares de refugiados da República Democrática do Congo deixam Angola

Cerca de 8,5 mil refugiados deixaram o assentamento de Lóvua na província da Lunda Norte; Agência da ONU para Refugiados e governos nacionais estão acompanhando o movimento e prestando assistência.
Cerca de 8,5 mil refugiados deixaram, de forma espontânea, o assentamento de Lóvua na província da Lunda Norte, em Angola, desde 18 de agosto, com a intenção de regressar à República Democrática do Congo, RD Congo.
A informação foi confirmada esta sexta-feira pelo porta-voz da Agência da ONU para Refugiados, Acnur, Andrej Mahecic, em Genebra.
Em entrevista à ONU News, o coordenador residente das Nações Unidas em Angola, Paolo Balladelli, disse que este movimento causa algumas preocupações, mas que “a vontade dos refugiados tem de ser respeitada e tem de se perceber qual a melhor forma que os dois países e a ONU têm para assegurar que essa movimentação seja feita sem problemas e vítimas.”
“Esta movimentação inesperada e muito rápida é difícil de gerir do ponto de vista logístico, alimentar e também em termos de dar toda a segurança, para que as populações cheguem na RDC. Foi uma decisão dos refugiados, que as Nações unidas respeitam, que o governo de Angola respeita, mas que antecipa uma apropriada organização, liderada pelo Acnur, de uma movimentação que aconteça sem problemas para a população interessada.”
Mais de mil refugiados já regressaram ao seu país e muitos outros estão se dirigindo para a fronteira com a região de Kasai.
Segundo o porta-voz, esta parece ser uma resposta a relatos sobre uma melhoria da segurança em alguns dos locais de origem e a vontade de regressar a tempo do início do ano letivo.
A província do Kasai está se recuperando de confrontos que aconteceram entre grupos armados e forças nacionais em 2017. Esta violência provocou o deslocamento de cerca de 1,4 milhão de pessoas e cerca de 37 mil refugiados atravessaram para Angola.
Segundo a agência, os retornos espontâneos desta semana também podem estar relacionados com as eleições presidenciais e acompanham discussões recentes em que os refugiados foram informados sobre melhorias na situação de segurança.
Até agora, o assentamento de refugiados de Lóvua abrigava mais de 20 mil refugiados. O governo angolano forneceu transporte para algumas das pessoas em movimento, mas outros deixaram o local por conta própria. Muitos refugiados estão acampando ao lado das principais estradas no nordeste de Angola, incluindo mulheres e crianças.
O Acnur está trabalhando com parceiros e os governos dos dois países para responder às necessidades humanitárias. Funcionários estão ao longo das rotas de retorno para monitorar, colher informações e prestar ajuda. Representantes da agência também orientam os refugiados.
Dentro da República Democrática do Congo, o Acnur está trabalhando com as autoridades para implantar sistemas de monitoramento nos pontos de entrada da fronteira para avaliar a natureza desses retornos e obter informações sobre o tipo de assistência necessária.
A agência também está em diálogo com os dois países para criar um mecanismo de retornos voluntários, dignos e sustentáveis. O porta-voz diz que o Acnur “entende a ânsia dos refugiados de voltar para casa”, mas “apela a ambos os governos para que evitem situações em que milhares de refugiados possam estar em risco por falta de planejamento, transporte e assistência adequados.”
Embora a segurança tenha melhorado na região do Kasai nos últimos meses, a insegurança no país continua a forçar o deslocamento de milhares de pessoas nas províncias de Kivu do Sul, Kivu do Norte e Ituri.