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ONU reforça apelo por força internacional para combater violência no Haiti

Pessoas deslocadas abrigam-se numa arena de boxe no centro de Porto Príncipe depois de fugirem de suas casas durante ataques de gangues em agosto de 2023
Ocha/Giles Clarke
Pessoas deslocadas abrigam-se numa arena de boxe no centro de Porto Príncipe depois de fugirem de suas casas durante ataques de gangues em agosto de 2023

ONU reforça apelo por força internacional para combater violência no Haiti

Paz e segurança

Chefe de direitos humanos diz que é preciso combater o “ciclo de violência que permeou todos os níveis da sociedade”; tema foi destacado por líderes que discursaram na semana de Alto Nível da Assembleia Geral; documento do secretário-geral da ONU classifica apoio externo como “indispensável”. 

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, emitiu nesta quinta-feira um apelo à criação de uma missão multinacional de apoio à segurança para ajudar a Polícia Nacional do Haiti “a combater o ciclo de violência que permeou todos os níveis da sociedade e exacerbou uma terrível situação de segurança.” 

Para Turk, a situação no país caribenho representa uma “crise de direitos” e a cada dia a “vida do povo haitiano se torna ainda mais difícil.”

Saída para o caos

Ele afirmou que “com apoio e determinação internacionais, o povo haitiano pode enfrentar esta grave insegurança e encontrar uma saída para este caos”. 

O ex-comandante da Força de Paz da ONU no Haiti, entre 2007 e 2009, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, conversou com a ONU News sobre uma possível abordagem para iniciativas de apoio externo ao país caribenho.

“A ajuda internacional, executada por qualquer organização, deve ter objetivos e orçamentos perfeitamente definidos com ampla publicidade, nível exemplar de responsabilização e coordenação pelo governo. O longo histórico de crises e interferências, não admite mais propostas de soluções já desgastadas, que não trazem benefícios concretos e duradouros ao povo do Haiti.”

O último relatório do Alto Comissariado sobre a situação dos direitos humanos no Haiti sublinha que o envio de uma missão multinacional de apoio à segurança é essencial para ajudar a Polícia Nacional a combater o crime organizado, os bandos armados e o tráfico internacional de armas, drogas e pessoas. 

Pessoas de uma comunidade afetada pela violência de gangues em Porto Príncipe fazem fila para comprar comida
PMA/Luc Segur
Pessoas de uma comunidade afetada pela violência de gangues em Porto Príncipe fazem fila para comprar comida

Apoio internacional é “indispensável”

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, é essencial “tomar medidas concretas para conter a violência e a erosão das instituições do Estado no Haiti.”

No relatório sobre o país apresentado ao Conselho de Segurança em julho, o líder das Nações Unidas afirma que é fundamental que a comunidade internacional apoie o fortalecimento da polícia nacional, combatendo o tráfico de armas e os fluxos ilícitos e fortalecendo a prevenção da violência comunitária.

Guterres ressalta que o envio de uma força não pertencente às Nações Unidas “continua a ser indispensável para apoiar os esforços policiais e criar um ambiente propício à realização de futuras eleições.”

O documento aponta que a violência relacionada com gangues continuou a aumentar e se espalhou. Os residentes de bairros controlados pelos grupos criminosos continuam a ser vítimas de violência extrema, incluindo assassinatos, ferimentos, incêndios, sequestros, desaparecimentos e restrições de movimento. 

Gravidade da situação

O perito designado pelo alto comissário sobre a situação dos direitos humanos no Haiti, William O’Neill, que visitou o país em junho de 2023, observou a gravidade da situação no terreno e a importância de primeiro estabilizar a segurança.

Entre 01 de janeiro e 15 de agosto de 2023, pelo menos 2.439 pessoas foram mortas, 902 feridas e 951 raptadas, afirma o relatório. 

A alarmante escalada da violência registada desde o início de 2023 afeta agora todos os municípios da área metropolitana da capital haitiana, Porto Príncipe, incluindo alguns locais recentemente considerados seguros.