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Unicef: Apenas 2,4% dos fundos climáticos atendem necessidades das crianças

Um menino fica em um paredão que protege a casa de sua família da elevação do nível do mar no Atol de Majuro, nas Ilhas Marshall
Unicef/Vlad Sokhin
Um menino fica em um paredão que protege a casa de sua família da elevação do nível do mar no Atol de Majuro, nas Ilhas Marshall

Unicef: Apenas 2,4% dos fundos climáticos atendem necessidades das crianças

Clima e Meio Ambiente

Relatório divulgado, nesta quinta-feira, aponta lacuna de financiamento para ações que envolvem a população infantil, afetada de forma desproporcional e específica por eventos climáticos extremos; ativista de Barbados afirma que “a voz das crianças não está sendo ouvida”. 

Os atuais investimentos para enfrentar a crise climática não são adequados para as necessidades das crianças. 

Esta é a conclusão do relatório “Abaixo da Meta: Enfrentando a Crise de Financiamento Climático para Crianças”, numa tradução livre, divulgado nesta quinta-feira. 

Critérios de adequação 

O documento produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e parceiros, revela que apenas 2,4% dos principais fundos climáticos globais seguem diretrizes voltadas para a população infantil. 

Essa parcela representou apenas U$ 1,2 bilhão em investimentos durante um período de 17 anos. 

De acordo com o Índice de Risco Climático Infantil do Unicef, mais de um bilhão de crianças tem uma probabilidade extremamente alta de sofrer com os impactos da crise climática.

O estudo considera três critérios para avaliar a adequação às necessidades dos menores. Considerar os riscos específicos e elevados aos quais estão expostos, fortalecer a resiliência de serviços sociais para este grupo e capacitar as crianças como agentes de mudança. 

Ficamos presos em casa por semanas. A chuva não parava, diz Sanjay, de 13 anos, quando pensa no verão passado
Unicef/Juan Haro
Ficamos presos em casa por semanas. A chuva não parava, diz Sanjay, de 13 anos, quando pensa no verão passado

Vozes das crianças

A ativista climática de Barbados, de 13 anos, Maria Marshall, disse que “as crianças são o futuro, mas segundo ela, esse futuro “é moldado pelas ações daqueles que tomam decisões no presente”. 

Maria afirmou que as vozes das crianças “não estão sendo ouvidas”. 

Para ela, os dados do relatório reforçam que “financiar soluções climáticas é uma obrigação, mas a forma como esse dinheiro é gasto também é importante”. A ativista defende que “as necessidades e perspectivas das crianças devem ser incluídas.”

Os menores são desproporcionalmente vulneráveis à escassez de água e alimentos, doenças transmitidas pela água e traumas físicos e psicológicos, todos associados a eventos climáticos extremos. 

Financiamento para “enfrentar injustiças”

O Unicef também afirma que as mudanças dos padrões climáticos estão prejudicando o acesso das crianças a serviços básicos, como educação, saúde e água potável.

De acordo com a chefe global de mudanças climáticas da organização Save the Children, Kelley Toole, as crianças, especialmente aquelas já afetadas pela desigualdade e discriminação, “fizeram o mínimo para causar a mudança climática, mas são as mais atingidas por ela”. 

Para ela, o financiamento climático “oferece uma oportunidade de enfrentar essas injustiças, considerando as necessidades e perspectivas das crianças.” 

O relatório foi produzido pela Iniciativa de Direitos Ambientais das Crianças, Ceri, uma coalizão composta por Unicef, Save the Children e Plan International.