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Guterres diz que mundo pode “redesenhar a educação” na era pós-Covid-19 BR

Irmãos gêmeos na Macedônia do Norte assistem a aula na TV
Unicef/Gjorgji Klincarov
Irmãos gêmeos na Macedônia do Norte assistem a aula na TV

Guterres diz que mundo pode “redesenhar a educação” na era pós-Covid-19

Assuntos da ONU

Secretário-geral divulga novo documento político sobre consequências da pandemia e ações para recuperação; ao falar dos efeitos do novo coronavírus sobre a educação, António Guterres afirma que decisões tomadas, nesse momento, terão impacto por décadas sobre o setor.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que “a pandemia da Covid-19 levou ao maior transtorno jamais visto na educação.” 

Em seu mais novo documento político sobre regiões e temas nesse momento de pandemia, Guterres ressalta que, em meados de julho, mais de 160 países tinham suas escolas fechadas, uma medida que afetava mais de 1 bilhão de estudantes em todo o mundo.

Guterres também apelou que qualquer futura vacina seja vista como um bem público global.
António Guterres disse que esse é “um momento decisivo para as crianças e os jovens de todo o mundo”, ONU/Jean Marc Ferré

Consequências 

O chefe da ONU contou que pelo menos 40 milhões de alunos, em todo o globo, ficaram sem acesso ao pré-escolar, um período vital para o desenvolvimento das crianças.  Com a pandemia, os pais, especialmente as mulheres, tiveram que assumir novos fardos em casa.

Segundo António Guterres, esse é “um momento decisivo para as crianças e os jovens de todo o mundo.” 

Ele disse que “as decisões que os governos e os parceiros tomarem agora terão um impacto duradouro em centenas de milhões de jovens e nas perspectivas de desenvolvimento dos países nas próximas décadas.” 

Ação 

Em seu documento político, o chefe das Nações Unidas pediu ação em quatro áreas. 

Primeiro: a reabertura das escolas. A ONU está cooperando com os governos para ajudar na missão. 
Segundo: dar prioridade à educação nos orçamentos públicos. Antes da crise, os países de rendas baixa e média já enfrentavam um déficit de financiamento da educação de US$ 1,5 trilhão por ano. Agora, a quantidade aumentou.

Guterres diz que pandemia da Covid-19 levou à maior perturbação jamais vista na educação

Depois, é preciso chegar aos que são mais difíceis de alcançar e que correm maior risco de serem esquecidos. O secretário-geral destacou pessoas em emergências e crises, minorias, pessoas deslocadas e com deficiência. 

Por fim, Guterres afirmou que existe “uma oportunidade nesta geração para redesenhar a educação.” 

Segundo o secretário-geral, o mundo pode “dar um salto em direção a sistemas progressistas que ofereçam uma educação de qualidade para todos como um trampolim para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”

Leia abaixo íntegra do documento político do secretário-geral da ONU:

