Banco Mundial analisa impactos sociais das inundações e alagamentos em comunidades de Porto Alegre BR

Estudo realizado com a Prefeitura da capital gaúcha revela como o desastre de 2015 e demais eventos extremos prejudicaram os mais pobres; grupo de ação nasceu a partir desse trabalho.
O Banco Mundial lançou nesta quarta-feira, em Porto Alegre, um relatório que aponta os impactos sociais provocados por inundações e alagamentos como os ocorridos na cidade em outubro de 2015.
O desastre em questão foi o segundo pior do tipo na história da capital gaúcha, atrás apenas do registrado em 1941. O resultado foram 9.500 pessoas afetadas, sobretudo as mais pobres e vulneráveis, e um dano material calculado em R$ 73 milhões, cerca de US$ 18 milhões.
O estudo foi realizado em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre e líderes comunitários. Para isso, foi realizado um levantamento em 1,5 mil domicílios de seis bairros integrantes das regiões do Orçamento Participativo de Humaitá-Navegantes e das Ilhas.
Todos se caracterizam por terem alta vulnerabilidade socioeconômica e serem suscetíveis aos desastres causados pelo excesso de água. Também foram organizadas rodas de conversa para sensibilizar a população.
Entre as pessoas ouvidas pela pesquisa, 57% tiveram as residências afetadas pelas águas. Além disso, 47% declararam que pelo menos um morador da casa perdeu dias de trabalho. Em 44% dos domicílios levantados, alguém da família sofreu um problema de acesso às aulas ou à creche.
A catadora de materiais recicláveis Núbia Vargas passou por todas essas dificuldades. Mesmo com a casa inundada, ela preferiu ficar, por medo de furtos.
“Eu acabei ficando ali mesmo, botei as coisas para cima e esperei a água sair. É o que todas fazem. Se você sai da casa é ruim, né, podem pegar, podem entrar. Mas aí no outro dia você não tem como vir trabalhar, você não tem como levar as crianças para o colégio, porque o colégio também para. Ele enche d'água. Se suspende tudo, é bem complicado.”
Além disso, o desastre afetou o acesso a itens básicos e serviços públicos, bem como a vida familiar dos moradores. Por ter uma casa alta, a aposentada Leoni Gonçalves conseguiu se proteger e ainda abrigou parentes e conhecidos. Mas não escapou de outros problemas.
“Não tinha pão, para começo de conversa. Não tinha luz, não tinha água nem telefone. Essa era a nossa dificuldade. Os amigos é que botavam carga no telefone da gente. E as coisas nas vendas não estavam tendo mais. Então, quem socorria era a Defesa Civil, as coisas que traziam para ali.”
O estudo traz diversas recomendações para amenizar os impactos sociais de inundações e alagamentos. Entre elas, criar um plano municipal de gestão de riscos de desastres e aperfeiçoar o sistema de previsão, monitoramento e alerta.
A pesquisa aconselha ainda a implementar um plano integrado de gestão de resíduos sólidos, com participação da comunidade.
O trabalho em Porto Alegre deu origem ao Grupo de Ação sobre Inundações e Alagamentos, Gaia, que une a Prefeitura e os moradores das áreas examinadas.
O Gaia pretende continuar as discussões iniciadas no âmbito do estudo e buscar formas de tornar a cidade mais resiliente aos desastres. Para isso, tomará proveito do processo do Orçamento Participativo, que desde a década de 1980 vem sendo usado pela administração municipal e pelas comunidades em Porto Alegre.
*Apresentação: Mariana Ceratti, do Banco Mundial