Guterres promete a moçambicanos: “não nos vamos esquecer de vocês”
Secretário-geral falou a jornalistas sobre desastre natural em Moçambique, Maláui e Zimbábue; ONU lançou apelo humanitário de US$ 282 milhões para apoiar 1,7 milhão de pessoas no país lusófono nos próximos três meses; acompanhe aqui a cobertura especial da ONU News.
O secretário-geral da ONU disse estar “profundamente consternado pelos níveis de sofrimento e destruição causados por uma das piores catástrofes ambientais vividas em África.”
Esta terça-feira, António Guterres falou aos jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque, sobre as necessidades de apoio aos países afetados pelo ciclone Idai, incluindo o Zimbabué e o Maláui.
A minha mensagem a todos os moçambicanos e, em particular, às populações mais afetadas pelo ciclone Idai é clara: estou convosco. Estamos juntos. O apoio das @NacoesUnidas está a ser reforçado e será duradouro. https://t.co/7901L1erSY pic.twitter.com/9ZT6EmN7Oa
antonioguterres
Moçambique vai vencer
O chefe da ONU disse que “é extremamente doloroso constatar as centenas de mortos que o ciclone Idai provocou, ver localidades inteiras alagadas, saber que casas, hospitais e escolas estão em ruínas, verificar que colheitas vitais para a alimentação das populações foram perdidas, temer as doenças e epidemias que, normalmente, surgem nestas ocasiões.”
Guterres disse que, para ele, é “pessoalmente doloroso” verificar a dimensão da calamidade “na bonita cidade da Beira” onde, no passado, foi “tão bem e tão calorosamente recebido.”
Na sexta-feira, Guterres falou com o presidente Filipe Nyusi, transmitindo “o incondicional e solidário apoio das Nações Unidas.”
Esta terça-feira, ele declarou que queria dizer às autoridades e ao povo de Moçambique e, em particular, às populações mais afetadas que “Estamos juntos!”.
Dirigindo-se aos moçambicanos, Guterres afirmou “não nos vamos esquecer de vós” e prometeu que “o apoio das Nações Unidas está a ser reforçado e será um apoio duradouro.” Quando a fase da ajuda humanitária e de emergência for ultrapassada, a ONU estará presente “no apoio aos esforços moçambicanos de retoma do caminho do desenvolvimento.”
O secretário-geral lembrou a letra d hino moçambicano, que diz que a “Pátria amada” vai vencer, e afirmou que “Moçambique vai vencer este momento especialmente difícil.”
Ajuda humanitária
Sobre a ajuda humanitária, António Guterres disse que “a Comunidade Internacional mobilizou-se na resposta à crise”, mas que os meios disponiveis “não são suficientes.”
As Nações Unidas lançaram na segunda-feira um apelo humanitário de urgência de US$ 282 milhões para Moçambique. Nos próximos dias, serão anunciadas iniciativas semelhantes para o Zimbabué e o Maláui.
Guterres afirmou que “este é o momento para traduzir em gestos concretos a nossa solidariedade.”
Apelo
O apelo das Nações Unidas deve apoiar 1,7 milhão de pessoas nos próximos três meses. A ajuda deve responder a necessidades na área alimentar, saúde, água, condições sanitárias, educação e abrigo.
O pedido soma-se a um apelo humanitário que já existia, de US$ 337 milhões, e deve também ajudar cerca de 700 mil pessoas afetadas pela seca que já afetava o país.
Também esta terça-feira, o chefe do Programa Mundial de Alimentação, David Beasley, visita as áreas afetadas para chamar atenção para o desastre.
I’ve just landed in Beira, meeting with gov’t officials and our team and assessing the damage and relief efforts. @WFP is rapidly scaling up to help 1.7 million people and we’ve deployed more than 100 additional people into the country to help. #CycloneIdai https://t.co/GReoZrN4DD
WFPChief
Em mensagem publicada no Twitter, Beasley disse que o PMA está a “aumentar rapidamente” a sua operação e que “já enviou mais 100 pessoas para o país para ajudar.”
Hospitais
A representante para Moçambique da Organização Mundial de Saúde, OMS, falou aos jornalistas em Genebra esta terça-feira.
Djamila Cabral visitou a cidade da Beira, uma das áreas mais afetadas, e disse que “a devastação é enorme.” Segundo ela, mais de 100 mil pessoas perderam as suas casas e todos os seus bens.
A representante disse que “famílias, mulheres grávidas e bebês estão vivendo em campos com condições horríveis, sem comida e bens seguro, ou água potável ou condições sanitárias.”
Cerca de 55 centros de saúde foram danificados. No Hospital Central da Beira, as cheias danificaram equipamento essencial e a unidade estava incapaz de receber pacientes. A unidade de cirurgia e a maternidade, por exemplo, foram completamente destruídas.
Neste momento, os números de mortes confirmadas pelo governo são 447, mas a representante disse esperar que “os números reais sejam muito mais elevados.”
Saúde é prioridade
Para a OMS, a saúde dos moçambicanos é a prioridade número um. A agência já começou a tomar medidas para evitar a propagação de doenças como a cólera e malária.
Djamila Cabral disse que “não podemos deixar estas pessoas sofrer um segundo desastre, devido a um surto de doenças ou falta de acesso a serviços essenciais de saúde.” Segundo ela, “estas pessoas já sofreram o suficiente.”
O diretor geral da agência pediu uma abordagem “sem remorsos”, o que significa “fazer tudo o possível para resolver a crise, investindo todos os recursos disponíveis para salvar vidas e proteger a saúde.”
A agência aumentou os seus funcionários no país com 40 especialistas em logística, epidemiologia, prevenção e resposta a surtos.
Entre as prioridades, estão a instalação de um sistema de detenção de doenças, para responder de forma rápida a suspeita de surtos.
Também estão em preparação os recursos para tratar doenças diarreicas, com cerca de 900 mil doses de vacinas orais para a cólera. Três centros de tratamento para a cólera estão sendo instalados.
Um aumento do número de casos de malária está sendo preparado com a distribuição de cerca de 900 mil mosquiteiros, testes de diagnóstico e medicamentos.
Segundo a agência, são precisos pelo menos US$ 38 milhões para realizar este trabalho nos próximos três meses.
Abrigos
A Organização Internacional para Migrações, OIM, também publicou o seu apelo esta terça-feira. A agência precisa de US$ 36,4 milhões para ajudar cerca de 600 mil pessoas até setembro.
Na Beira, cerca de 36 mil casas foram destruídas e 19 mil foram danificadas. Numa primeira fase, a OIM vai prestar abrigo de emergência a cerca de 200 mil pessoas.
Neste momento, existem cerca de 130 centros de trânsito, entra a Beira e Dondo, que acolhem mais de 109 mil pessoas.
A agência também alerta que cerca de 500 mil hectares de colheitas foram afetados, o que vai prejudicar a segurança alimentar na região nos próximos meses.