“A educação é a chave para o desenvolvimento pessoal e o futuro das sociedades. 
Desbloqueia oportunidades e reduz desigualdades. 
É o alicerce das sociedades informadas e tolerantes e o principal impulsionador do desenvolvimento sustentável. 
A pandemia da Covid-19 levou à maior perturbação jamais vista na educação. 
Em meados de julho, as escolas estavam encerradas em mais de 160 países, afetando mais de mil milhões de estudantes. 
Pelo menos 40 milhões de crianças, em todo o mundo, não tiveram acesso à tão importante educação pré-escolar.  
E os pais, especialmente as mulheres, foram forçados a assumir encargos pesados de cuidados em casa. 
Apesar da transmissão de aulas através da rádio, da televisão e da internet, e dos melhores esforços dos professores e dos pais, muitos alunos continuam sem acesso.  
Alunos com deficiência, aqueles que vivem em comunidades minoritárias ou desfavorecidas, estudantes deslocados e refugiados e os que estão em áreas remotas correm maior risco de serem deixados para trás. 
E mesmo para os que têm acesso ao ensino a distância, o sucesso depende das suas condições de vida, incluindo a justa distribuição de tarefas domésticas. 
Já enfrentávamos uma crise de aprendizagem ainda antes da pandemia. 
Mais de 250 milhões de crianças em idade escolar estavam fora da escola. 
E apenas um quarto das crianças do ensino secundário nos países em desenvolvimento saía da escola com competências básicas. 
Agora, enfrentamos uma catástrofe geracional que pode desperdiçar um potencial humano incalculável, minar décadas de progresso e acentuar desigualdades enraizadas. 
Os efeitos indiretos na nutrição infantil, no casamento infantil e na igualdade de género, entre outros, são profundamente preocupantes. 
Este é o pano de fundo do documento político que estou a lançar hoje, juntamente com uma nova campanha com parceiros na área da educação e com agências das Nações Unidas, chamada "Salve nosso Futuro". 
Estamos num momento decisivo para as crianças e os jovens de todo o mundo. 
As decisões que os governos e os parceiros tomarem agora terão um impacto duradouro em centenas de milhões de jovens e nas perspectivas de desenvolvimento dos países nas próximas décadas. 
Este documento pede ação em quatro áreas principais: 
Primeiro, a reabertura das escolas. 
Uma vez que a transmissão local da Covid-19 esteja sob controlo, mandar os alunos de volta para as escolas e instituições de ensino, da forma mais segura possível, deve ser uma prioridade. 
Emitimos orientações para ajudar os governos nesta missão complexa. 
Será essencial equilibrar os riscos para a saúde e os riscos para a educação e a proteção das crianças, e ter em consideração o impacto na participação da força de trabalho das mulheres. 
É fundamental consultar pais, cuidadores, professores e jovens. 
Segundo, dar prioridade à educação nas decisões de financiamento. 
Antes da crise, os países de baixo e médio rendimento já enfrentavam um défice de financiamento da educação de US$ 1,5 bilião de dólares por ano. 
Agora, este défice cresceu. 
Os orçamentos da educação têm de ser protegidos e aumentados. 
E é fundamental que a educação esteja no centro dos esforços da solidariedade internacional, com pacotes de gestão de dívidas e de estímulos, apelos humanitários globais e assistência oficial ao desenvolvimento. 
Terceiro, chegar aos que são mais difíceis de alcançar. 
As iniciativas de educação devem procurar alcançar aqueles que correm maior risco de serem deixados para trás - pessoas em emergências e crises; grupos minoritários de todos os tipos; pessoas deslocadas e pessoas com deficiência. 
Devem ser sensíveis aos desafios específicos enfrentados por meninas, meninos, mulheres e homens e devem procurar urgentemente superar a brecha digital. 
Quarto, o futuro da educação está aqui. 
Temos uma oportunidade geracional para redesenhar a educação.  
Podemos dar um salto em direção a sistemas progressistas que ofereçam uma educação de qualidade para todos como um trampolim para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 
Para o conseguir, precisamos de investimento na alfabetização digital e em infraestruturas, de uma evolução no sentido de aprender a aprender, um rejuvenescimento da aprendizagem ao longo da vida e vínculos reforçados entre a educação formal e a não formal. 
E precisamos recorrer a métodos flexíveis de aprendizagem, tecnologias digitais e currículos modernizados, garantindo, ao mesmo tempo, apoio contínuo aos professores e às comunidades. 
À medida que o mundo enfrenta níveis insustentáveis de desigualdade, precisamos da educação - o grande equalizador - mais do que nunca. 
Devemos tomar medidas ousadas agora, para criar sistemas educativos inclusivos, resilientes e de qualidade, adequados para o futuro.” 

 

Tradução: Unric-Bruxelas, Portugal Desk.

Legendagem: Unic-Rio, ONU Brasil.