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No Dia dos Namorados, agências da ONU chamam atenção para o casamento infantil BR

Halimz se casou aos 14 anos, e diferente dos irmãos, nunca pode estudar.
Unicef/UN014189/Sang Mooh
Halimz se casou aos 14 anos, e diferente dos irmãos, nunca pode estudar.

No Dia dos Namorados, agências da ONU chamam atenção para o casamento infantil

Mulheres

De acordo com o Unicef, cerca de 12 milhões de meninas com menos de 18 anos se casam todos os anos; para o Unfpa, o casamento infantil é o produto tóxico da pobreza e desigualdade de gênero.

Todos os dias, dezenas de milhares de meninas se tornam noivas. Casamentos infantis violam os direitos delas, expõem elas à violência em potencial, colocam em risco suas saúdes e criam um futuro negro.

“Aos 14 anos, fui submetida ao casamento prematuro, onde os meus pais me aconselharam a me casar ainda menor de idade. Eles disseram que se eu me casasse não sofreria mais e que quando chegasse ao meu novo lar, tudo seria diferente e eu teria uma vida boa sem depender de ninguém.”

Sofrimento

Esta é Mariamo, de Mocambique. Ela contou a história dela ao Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. Mariamo está entre 21% de jovens mulheres no mundo que segundo a agência, se casam antes dos 18 anos de idade.

“Eu pensava que iria viver uma vida melhor como os meus pais tinha me falado, mas nada daquilo era verdade. Eu sofri, passava as noites sem comer. O meu marido ia pescar e quando voltava eu perguntava, o que vamos comer? Ele dizia, não tenho nada, porque não consegui nada. Você também mulher pode procurar algo para comermos porque você tem mãos.”

Noivas Infantis

De acordo com o Unicef, todos os anos, assim como Mariamo, cerca de 12 milhões de meninas com menos de 18 anos se casam. Até 2030, se o mundo não agir de forma decisiva para terminar o casamento infantil, mais de 150 milhões de meninas podem se tornar “noivas infantis”.

Mas, como aponta o Fundo da População das Nações Unidas, Unfpa, isso não precisa ocorrer e programas para terminar com o casamento infantil estão fazendo a diferença, libertando crianças de uniões indesejadas.

Valentines’Day

Neste 14 de fevereiro, Dia dos Namorados ou Valentines’Day, em inglês, também conhecido como Festa de São Valentim, o Fundo da População das Nações Unidas, Unfpa, está abordando o que acontece quando meninas dizem “eu não quero” ao casamento infantil.

Como diz a diretora executive do Unicef, Henrietta Fore, “para muitos, o Dia dos Namorados é associado com romance, flores e propostas de casamento.” Mas ao tempo, como ela destaca, “para milhares de meninas ao redor do mundo o casamento não é uma escolha, mas um fim indesejado de suas infâncias e futuros.”

Como parte de uma campanha, meninas e mulheres compartilharam suas histórias. Kakenya Ntaiya contou que cresceu na região rural do Quênia. Ela explicou que “a forma tradicional de vida para as meninas é passar pela Mutilação Genital Feminina em preparação para o casamento quando jovens.”

Kakenya disse que “escapou do casamento infantil e lutou pela educação dela.” A jovem eventualmente criou a Kakenya's Dream, o Sonho de Kakenya na tradução em português, uma ONG que usa a educação para empoderar meninas e transformar as comunidades rurais.

Violência Doméstica

O Unicef destaca que o casamento infantil leva a uma vida de sofrimento. Meninas que se casam antes dos 18 anos têm menos chance de estudar e têm mais chance de serem vítimas de violência doméstica.

A agência também destaca que jovens meninas adolescentes são mais susceptíveis a morrerem devido a complicações na gravides e no parto do que mulheres na casa dos 20 anos.

Pobreza

Para o Unfpa, o casamento infantil é o produto tóxico da pobreza e desigualdade de gênero. Muitas famílias acreditam que o casamento irá assegurar o futuro das filhas, mas na verdade, ele muitas vezes atrapalha as perspectivas das meninas.

Como enfatiza a agência, o casamento infantil é um fenômeno global, que afeta meninas em diversas comunidades e religiões.

Em 2017, O Programa Global do Unicef e do Unfpa para lidar com a questão atingiu 1 milhão de meninas e 4 milhões de membros de comunidades com informação e serviços para terminar com o casamento infantil.

Para o Unfpa, tudo muda quando meninas aprendem que existe um futuro melhor à sua disposição.

Estudo recomenda mais ações para que suas crianças vivam de forma mais saudável.
Florence, estudante de 14 anos da República Democrática do Congo, responde questões sobre o que pensa do casamento infantil. , by Unicef/Dubourthoumi

Abaixo o Unicef cita 10 fatos que ilustram porque é preciso #TerminarOCasamentoInfantil.

  1. Em todo o mundo, se estima que 650 milhões de meninas e mulheres vivas hoje se casaram antes de completarem 18 anos.
  2. Globalmente, o número total de meninas casadas na infância é estimado em 12 milhões por ano.
  3. A região sul da Ásia abriga o maior número de noivas infantis. São cerca de 285 milhões delas, o que representa  mais do que 40% do total no mundo. Em segundo lugar aparece a África subsaariana, com cerca de 115 milhões de noivas infantis ou 18% dos casos no mundo.
  4. A prática do casamento infantil diminuiu em todo o mundo. Na última década, a proporção de mulheres que se casaram quando crianças diminuiu em 15%, de 1 em 4 (25%) para aproximadamente 1 em 5 (21%).  Ao todo,  cerca de 25 milhões de casamentos infantis foram evitados. O aumento dos índices de educação de meninas, os investimentos pró-ativos do governo em meninas adolescentes e as fortes mensagens públicas sobre a ilegalidade do casamento infantil e os danos que causam estão entre as razões para a mudança. 
  5. No sul da Ásia, o risco de uma menina se casar na infância diminuiu em mais de um terço, de quase 50% há uma década para 30% nos dias atuais.  A queda foi em grande parte impulsionada por grandes avanços na redução da prevalência do casamento infantil na Índia.
  6. Cada vez mais, os casos de casamento infantil estão migrando do Sul da Ásia para a África Subsaariana. A região apresenta um progresso mais lento e a uma população crescente. Dos casamentos infantis mais recentes, cerca de 1 em cada 3 acontecem agora na África subsaariana, em comparação com 1 em 7 há 25 anos.
  7. Na América Latina e no Caribe, não há evidências de progressos. Os níveis de casamento infantil continuam tão altos quanto há 25 anos.
  8. O casamento infantil ocorre também em países de alta renda. Nos Estados Unidos, a maioria dos 50 Estados tem uma exceção na lei que permite que as crianças se casem antes dos 18 anos. Até 2017, na União Européia, apenas quatro países não toleravam exceções à idade mínima de 18 anos para o casamento.
  9. O casamento na infância tem repercussões em muitas áreas da vida de uma menina. Por exemplo, na Etiópia, a maioria das jovens que se casaram quando crianças deram à luz antes do seu 20º aniversário. As noivas infantis também têm menos chances de receberem cuidados especializados durante a gravidez e o parto. Além disso, as adolescentes casadas na Etiópia têm três vezes mais probabilidade de estar fora da escola do que as jovens solteiras.
  10. Para eliminar o casamento infantil até 2030, conforme estabelecido na Agenda para o Desenvolvimento Sustentável, o progresso global teria que ser 12 vezes mais rápido do que o nivel observado na última década.

Confira este vídeo produzido, em inglês, como parte da campanha do Unicef contra o casamento infantil. 

A storybook proposal I UNICEF