Especial Câncer de Próstata: entre eliminar tabus e divulgar a mensagem de esperança
Exame pode retardar morte de até 30% dos pacientes confirmados; Lusófonos falam de mobilização e possibilidade de tratamento; insegurança é comum em homens antes de fazer o exame em vários pontos do mundo.*
Neste 4 de fevereiro, Dia Mundial de Combate ao Câncer, a Organização Mundial da Saúde, OMS, tem como uma das metas informar e acabar com ideias erradas sobre essa condição.
A ONU News ouviu vários envolvidos no combate ao câncer de próstata, uma doença que vai afetar um em cada seis homens no mundo, segundo a OMS.
Exame
Campanhas para lembrar que é preciso prevenir a doença, que geralmente ocorre em homens, acontecem especialmente em novembro. A ideia é reverter essa tendência: em 105 países é o câncer de próstata o mais frequentemente positivo nos exames de oncologia.
Vozes de países de língua portuguesa também se fazem às ruas nesse esforço de mobilização. De Moçambique, Hélio Rubi é um dos cidadãos que disse ter participado nesse movimento desde que fez o exame para detectar o tumor.
“Por acaso, eu tive a oportunidade de fazer o exame de cancro da próstata no ano antepassado. Fui diagnosticado negativo em relação à doença. Mas na minha ótica, percebo que muitos homens, a cada dia que passa, têm tido várias situações do gênero. Então, aconselho a todos a se aproximar para tentar perceber qual é o seu estado.”
Como em outros países, Moçambique tem homens que mencionam a questão da timidez para fazer o exame. Para Ernesto, os esforços para lidar com o câncer de próstata devem continuar além das fronteiras.
“É um tabu muito grande aqui em África. Nós agora só falamos de malária, da sida, da cólera. Agora sobre o cancro como tal, não. Mas as mensagens são várias. Em toda esquina por onde eu passo, eu encontro um panfleto que sensibiliza as pessoas que façam o teste e saibam mais o que é o cancro.”
Já para outro jovem, há necessidade de divulgar mais informação.
Informações
“Sobre o cancro da próstata eu não tenho muita informação para dar. Mas eu tenho acompanhado na televisão. Eu nunca pensei em ir.”
Um sentimento que se vive também em Portugal. Falando à ONU News, o presidente da Associação de Doentes da Próstata, Joaquim Domingos, explica o tabu que existe em torno da doença.
“Em Portugal a maioria dos homens não quer nem ouvir falar em problemas da próstata- E porquê? Porque eles identificam problemas da próstata com problemas na área sexual, com a incapacidade de ter relações sexuais, portanto eles preferem nem pensar no assunto.”
A insegurança para fazer o exame do câncer de próstata é comum em vários pontos do mundo, mesmo apesar da possibilidade de cura quando descoberta no início.
Mas com essa realidade conhecida, a questão é: porque muitos não fazem o exame que permite detectar o tipo de tumor?
Urologista em Cabo Verde, Mário Frederico trabalha neste campo e sensibiliza a sociedade, em especial os homens do arquipélago, para que deixem essa insegurança para trás.
Problema
“É do exame de toque retal que a maioria dos homens às vezes tem medo, talvez. Mas eu acho que é o método. Portanto, quando a maioria dos homens procura uma consulta de urologia, às vezes, eles mesmos dizem que o problema é o medo, talvez porque é doloroso. Esse é o principal mito que temos aqui em Cabo Verde.”
Para o médico cabo-verdiano, o teste é uma oportunidade para ganhar tempo e pode permitir que sete em cada 10 pessoas diagnosticadas se “recuperam bem”.
Em todo o mundo, o exame para o câncer da próstata, também chamado de PSA, pode retardar a morte de entre 20% e 30% dos pacientes confirmados.
A ONU News também recolheu relatos sobre o conhecimento de alguns homens em relação à doença e, até que ponto sabem que existe esperança se houver cuidado.
Pressão
De São Tomé e Príncipe, Nelson Silva disse que sabe que partindo de certa idade é preciso que os homens recorram a urologistas para fazerem o exame do câncer da próstata.
De Angola, Manuel Henriques João disse que essa situação cria muita dificuldade para os homens e que sabe que o câncer da próstata é uma doença que normalmente afeta homens numa idade superior aos 50 anos.
Já o angolano Manuel Pereira declarou que considera a “doença complicada” que cuja maior incidência ocorre nos homens ao atravessaram as cinco décadas de vida.
É mesmo para homens com mais de 50 anos que a Organização Mundial da Saúde recomenda o diagnóstico do câncer da próstata. O tumor nessa glândula é detectado em 13,5% dos doentes de câncer no mundo.
As taxas de mortalidade para o câncer de próstata diante de todos tipos de câncer é a mais alta em 46 países.
Faixa Etária
Conhecer o resultado do chamado exame do PSA oferece a oportunidade de prolongar a vida de várias formas, segundo o especialista do Instituto Nacional do Câncer no Brasil, Ronaldo da Silva.
“Manter uma dieta adequada, uma prática de atividade física regular e manter o peso ideal para diminuir o risco, principalmente, para diminuir o risco de próstata avançado. E diminuir o prognóstico daqueles indivíduos que já tem câncer de próstata, tentar manter uma dieta adequada, o peso dentro da faixa etária daquele indivíduo e manter uma atividade física regular.”
O Brasil vem incluído nas estatísticas das Américas, onde o câncer de próstata é responsável pela morte de 85 mil pacientes e 413 mil novos casos por ano.
Medicação
A diretora-geral assistente da OMS para Acesso a Medicamentos e Vacinas, Mariângela Simão, disse que em nível global, realizar o exame PSA é o passo para o acesso a uma melhor a qualidade de vida com a medicação já disponível.
“Com um diagnóstico precoce, a chance de sobrevida é de muitos anos. Por exemplo, câncer de pulmão a maior parte das vezes quando você diagnostica, ele já está avançado. O câncer de próstata é diferente, tem mais terapêuticas que funcionam.”
Em Portugal, o acesso a este exame é fácil tal como explica Joaquim Domingos.
“O próprio homem, mesmo sem ter indicação médica, pode chegar a um laboratório e dizer “eu quero fazer o PSA” a qualquer hora do dia. O homem não tem de ir em jejum, tiram-lhe sangue passado dois ou três dias dão-lhe o resultado.”
*Colaboração de Ouri Pota, de Moçambique, e Amatijane, da Guiné-Bissau, para ONU News.