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América Latina e Caribe têm maior custo em alimentação saudável do mundo

Relatório das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, publicado nesta quarta-feira, revela que América Latina e Caribe tem o maior custo em alimentação saudável do mundo
World Bank/Paul Salazar
Relatório das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, publicado nesta quarta-feira, revela que América Latina e Caribe tem o maior custo em alimentação saudável do mundo

América Latina e Caribe têm maior custo em alimentação saudável do mundo

Desenvolvimento econômico

Com uma média de US$ 3,89 por pessoa por dia, 131 milhões de pessoas não conseguem pagar por alimentos de qualidade; entre 2019 e 2021, o número de latino-americanos e caribenhos com fome chegou a 56,5 milhões; no Brasil, o aumento da insegurança alimentar foi de 10%.

O novo relatório das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, publicado nesta quarta-feira, revela que América Latina e Caribe tem o maior custo em alimentação saudável do mundo.

Para ter uma boa dieta, latino-americanos e caribenhos gastam cerca de US$ 3,89 por pessoa por dia, enquanto a média mundial é de US$ 3,54.

Feira em São José, Rio de Janeiro, Brasil.
FAO/Giuseppe Bizzarri
Feira em São José, Rio de Janeiro, Brasil.

Custo da alimentação

Os caribenhos são os mais afetados: 52% não possuem renda suficiente para uma dieta completa no valor de US$ 4,23 por dia.

Com isso, 22,5% das pessoas na América Latina e no Caribe ficam sem acesso à  alimentação saudável.

Um total de 131,3 milhões de latino-americanos e caribenhos que não tiveram como comprar comida saudável 2020, 8 milhões a mais que em 2019.

O relatório aponta um aumento global na insegurança alimentar da região, que afeta principalmente menores de 5 anos e mulheres.

Proteção social

A diretora regional do Programa Mundial de Alimentos, PMA, acredita que a insegurança alimentar deve continuar a aumentar devido à crise de preços de alimentos e combustíveis, causada pelo conflito na Ucrânia e pelas consequências do Covid-19.

Lola Castro recomenda aos governos a expansão das redes de proteção social e lembra que a pandemia demonstrou que o apoio melhora o acesso a uma alimentação saudável, evitando que crises atinjam ainda mais as populações vulneráveis.

América Central

Entre 2019 e 2021, os números da fome na região subiram em 13,2 milhões, atingindo um total de 56,5 milhões de pessoas em 2021. Com a pandemia, a situação se agravou.

A alta foi puxada pela América do Sul, onde 11 milhões de pessoas a mais passaram fome. Entre 2019 e 2021, a fome atingiu um patamar de 7,9% na América do Sul, 8,4% na América Central e 16,4% no Caribe.

Em relação à insegurança alimentar moderada ou grave, em 2021, 40,6% da população regional vivenciou essa situação, em comparação com 29,3% no mundo. A insegurança alimentar grave também é mais frequente na América Latina e Caribe, com 14,2%, que no mundo, com 11,7%.

Devido à crescente insegurança alimentar na América Latina, “todo o continente está em movimento”, diz Lola Castro, diretora regional do PMA para América Latina e o Caribe.
UN Geneva
Devido à crescente insegurança alimentar na América Latina, “todo o continente está em movimento”, diz Lola Castro, diretora regional do PMA para América Latina e o Caribe.

Brasil

Segundo os dados, a insegurança alimentar moderada no Brasil subiu 10% nos dois triênios avaliados, de 2014 a 2016 e de 2019 a 2021.

O Brasil concentra, na região, a menor porcentagem de pessoas subnutridas, com 4,1%. No entanto, pelo tamanho de sua população, o país reúne o maior número de pessoas na situação, com 8,6 milhões.

A quantidade das pessoas em situação de fome também aumentou 1,6%, atingindo outras 3,4 milhões.

Respostas para fome e má nutrição

O estudo aponta que a falta de recursos para acessar uma alimentação saudável, observada em toda a região, também está associada a diferentes indicadores socioeconômicos e nutricionais.

O relatório mostra a relação com outras variáveis, como o nível de renda de um país, a incidência da pobreza e o nível de desigualdade.

Para o vice-diretor e representante regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, nenhuma política isolada pode fornecer a solução ampliar o acesso e disponibilidade de alimentos nutritivos.

Apoio aos pequenos agricultores

De acordo com Mario Lubetkin, é necessário fortalecer os mecanismos de coordenação nacional e regional para responder à fome e à má nutrição.

Ele afirma que devem ser criados incentivos para a diversificação da produção de alimentos nutritivos voltados principalmente para a agricultura familiar e pequenos produtores e produtoras.

O chefe da FAO na região também avalia que medidas para a transparência dos preços desses alimentos nos mercados e a comercialização, bem como transferências de renda e ações como a melhoria dos menus escolares podem ajudar a reverter o cenário.

Desnutrição

Segundo o estudo, os países com maiores níveis de pobreza e desigualdade tendem a ter mais dificuldade no acesso a uma alimentação saudável. Isso está diretamente associado a uma maior prevalência de fome, desnutrição crônica em meninos e meninas e anemia em mulheres de 15 a 49 anos.

Outros números apresentados no relatório indicam que a região registra uma evolução importante quanto à prevalência de desnutrição crônica em crianças baixo de cinco anos.

Em 2020, esse número foi de 11,3% na América Latina e no Caribe, cerca de 10% abaixo da média mundial. No entanto, 3,9 milhões de crianças até 5 anos de idade estão acima do peso.

Proteção Social

O relatório também descreve como alguns programas de proteção social que focam em nutrição têm funcionado, bem como sua importância para apoiar as alimentações da população mais vulnerável, principalmente em situações de crise.

A publicação é uma análise conjunta da FAO, PMA, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fida, Organização Pan-Americana da Saúde, Opas e Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.