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Retrospectiva 2012: Capítulo 4

Retrospectiva 2012: Capítulo 4

No último capítulo da série especial da Rádio ONU, o destaque vai para os fatos que marcaram a comunidade internacional entre outubro e dezembro.

A reportagem relembra a inauguração da Casa da ONU no Brasil, o furacão Sandy, a situação dos refugiados sírios e a morte de Oscar Niemeyer.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.

Os três últimos meses de 2012 foram marcados por conflitos, violência e perdas.  Sem dúvida alguma, uma das principais partidas desse ano foi a do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

Do alto de sua genialidade, com obras em várias partes do mundo, inclusive o próprio prédio das Nações Unidas, em Nova York, Niemeyer disse, numa entrevista à Rádio ONU, que o importante mesmo era a vida.

“Eu acho que a vida é mais importante do que a arquitetura. É a gente fazer um mundo melhor. Acho que a arquitetura é uma profissão. É isso. A gente tem que se interessar pelas outras coisas.”

Ao comentar a perda de Niemeyer, o Secretário-Geral Ban Ki-moon disse que o trabalho do arquiteto brasileiro tinha um senso “poderoso de humanismo e engajamento global.”  Já para a Unesco, Niemeyer era um artista universal.

Brasília

Ainda falando do Brasil, a  casa da ONU foi inaugurada em Brasília. O objetivo é reunir, no mesmo local, todas as agências das Nações Unidas em operação no território brasileiro.

O diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil, Unic-Rio, Giancarlo Summa, disse à Rádio ONU que ter uma Casa da ONU em Brasília tem dois valores: um operacional e o outro, um grande valor simbólico.

"Era um sonho antigo para as Nações Unidas ter uma casa comum, uma Casa da ONU em Brasília.”

Direitos Humanos

Um outro momento importante para o Brasil foi a eleição para o Conselho dos Direitos Humanos. O país voltava ao órgão que ajudou a fundar em 2006. A embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti falou sobre o assunto à Rádio ONU, logo depois da vitória.

“Estamos muito satisfeitos com o elevado nível de apoio que recebemos. Voltamos ao Conselho de Direitos Humanos com o desejo de fortalecer o trabalho coletivo, o trabalho da ONU em favor da promoção e proteção dos direitos humanos."

O novo mandato do Brasil começa em janeiro e terá a duração de três anos. Atualmente, Angola é o único país de língua portuguesa que ocupa uma vaga no Conselho.

E o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, também ganharia um sotaque em língua portuguesa com a escolha do médico Luiz Loures para a vice-diretoria-executiva do Unaids. Considerado um dos arquitetos do programa de combate à Aids no Brasil, Loures tem 28 anos de experiência em saúde e desenvolvimento.

E já na reta final do ano, um outro ritmo conhecido do carnaval brasileiro, ao lado do samba, virou Patrimônio Imaterial da Unesco.

Guiné-Bissau

E mesmo após oito meses de tentativas, a crise na Guiné-Bissau continuava na agenda das Nações Unidas à busca de uma resolução e também na lista de prioridades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp. Nesta entrevista, em setembro, logo após assumir o posto, o secretário-executivo da Cplp, Murade Murargy, citou dois pontos urgentes: a solução da crise na Guiné após o golpe de Estado em 12 de abril, e a promoção da estratégia de combate à fome nos países lusófonos, em parceria com a FAO.

“Um dos desafios que eu tenho na CPLP, por exemplo, é a visibilidade. As pessoas saberem porque a CPLP existe e para que serve.”

Refugiados da República Democrática do Congo

Já o alto comissário das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, António Guterres, disse que a agência não tem reservas disponíveis para ajudar a todos os refugiados. Guterres alertou para a tensão causada por uma combinação de conflitos novos e antigos que, só neste ano, deixaram milhares de refugiados na Síria, no Mali, e na República Democrática do Congo.

Este ano chega ao fim também com o término do mandato do ex-presidente de Portugal e presidente da Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio. Ele deve se despedir da chefia da Aliança após cinco anos de comando.

Sampaio sempre procurou levar mensagem de entendimento e consenso por todos os países que visitou. Ele falou também sobre a cooperação de  brasileiros e portugueses ao diálogo intercultural.

“Eu sinceramente tenho muito orgulho. Eu acho que brasileiros e portugueses são especialmente tolerantes. E isto é uma coisa que não se constroi com facilidade.

Meninas

Em novembro, no Dia Internacional da Menina, a ONU condenou a prática do casamento infantil, ainda muito comum entre algumas culturas.

A representante especial do Secretário-Geral sobre Violência a Crianças, Marta Santos Pais, contou à Rádio ONU, sobre algumas medidas que estão sendo tomadas para combater o problema.

