Educação em comunidades indígenas do Brasil é baseada no idioma nativo BR

Dia Internacional da Língua Materna é comemorado em 21 de fevereiro; acadêmica brasileira destaca legislação específica de ensino para povos indígenas; cineasta mexicano Alfonso Cuáron explica uso de língua do povo Oaxaca, no filme “Roma”.
Neste 21 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional da Língua Materna. A data promove a diversidade linguística e cultural e o multilinguismo. “As línguas indígenas como fator de desenvolvimento, paz e reconciliação” é o tema de 2019, que é também o Ano Internacional das Línguas Indígenas.
No Brasil existe uma educação multilíngue baseada na língua materna, principalmente no início da escolaridade. O país, que possui cerca de 300 etnias indígenas, precisou criar uma lei específica para isso.
Em entrevista para a ONU News, a coordenadora da Cátedra Unesco de Direito à Educação, Nina Ranieri, explica que em 1988 o país estabeleceu que a educação para as comunidades indígenas é bilingue, português e a língua nativa.
“Até então não havia na legislação uma preocupação com a preservação da cultura em relação ao passado e em relação ao futuro. Não basta apenas conservar o que houve, mas preservar para as futuras gerações essa possibilidade de conservar as línguas. Mas além disso, a cultura, a religião, a medicina tradicional também são preservadas através dessa educação.”
Segundo a advogada e professora, existem mais de 3 mil escolas bilíngues no Brasil. Além disso, especialmente nas universidades federais, existem cursos especiais para formar esses professores indígenas
“É um movimento que começou em 1988 e já há várias turmas de professores indígenas formados no ensino superior, e com a sua gramática própria para o ensino da língua, e assim por diante.”
O filme Roma, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, indicado a dez categorias no Oscar 2019, chamou atenção pelos diálogos em mixteca, uma língua indígena falada por mais de 300 mil pessoas no México.
Em entrevista à ONU News, o premiado cineasta revela que achava fundamental expressar as diferenças sociais e de classe que se acentuam com os povos indígenas.
Segundo ele, a ideia era explorar a existências dessas culturas que estão vivas, mas que é inevitável abordar esse tema sem explorar o contexto social.
O cineasta explica que muitas vezes a erradicação das línguas acontece com a pressão social que os indígenas recebem de geração em geração, o que acaba "não querendo que as crianças falem suas línguas nativas por medo de não se integrarem".
Pelo menos 43% das cerca de 6.000 línguas faladas no mundo estão ameaçadas. Com a globalizacao, apenas algumas centenas de línguas fazem parte dos sistemas educacionais e do domínio público. Menos de 100 são usadas no mundo digital.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, a cada duas semanas uma língua desaparece levando toda uma herança cultural e intelectual. Em todo o mundo, 40% da população não tem acesso a uma educação numa língua que fala ou compreende.
Quando as línguas desaparecem, também se perdem oportunidades, tradições, memória, modos únicos de pensar e expressar que são valiosos para garantir um futuro melhor.
As línguas, com suas implicações complexas para identidade, comunicação, integração social, educação e desenvolvimento, são de importância estratégica para as pessoas e o planeta.
Os movimentos para promover a disseminação das línguas maternas servem não só para incentivar a diversidade linguística e a educação multilingue, mas também para desenvolver uma maior consciência das tradições linguísticas e culturais em todo o mundo.