Consumo de carne selvagem aumenta risco de propagação de doenças de origem animal
Pnuma destaca custo alto da superexploração da natureza; cerca de 70% das espécies protegidas de mamíferos são usadas como carne silvestre; destino do produto é o uso direto ou comércio doméstico.
Um novo relatório alerta sobre o aumento do risco de propagação de doenças de origem animal para humanos como resultado do maior consumo doméstico de carne de espécies selvagens.
Este é um dos impactos mais expressivos que afetam animais protegidos pela Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres.
Mamíferos
O Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, confirmou que 70% das espécies de mamíferos protegidas são consumidas como carne silvestre. A situação causou quedas drásticas e a extinção de diferentes populações migratórias de mamíferos.
O primeiro relatório sobre o tema aponta ainda o consumo da carne selvagem como a principal motivação para a caça legal e ilegal, principalmente de mamíferos com cascos, chamados ungulados, e os primatas.
A procura é mais frequente em tempos de conflito, fome e durante a mudança do uso da terra. Também ocorre por tradições culturais, uso medicinal, conflito homem-vida selvagem, captura não intencional e para esporte ou caça de troféus.
A análise aponta fortes evidências de ligação de surtos de doenças zoonóticas às atividades humanas, como apontam alguns cientistas no caso da atual pandemia de Covid-19.
Espécies
O consumo de carne selvagem causa diretamente o contágio entre humanos do chamado vírus monkeypox, do grupo da varíola. Na mesma linha estão ainda o Sars e o ebola das espécies do Sudão e do Zaire.
No total, 60 agentes virais zoonóticos foram relatados como sendo hospedados pelas 105 espécies migratórias analisadas na publicação.
Fatores como invasão de habitats virgens por meio de infraestrutura e atividades econômicas transformaram áreas vastas em novos locais de acesso à carne selvagem. A situação aumentou o risco de doenças para os humanos.
A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, ressalta que “a pandemia Covid-19 ensinou que a superexploração da natureza tem um custo alto”.
Leis
Ela defende que é preciso deixar urgentemente de atuar dentro da mesma lógica em relação ao assunto para se “salvar muitas espécies à beira da extinção e proteger os humanos de futuros surtos de doenças zoonóticas.
Apesar de a atenção global estar mais concentrada no comércio internacional, o relatório constatou que a grande maioria da captura de espécies para o consumo de carne selvagem se destina ao uso direto ou comércio doméstico.
O estudo destaca fatores que alimentam o problema. A legislação e os regulamentos nacionais podem precisar de maior clareza ou frequentemente apresentar regras desatualizadas ou mal aplicadas.
Produtos de luxo
Houve ainda um aumento de conflitos civis e mudança no uso da terra, mais animais migratórios cruzando países e regiões com leis e abordagens específicas em sua aplicação. A urbanização e o aumento da venda de carne silvestre como produto de luxo também estão em alta.
O estudo também documenta ligações entre a caça e as tendências de declínio populacional de várias espécies: cerca de 77% foram avaliadas como tendo populações decrescentes, foram registradas como ameaçadas pela caçada.