“Nas montanhas do Nepal, existem pequenos conselhos, em que participam mulheres, homens e jovens, onde essas questões são debatidas na aldeia. Faz parte do seu dia-a-dia, mas a questão não fazia parte da agenda e os jovens estão a trazê-la. Não custa nenhum direito. A questão é como podemos ser criativos, utilizarmos os recursos que já temos para alcançar os melhores resultados.”

Mudanças do clima continuaram preocupantes 2012 iria terminar ainda com uma outra reunião de alto nível na ONU: a Conferência sobre Mudança Climática, COP 18, que levou à renovação da segunda fase do Protocolo de Kyoto até 2020. O novo termo foi firmado entre os países-membros e a ONU pediu a implementação os pontos acordados.

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a COP 18 abre o caminho para um acordo global em 2015.

A preocupação com o meio ambiente não é à tôa. O primeiro vice-presidente da Organização Mundial de Meteorologia, Antônio Divino Moura, fez um alerta sobre o derretimento do gelo do Mar Ártico.

Fome

Novo relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, mostrou que 870 milhões de pessoas no mundo continuam passando fome. Um em cada oito habitantes do planeta ainda sofre de má nutrição.

O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, falou à Rádio ONU que apesar dos avanços obtidos em algumas áreas, outras não tiveram a mesma sorte, como a África Subsaariana.

Em outubro, Ban Ki-moon lamentou a tragédia causada pelo furacão Sandy, que atingiu Nova York e causou muitos estragos pelo Caribe e pela costa leste dos Estados Unidos.

Ban disse que só na area metropolitana de Nova York e no litoral leste americano, mais de 100 pessoas perderam a vida. No total, 253 pessoas morreram em sete países por causa do furacão.

Os conflitos dominaram as manchetes durante todo o ano.

O Secretário-Geral condenou o ataque do Talebã a escolas de meninas no vale do Swat, no Paquistão.

O atentado feriu Malala Yousafzai, que ficou conhecida em 2009, depois de publicar um diário contando como era a vida sob o comando dos Talebãs.

Ban e o Conselho de Segurança fizeram apelo pela paz na República Democrática do Congo e pela saída imediata do Movimento 23, o M23, de Goma.

Síria

O Secretário-Geral ficou decepcionado com o fracasso do cessar-fogo na Síria. A situação no país é grave. Segundo a ONU, o número de refugiados chega a 500 mil. Muitos estão mudando para o Brasil em busca de abrigo.

Numa entrevista à Rádio ONU, o sírio Tarik Masarani, que nasceu em Homs, falou sobre a decisão de fugir para São Paulo após sua cidade natal se tornar alvo dos combates.

Refugiados sírios em São Paulo "Se eu não fugia, eu estaria morto. Minha família e eu. Seria a morte. Faltava luz, água, comida, tudo que o ser humano precisa para sobreviver."

Já um outro conflito terminou com acordo, como notou Ban sobre o Sudão e o Sudão do Sul.

O Conselho de Segurança elogiou também o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza. O confronto entre os dois lados se arrastou por vários dias.

Num dos destaques do ano, a Autoridade Nacional Palestina virou Estado Observador Não-Membro da ONU, status semelhante ao do Estado doVaticano.

Ainda em novembro, Ban Ki-moon congratulou o presidente Barack Obama pela reeleição.

Em dezembro, o Secretário-Geral lamentou a tragédia nas Filipinas causada pelo tufão Bopha, que deixou 400 mortos e ofereceu ajuda humanitária aos mais necessitados.

Ban se pronunciou também sobre um dos crimes mais bárbaros do ano: o massacre numa escola primária do Estado americano de Connecticut.

Em carta enviada ao governador Dan Malloy, Ban disse que o ataque a crianças é inimiginável e hediondo

Esperança

2012 foi, para alguns especialistas, um ano difícil, mas a esperança para 2013 veio de um menino, Dário Castro, de Angola.

Com apenas 12 anos, ele é locutor de rádio e integrante da Rede da Criança Angolana.

Dário falou à Rádio ONU sobre a preocupação das crianças em Angola serem acusadas de bruxaria, dos problemas de malnutrição e dos desafios de saúde. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas no país africano, Dário é otimista.

A esperança vem de Angola, com Dário Castro “Olho para o futuro e vejo aquele horizonte. Vejo o sorriso estampado na cara, na face, no rosto daquelas crianças que já viveram. Temos que saber viver com um dia bom e um dia mal.”

E com essas palavras de esperança do apresentador mirim angolano, Dário Castro, encerramos esta retrospectiva 2012 das Nações Unidas. Esperando também que 2013 traga um futuro de muitas oportunidades e de muito sorriso!

Apresentação e Reportagem: Edgard Júnior.

Produção: Leda Letra.

Edição: Mônica Villela Grayley.

Assistência de Produção: Denise Costa.

Técnica: Rosie Starr. 

Ouça Também:

Retrospectiva: Capítulo 1

Retrospectiva: Capítulo 2 

Retrospectiva: Capítulo 3