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Guterres: países lusófonos têm “papel muito importante” no combate à Covid-19 BR

May Yaacoub, da ONU News, entrevista o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Nova Iorque.
ONU News/Ben Dotsei Malor
May Yaacoub, da ONU News, entrevista o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Nova Iorque.

Guterres: países lusófonos têm “papel muito importante” no combate à Covid-19

Assuntos da ONU

Em entrevista à ONU News, secretário-geral falou em português sobre a recuperação pós-pandemia e a importância de ter uma “vacina dos povos”; para o chefe da organização, cessar-fogo global e ação climática são grandes prioridades para 75ª Assembleia Geral, que começa na próxima semana. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou o “papel muito importante” que os líderes dos países de língua portuguesa podem desempenhar para combater a pandemia e ajudar na recuperação.  

Em entrevista à ONU News, para marcar a abertura da nova sessão da Assembleia Geral, Guterres falou sobre a poder de mobilização de líderes lusófonos, presentes nos quatro cantos do globo.  

Comunidade internacional 

“Temos que reconhecer que essa vulnerabilidade nos deve fazer muito mais humildes e nos deve obrigar a uma unidade e a uma solidariedade se queremos derrotar o vírus e se queremos reconstruir melhor as nossas economias. E os países de língua portuguesa têm um papel muito importante mobilizando toda a comunidade internacional em torno desses ideais.” 

Guterres: países lusófonos têm “papel muito importante” no combate à Covid-19

O secretário-geral também ressaltou a importância da cooperação global na produção de uma futura vacina contra a pandemia, que chegue a todos, e que sem isso não poderá haver recuperação. 

Vacina dos povos 

“Para que haja uma recuperação das nossas economias que seja baseada na Agenda 2030, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que tenha neutralidade de carbono em 2050, para que a ação climática tenha êxito como objetivo essencial e no combate à Covid, que garante que uma vacina seja uma vacina dos povos, uma vacina que seja um bem público global, que todos possam aceder em qualquer parte do mundo.” 

O chefe das Nações Unidas lembrou os efeitos da Covid-19, dizendo que é um vírus microscópico, mas que “pôs o mundo de joelhos.” Segundo ele, isso obriga a comunidade internacional a reconhecer sua “enorme vulnerabilidade.”  

Secretário-geral na ilha de Tuvalu, no Pacífico
Secretário-geral na ilha de Tuvalu, no Pacífico, em 2019, uma região ameaçada pela mudança climática, Foto ONU/Mark Garten

Ele afirmou ainda estar “muito preocupado” com a crise de saúde, porque mostrou “a enorme fragilidade do mundo” em várias áreas, como mudança climática, ilegalidade no ciberespaço, proliferação nuclear e desigualdade.  

Mudança climática 

Na parte da entrevista em inglês, António Guterres falou sobre mudança climática lembrando a meta do limite no aumento da temperatura de 1.5º C até o final do século. 

Para isso ser alcançado, ele diz que é necessário obter neutralidade de carbono até 2050 e uma redução de cerca de 45% das emissões na próxima década. 

E isso só será possível, segundo ele, com “um comprometimento total, principalmente dos grandes emissores, com todas as transformações em energia, agricultura, indústria, transportes, em todas as áreas de nossa vida.” 

Para o chefe da ONU é preciso alcançar o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, parar construção de usinas de carvão e investimento em novas formas de mobilidade. 

Investimento 

Os homens devem entender que é do interesse de todos ter igualdade e paridade de gênero, porque o mundo será melhor

Por causa da Covid-19, governos de todo o mundo estão investindo trilhões de dólares para recuperar suas economias, o que deve ser feito em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 

Segundo ele, a pandemia “é uma ameaça, um problema, mas também uma oportunidade para mudar na direção certa.”

Sobre o compromisso das Nações Unidas com a juventude, Guterres disse que “a nova geração é muito mais cosmopolita” do que a sua e com “uma abordagem universalista dos problemas” que compreende ser “necessário um multilateralismo mais forte, das pessoas, no qual elas possam participar da tomada de decisões.” 

O líder da ONU destacou a visão da huventude para um multilateralismo mais participativo
O líder da ONU destacou a visão da huventude para um multilateralismo mais participativo, by Foto ONU/ Mark Garten

O secretário-geral afirmou ainda que “os homens devem entender que é do interesse de todos, não só das mulheres, ter igualdade e paridade de gênero, porque o mundo será melhor.” 

Ele lembrou que que a paridade foi alcançada no nível superior das Nações Unidas e disse que esse trabalho deve agora continuar em todo os outros níveis.  

Desigualdade 

António Guterres disse que “é muito chocante, do ponto de vista da riqueza, ver que 1% da humanidade tem mais recursos do que a metade mais pobre da população mundial.” 

Ele destacou também discriminações em relação ao gênero, racismo, religião, deficiência e identidades Lgbtqi.  

Ao começar a nova sessão da Assembleia Geral, Guterres apresentou três prioridades: um cessar-fogo global, uma vacina que seja um bem público e, por fim, a reconstrução da economia em todo o mundo com o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. 

O chefe da ONU, em 2018, visitando um grupo de refugiados rohingy em Bangladesh. Igualdade de gênero é uma das prioridades de António Guterres
Unfpa Bangladesh/Allison Joyce
O chefe da ONU, em 2018, visitando um grupo de refugiados rohingy em Bangladesh. Igualdade de gênero é uma das prioridades de António Guterres