Perspectiva Global Reportagens Humanas

Complicações na gravidez ou no parto matam uma mulher a cada dois minutos

Mulher grávida na Guatemala recebe cuidados de um profissional de saúde.
© UNICEF/Patricia Willocq
Mulher grávida na Guatemala recebe cuidados de um profissional de saúde.

Complicações na gravidez ou no parto matam uma mulher a cada dois minutos

Saúde

Moçambique está no top 10 global de redução da mortalidade materno infantil; Brasil e Portugal reportaram mais óbitos, em análise publicada pelas Nações Unidas e o Banco Mundial; taxa geral baixou 34,3% em 20 anos.

As Nações Unidas calculam que uma mulher morre a cada dois minutos devido a complicações na gravidez ou no parto. Esse quadro persiste apesar da queda em um terço das taxas de mortalidade materna em 20 anos.

Entre 2000 e 2015, o índice baixou de forma significativa, mas estagnou amplamente entre 2016 e 2020, tendo até recuado em algumas regiões.

Os serviços de cuidados maternos estão quase parados no Haiti.
© WHO/PAHO

Covid-19 e a crise econômica

A publicação Tendências na mortalidade materna 2000 a 2020 ressalta que a pandemia de Covid-19 e a crise econômica podem ter influenciado esse quadro de forma negativa.

O relatório lançado, esta quinta-feira em Genebra, indica que a taxa geral de mortalidade materna baixou 34,3% em 20 anos. Em 2000, ocorriam 339 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos, um número que chegou a 223 mortes maternas em 2020.

Quase 800 mulheres morreram por dia em 2020. Os dados são do estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, o Fundo da ONU para a População e o Banco Mundial.

Língua portuguesa

Com mais de 76%, Moçambique está entre os 10 países com a maior percentagem de redução da mortalidade materno-infantil nos primeiras duas décadas deste século. A lista é liderada pela Belarus com 95,5%.

Entre as nações lusófonas, Angola aparece com um decréscimo de 73,9%, Brasil com um aumento de 5,4%, Cabo Verde com redução de 64,5% e a Guiné-Bissau com uma baixa de 46% de óbitos de mães na hora do parto.

Portugal teve um aumento de 10,5% nesses casos, São Tomé e Príncipe baixou 17,6% e Timor-Leste teve 73% de óbitos.

PMA está em Moçambique a fornecer alimentos, nutrição e assistência aos meios de subsistência aos necessitados
WFP Mozambique
PMA está em Moçambique a fornecer alimentos, nutrição e assistência aos meios de subsistência aos necessitados

Venezuela

Nas Américas, salientam-se a Venezuela por ter registrado o maior aumento de mulheres morrendo ao dar à luz até 2020, enquanto entre 2000 e 2015 os Estados Unidos estavam em destaque.

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, embora a gravidez deva ser um momento de imensa esperança e uma experiência positiva para todas as mulheres, ainda é tragicamente chocante e perigosa para milhões em todo o mundo.

O chefe da agência diz que as estatísticas ilustram a necessidade urgente de garantir que todas as mulheres e meninas tenham acesso a serviços essenciais de saúde e a seus direitos reprodutivos.

De acordo com o relatório, entre 2016 e 2020, as taxas de mortalidade materna caíram em duas das oito regiões: Austrália e Nova Zelândia em 35% e na Ásia Central e Meridional em 16%.

A taxa aumentou na Europa e na América do Norte em 17% e na América Latina e no Caribe em 15%. Em outras regiões estagnou.

Grandes crises humanitárias

A concentração das mortes maternas continua a ser observada em regiões mais pobres do mundo e em países afetados por conflitos. Cerca de 70% dos óbitos em 2020 ocorreram na África Subsaariana, onde a taxa é “136 vezes maior” do que na Austrália e na Nova Zelândia.

Em contextos de grandes crises  humanitárias, tais como Afeganistão, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iêmen as taxas ultrapassam o dobro da média global.

As causas principais do problema, que podem ser evitáveis ​​e tratáveis,  são sangramento grave, infecções, complicações de abortos inseguros e condições subjacentes, como HIV/Aids.

Proteger a saúde

Para a OMS. é vital que as mulheres tenham controle sobre sua saúde reprodutiva. Elas devem ter decisões sobre se e quando pretendem ter filhos, para que possam planejar e espaçar a gravidez para proteger sua saúde.

A diretora executiva do Fundo de População da ONU, Natalia Kanem,  considera a taxa de mulheres que perdem a vida nessas situações como desnecessária e inconcebível.

Ela defendeu que o mundo pode e deve fazer melhor investindo urgentemente em planejamento familiar e preenchendo a escassez global de 900 mil parteiras.