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Especialistas preocupados com protestos no Irã que podem ter matado 106 pessoas BR

Protestos começaram na semana passada depois do governo anunciar um aumento de 50% nos preços dos combustíveis e racionamento mensal de gasolina.
Unicef/Aslan Arfa
Protestos começaram na semana passada depois do governo anunciar um aumento de 50% nos preços dos combustíveis e racionamento mensal de gasolina.

Especialistas preocupados com protestos no Irã que podem ter matado 106 pessoas

Direitos humanos

Grupo de quatro relatores independentes emitiu comunicado alertando sobre casos de detenções, assassinatos e bloqueio da internet; manifestações contra aumento no preço dos combustíveis começaram na semana passada.

Quatro especialistas em direitos humanos da ONU* estão seriamente preocupados com a situação no Irã, que enfrenta uma onda de protestos desde a semana passada.

Em nota, o grupo destaca "relatos de ferimentos e assassinatos” além de suspeitas de que “as autoridades possam ter usado força excessiva contra manifestantes."

Relatório será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos em 23 de setembro.
Escritório de Direitos Humanos, em Genebra. Foto: ONU/ Jean-Marc Ferré

Relatos

O grupo diz que existem informações confiáveis de que 106 pessoas morreram entre 15 e 19 de novembro e cerca de mil foram presas. Mas o número pode ser ainda mais alto.

Os relatores ressaltam que “a força letal apenas deve ser usada quando for inevitável e somente para proteger outras vidas."

Eles pedem que as autoridades respeitem os direitos à liberdade de opinião e expressão, bem como liberdade de reunião e associação pacífica. E dizem que os manifestantes devem participar de forma pacífica.

Motivos

Os protestos começaram na semana passada depois do governo anunciar um aumento de 50% nos preços dos combustíveis, além de um racionamento mensal de gasolina.

Segundo a nota, o país enfrenta uma situação econômica difícil fruto da má administração e corrupção. Os especialistas também citaram as sanções impostas no ano passado, que “tiveram um impacto negativo sobre os direitos econômicos e sociais dos iranianos.”

Já em 2017 e 2018, o Irã enfrentou protestos sobre a situação econômica. Na altura, muitas pessoas foram presas e as comunicações interrompidas.

Teerã, capital do Irã.
ONU/Milton Grant
Teerã, capital do Irã.

Internet

Na nota, os relatores dizem que a suspensão da internet no país é uma decisão “desproporcional.”

Na quinta-feira, houve um ligeiro aumento da conectividade, mas muito limitado. Segundo eles, este tipo de ação "tem claramente um objetivo político, que é suprimir o direito dos iranianos de terem acesso à informação e de se comunicarem."

O grupo pediu ao governo que restabeleça completamente o acesso à internet especialmente durante os protestos.

Eles disseram que os avisos das autoridades sobre “medidas mais sérias”, caso os protestos continuem, são preocupantes. Para os relatores, o governo deve dialogar com manifestantes e não violar seus direitos.

Assinaram a nota o relator especial sobre a situação dos direitos humanos no Irã, Javaid Rehman, o relator especial sobre o direito à reunião e associação pacíficas, Clement Nyaletsossi Voule, o relator especial para a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão, David Kaye, e a relatora sobre execuções sumárias e arbitrárias, Agnes Callamard.

 

* Os relatores de direitos humanos têm mandato independente das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.