Dia Internacional da Língua Materna promove ausência de fronteiras para os idiomas BR

Diversidade linguística está sendo ameaçada com desaparecimento das línguas e falta de acesso à educação no idioma original; mundo digital abriga menos de 100 línguas; secretário de Cultura da Guiné-Bissau fala à ONU News sobre planos de tornar o crioulo, língua oficial.
O mundo tem aproximadamente 6 mil línguas e 43% delas estão sob risco. O dado é da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Neste 21 de fevereiro, a Unesco celebra o Dia Internacional da Língua Materna sob o tema “Línguas Sem Fronteiras”.
A agência afirma que a diversidade linguística está sendo ameaçada com o desaparecimento da mais e mais línguas. Em todo o mundo, 40% da população não têm acesso à educação no idioma que falam ou entendem.
A transmissão de culturas, tradições e costumes também sofre quando sociedades que abrigam várias línguas deixam de existir. A cada duas semanas, uma língua desaparece levando consigo todo um patrimônio histórico-cultural.
Com a globalização, muitos idiomas ficam relegados a segundo plano. E quando uma língua começa a desvanecer, desaparece com ela também a riqueza de culturas e etnias. A morte de uma língua enterra ainda formas de pensar, expressões, memórias e oportunidades numa maneira de ver o mundo.
O resgate da identidade é uma das razões que levaram o atual secretário da Cultura da Guiné-Bissau a propor que o crioulo seja língua oficial no país. Nesta entrevista exclusiva à ONU News, de Bissau, António Spencer Embaló explica o porquê da iniciativa.
“Porque já é língua nacional, já é língua de namoro. Já é língua de transação econômica. Já é língua até de trabalho. Então, falta essa oficialização. E essa oficialização nos trará depois o reconhecimento, o reconhecimento oficial do Estado da Guiné-Bissau e o reconhecimento também dos nossos parceiros como patrimônio imaterial, que nos une como guineenses.”
Na Guiné-Bissau como nos demais países que foram, um dia, colônias de Portugal, o português é a língua oficial. Dezenas de línguas são faladas nessas nações ao lado do português, que é ensinado nas escolas.
Segundo a Unesco, poucas centenas de línguas conseguiram um espaço em sistemas educacionais. Mas menos de 100 são usadas no mundo digital.
No caso da Guiné-Bissau, dados oficiais indicam que há mais de três dezenas de línguas locais, como contou o secretário Spencer Embaló.
“Uma das nossas maiores riquezas é o facto de, praticamente, todos os grupos étnicos na Guiné-Bissau são representados também com a sua própria língua. Significa que o último recenseamento geral da população aponta 32 grupos étnicos. Podemos assumir que temos 32 línguas maternas.”
O secretário guineense lembrou que o crioulo nasceu como uma língua urbana, “mas foi se transformando numa língua nacional”.
Segundo ele, de acordo com o último censo de 1999, indicou que “98% da população comunicam-se em língua crioula”.
De acordo com António Spencer Embaló, a proposta de oficialização do crioulo deve ser levada agora ao Conselho de Ministros do país que então encaminhará o texto para o Parlamento, onde se tornará um projeto de lei, se for endossado pelos ministros.
A Unesco ressalta que as línguas são vitais para a identidade, a comunicação, a integração social, educação e desenvolvimento. A agência da ONU afirma que o processo de globalização tem colocado as línguas sob ameaça de desaparecimento.
Dia Mundial da Língua Materna é marcado desde 2000 pela Unesco para promover a diversidade cultural e o multilinguismo.
Em 2002, a Assembleia Geral decidiu declarar 21 de fevereiro Dia Internacional.