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Relatora recomenda investigação individual de autoridades sauditas após morte de Jamal Khashoggi BR

Relatora de direitos humanos das Nações Unidas Agnes Callamard.
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Relatora de direitos humanos das Nações Unidas Agnes Callamard.

Relatora recomenda investigação individual de autoridades sauditas após morte de Jamal Khashoggi

Direitos humanos

Figuras de alto nível mencionadas no documento incluem o príncipe herdeiro  da Arábia Saudita; documento faz recomendações para garantir que o caso seja acompanhado pelo secretário-geral e outros órgãos das Nações Unidas.

Uma especialista independente* das Nações Unidas apresentou esta quarta-feira o relatório sobre a investigação do assassinato do jornalista e ativista saudita Jamal Khashoggi.

O documento, apresentado em Genebra, aponta “evidências críveis” que justificam que seja feita uma “investigação mais aprofundada da responsabilidade individual de autoridades sauditas de alto nível, incluindo a do príncipe herdeiro”.

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Conselho de Direitos Humanos, em Genebra. Foto ONU/Jean-Marc Ferre

Responsabilidade

A relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, Agnes Callamard, alerta contra uma ênfase desproporcional na identificação de quem tenha dado ordens para o crime. Ela ressalta ainda que “a busca pela justiça e responsabilidade não depende somente de se encontrar uma arma de fogo e a pessoa que a tiver”.

No documento, Callamard pede que a ONU “exija” uma investigação criminal posterior ao desaparecimento do jornalista, que foi visto pela última vez ao entrar no consulado saudita em Istambul em outubro passado.

O documento reconhece a “sensibilidade política” de se considerar a responsabilidade criminal do príncipe herdeiro, mas salienta que “sob as leis da imunidade e da inviolabilidade não há proibição de sancionar indivíduos que ocupam posições como a do príncipe herdeiro”.

Evidências

A especialista destaca não haver conclusão quanto à culpabilidade ou responsabilidades legais, mas identifica “evidências convincentes”, as quais exigem investigações adicionais incluindo de situações específicas e indivíduos identificáveis.

O documento faz recomendações para que seja dado seguimento ao caso pelo secretário-geral das Nações Unidas e outras partes. O pedido é que “inicie uma investigação criminal de acompanhamento sobre o assassinato de Khashoggi para obter arquivos fortes sobre cada um dos supostos autores e identificar mecanismos para a prestação de contas formal, que incluem um tribunal híbrido.

O chefe das Nações Unidas também foi aconselhado a criar uma investigação criminal internacional, sem qualquer ligação por parte de um Estado.

Acompanhe o depoimento do perito forense português Duarte Nuno Vieira, que integra a equipe de investigadores do inquérito internacional, realizado em fevereiro.

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Segurança

Como parte do processo de reforma organização, o relatório também pede o reforço da capacidade de todo o Sistema para promover a segurança dos jornalistas. O documento propõe que se assegure que equipes nacionais estejam totalmente equipadas para implementar o Plano de Ação da ONU sobre Segurança de Jornalistas e a questão da impunidade em nível dos países em causa.

Para os Estados-membros do Conselho de Segurança, o relatório pede uma reunião informal para “considerar as implicações para a paz e estabilidade da execução do Khashoggi e, de forma mais geral, da segmentação extraterritorial dos indivíduos”.

Ao Conselho de Direitos Humanos ou a Assembleia Geral é pedido um instrumento permanente para a investigação criminal em alegações de assassinatos dirigidos.

Outra opção para esses órgão é que seja criado um mecanismo contra atos de violência dirigidos a jornalistas, ativistas  de direitos humanos ou outros alvos devido às suas atividades ou manifestações pacíficas.

A relatora recomenda ainda que seja aberta uma investigação da polícia federal dos Estados Unidas, FBI, sobre a execução do Khashoggi, se ainda não estiver aberto, e busque processos criminais dentro dos Estados Unidos, conforme seja apropriado.

 

*Relatores de direitos humanos são independentes da ONU e não recebem salário pela sua atuação.