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Mais de 14 mil moçambicanos retornaram da África do Sul desde início da pandemia  BR

Estrada em Tete, Moçambique
OIM Mozambique/Ana Furukawa
Estrada em Tete, Moçambique

Mais de 14 mil moçambicanos retornaram da África do Sul desde início da pandemia 

Saúde

Regresso de trabalhadores representa risco de novas infeções; agência da ONU ajuda a evitar crescimento do surto, identificando migrantes, confirmando se apresentam sintomas e informando sobre prevenção; até terça-feira, país havia notificado 35 casos de covid-19.

Em apenas alguns dias no final de março, quando a África do Sul declarou um bloqueio de suas fronteiras devido à covid-19, mais de 14 mil moçambicanos vivendo no país vizinho decidiram voltar para casa.

A maioria destas pessoas regressou às suas comunidades nas províncias do sul de Maputo, Gaza e Inhambane, de onde parte a maioria dos moçambicanos para a África do Sul.

Trabalho

Nas últimas semanas, a Organização Internacional para Migrações, OIM, ativou a sua rede de agentes comunitários para identificar estas pessoas e informar sobre medidas que deveriam ser tomadas para evitar contágios. 

Até o momento, mais de 850 migrantes foram chamados. Nenhum tinha sintomas.

Para identificar as pessoas que regressaram, os agentes comunitários usam listas de trabalhadores de minas, registros de estabelecimentos de saúde, redes comunitárias, líderes comunitários e praticantes de medicina tradicional. 

Profissionais de saúde verificam se o trabalhador ou os membros da família apresentam sintomas e dão informações sobre quarentena obrigatória e medidas de prevenção, que devem ser partilhadas com família, amigos e vizinhos. Os dados são compartilhados semanalmente com o Ministério da Saúde.

Exemplo

Um dos migrantes disse à agência que ficou “muito assustado quando soube da doença que estava matando pessoas em todo o mundo.”

O trabalhador de minas Laissane Tivane, de Inhambane, contou que ficou "surpreso” quando recebeu a ligação de um agente comunitário, explicando os sintomas e medidas de prevenção. 

O migrante disse que cumpriu a quarentena de 14 dias que foi recomendada e continua em casa com sua família, só saindo em caso de necessidade urgente. Todas as pessoas que os visitam lavam as mãos com água e sabão.

Situação

Moçambique declarou seu primeiro caso em 22 de março. Até segunda-feira, 20 de abril, tinha confirmado 35 casos, localizados na capital, Maputo, e na província de Cabo Delgado. 

A OIM diz estar preocupada com um surto do vírus em um país que já enfrenta problemas de saúde pública com HIV, tuberculose, desnutrição e doenças crônicas, especialmente hipertensão.

O supervisor de campo da OIM em Inhambane, Andre Chambal, disse que “esse esforço tem um impacto positivo porque ajuda a garantir a segurança das famílias.”

Diáspora

A iniciativa faz parte da ajuda que a OIM tem dado ao governo de Moçambique, centrada em comunidades afetadas pela migração.

Estima-se que mais de 11 milhões de moçambicanos morem no exterior, sendo a África do Sul um dos principais destinos. Empregos em mineração e agricultura são a norma para os moçambicanos vivendo no país vizinho.