Em evento de doadores, ONU realça apelo de cessar-fogo imediato no Afeganistão
Secretário-geral diz que paz permitirá retorno seguro, ordenado e digno de milhões de afegãos; Acnur alerta para consequências desastrosas de falta de empenho internacional; Unicef destaca crises de violência, educação e fome.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu esta terça-feira um “cessar-fogo imediato e incondicional” no Afeganistão para que seja criado um ambiente propício para as negociações de paz em Doha, no Catar, com o Talebã.
As declarações foram feitas a doadores no último dia da Conferência Afeganistão 2020. A reunião virtual foi organizada pelas Nações Unidas e pelos governos do Afeganistão e da Finlândia.
Processo
O evento em Genebra juntou ministros de cerca de 70 países e entidades humanitárias para discutir o apoio a mais de 3 milhões de afegãos deslocados. Mais 9 milhões perderam seus meios de subsistência com a pandemia.

O chefe da ONU defendeu que um processo inclusivo, no qual mulheres, jovens e vítimas de conflitos sejam representados de forma significativa, “oferece a melhor esperança de paz sustentável” no país.
Guterres acredita que o progresso rumo à paz no Afeganistão contribuirá para o desenvolvimento de toda a região e é “um passo vital para o retorno seguro, ordenado e digno de milhões de afegãos”.
A conferência coincide com as negociações de paz em Doha, que inclui representantes do governo do Afeganistão e do movimento Talebã desde 12 de setembro.
Compromisso
A última conferência sobre o Afeganistão aconteceu em 2016, em Bruxelas, e teve promessas de US$ 15,2 bilhões para o período entre 2017 e 2020.

No primeiro dia do evento deste ano, o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, pediu o compromisso da comunidade internacional com refugiados e deslocados internos.
Para ele, o futuro de milhões depende do resultado das negociações em curso, como do compromisso da comunidade internacional com o desenvolvimento do país marcado pela guerra.
Grandi destacou que o fracasso de qualquer uma destas iniciativas levaria a um retrocesso, o que teria “consequências desastrosas, e mais deslocamento, possivelmente em grande escala”.
Ajuda
Após uma recente visita ao Afeganistão, Grandi notou o aumento da violência com “quase 300 mil afegãos deslocados por causa do conflito este ano, que continuam com uma “necessidade aguda” de ajuda humanitária.

A diretora-executiva do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, Henrietta Fore, recordou que o conflito persiste, mesmo poucos meses após o início das negociações de paz. Em 2020, o país que sofreu por quase 40 anos de violência, viveu “vários confrontos e níveis históricos de incidentes de segurança”.
Fore citou os “ataques em grande escala ocorridos em centros urbanos, hospitais e escolas além de assassinatos seletivos e sequestros.”
Crises
As vítimas totalizam cerca de 14 milhões de pessoas somente este ano, contra 9,4 milhões no começo do período. A expectativa é que o número suba em 2021.
A chefe do Unicef destacou três crises em curso no Afeganistão: primeiro a da violência tendo as crianças como 31% de todas as vítimas civis nos primeiros nove meses de 2020. Na crise de fome, dobrou a porcentagem de pessoas enfrentando insegurança alimentar no último quinquênio.
Por fim, Fore mencionou a crise na educação com 3,7 milhões de crianças fora da escola devido aos confrontos e mais 7,5 milhões com a pandemia da Covid-19. Para a representante, o apoio internacional pode garantir a atenção e o financiamento necessários para enfrentar estes problemas.
