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Unicef diz que 3 milhões de crianças nasceram durante guerra no Iêmen BR

Criança no Iêmen. Foto: Unicef

Unicef diz que 3 milhões de crianças nasceram durante guerra no Iêmen

Cerca de 11 milhões de menores precisam de ajuda urgente no país; Unicef pede 312 milhões para continuar fornecendo socorro às crianças.

Monica Grayley, da ONU News em Nova Iorque.

Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, revela que desde a escalada da violência no Iêmen, em março de 2015, mais de 3 milhões de crianças vieram ao mundo no país.

O documento, “Nascido na Guerra”, detalha como as crianças iemenitas estão sendo marcadas por violência, deslocamentos forçados, doenças, pobreza e má nutrição. Esses menores também não têm acesso a serviços básicos como água, cuidados médicos e educação.

Ambiente

O estudo foi lançado nesta terça-feira em Genebra e Sanaa, capital do Iemên. A agência está pedindo US$ 312 milhões para continuar socorrendo as crianças iemenitas em 2018.

A representante do Unicef no país, Meritxell Relaño, afirmou que uma geração inteira de crianças está crescendo num ambiente violento. E que elas estão ainda sofrendo as consequências arrasadoras da guerra sem terem culpa nenhuma.

A chefe da agência da ONU no Iêmen contou que a má nutrição e as doenças estão aumentando e os serviços médicos desmoronando. E as cicatrizes da guerra ficarão com essas crianças para o resto de suas vidas.

O relatório do Unicef indica que mais de 5 mil crianças foram mortas ou feridas desde março de 2015. Uma média de cinco crianças por dia.

Mais de 11 milhões de menores precisam de ajuda humanitária, o que representa quase todas as crianças do país.

Água e saneamento

Mais da metade da população infantil não tem acesso à água potável ou saneamento básico. Já a má nutrição afeta 1,8 milhão de meninas e meninos severamente. Cerca de 400 mil sofrem da doença sob risco de morte.

De acordo com o Unicef, cerca de 2 milhões de crianças estão fora da escola por causa da guerra. E meio milhão deixaram de frequentar as aulas desde a escalada do conflito em março de 2015.

Um outro motivo de preocupação é a crise de cólera, considerada a maior do país em décadas. Casos suspeitos de cólera e diarreia foram notificados em mais de 1 milhão de pessoas. A quantidade de crianças afetadas é de 25%.

E 75% das meninas são obrigadas a se casar com menos de 18 anos.

Centros de saúde

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ONU destaca que equipes médicas não podem chegar aos feridos. Foto: Ocha/P.Kropf
Menos da metade dos centros de saúde está operando no Iêmen. E apenas uma parcela do pagamento de agentes de saúde e professores foi efetuada.

Mais de 150 escolas foram ocupadas por deslocados internos e 23 estão sob controle de grupos armados, desde setembro de 2017. 256 colégios foram destruídos pelos combates.

Antes mesmo da escalada do conflito, o Iêmen considerado o país mais pobre do Oriente Médio e um dos mais pobres do mundo já sofria com a queda da economia, a destruição de serviços de infraestrutura e com a falta de desenvolvimento.

Proteção

A maioria das crianças e das famílias sobrevivem apenas por causa da ajuda humanitária.

O Unicef pede a todas as partes do conflito, e os países que têm influência sobre a situação para priorizar a proteção das crianças. A agência sugere a solução política para o conflito, o fim da violência e as obrigações internacionais de proteger os civis especialmente as crianças durante os combates.

Além disso, a agência quer acesso incondicional para fazer passar a assistência humanitária a cada criança no país.

Ameaça

As restrições sobre importações e produtos têm de ser suspensas. Alimentos e combustíveis são essenciais para enfrentar a ameaça da fome e para manter os hospitais e os serviços vitais funcionando.

Para o Unicef, a prevenção de um fracasso absoluto dos serviços públicos inclui o acesso à saúde, à educação e ao sistema de abastecimento de água, além do pagamento de salário para professores e agentes de saúde.