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Agência da ONU apoia ações pelo fim da fístula obstétrica em Moçambique

Autoridades de saúde de Moçambique relatam pelo menos 2 mil novos casos de fístula obstétrica por ano.
Unicef/ Lara Longle
Autoridades de saúde de Moçambique relatam pelo menos 2 mil novos casos de fístula obstétrica por ano.

Agência da ONU apoia ações pelo fim da fístula obstétrica em Moçambique

Saúde

Profissionais de saúde destacam práticas pelo tratamento seguro; autoridades nacionais registram cerca de 2 mil novos casos por ano; reunião debate cuidados obstétricos de emergência, acompanhamento pré-natal e segurança durante o parto.

Autoridades de saúde de Moçambique relatam pelo menos 2 mil novos casos de fístula obstétrica por ano. Até esta sexta-feira, especialistas partilham inovações, experiências, conhecimentos técnicos e científicos para acabar com o problema ainda nesta década.

Programas relacionados com prevenção, tratamento, reabilitação e reintegração são destaque nos esforços para lidar com a condição desenvolvida entre o trato genital feminino e urinário ou reto. A principal causa é o  trabalho de parto arrastado e obstruído realizado, geralmente, sem cuidados médicos imediatos e de qualidade.

Beatriz Sebastião e Berangere Boell em Moçambique
ONU News/ Ouri Pota
Beatriz Sebastião e Berangere Boell em Moçambique

Financiamento

Falando a jornalistas, em Maputo, o representante do Fundo da ONU para a População, Unfpa, em Moçambique disse que o lema da agência é não deixar ninguém para trás. Berangere Boell revelou que o alvo é atingir avanços neste campo até 2030.

“Uma mulher que não tem uma condição física adequada não permite a ela ter uma vida normal. A fístula é uma condição relacionada com a saúde materna. E a saúde Materna é uma prioridade em Moçambique, por essa razão durante a conferência um dos objetivos é encontrar novas soluções, parceiros. Nós precisamos também de apoio financeiro para continuar a luta contra a fístula.”

Como parte da campanha global para acabar com a fístula, o Unfpa também fortalece a saúde reprodutiva e os cuidados obstétricos de emergência para evitar que ocorra um primeiro episódio desta condição.

Beatriz Sebastião era aluna quando teve uma gravidez indesejada aos 14 anos.
ONU News/Ouri Pota
Beatriz Sebastião era aluna quando teve uma gravidez indesejada aos 14 anos.

Estigma

Foi durante o trabalho de parto que perdeu o bebê. Ela conta que foi a partir desta situação que o estado de saúde degradou.

“Tudo que eu consumia saía. A família viu que já passamos pelo hospital, optou por outras soluções: a tradição. Vivi com a doença durante seis anos. Eu estudei até 10ª. classe, mas no meio dessa classe já não estava a aguentar. E onde eu sentava cheirava mal, as pessoas começavam a dizer aqui esta cheirar mal, isso me deixava tímida, acabei desistindo.”

Sonhos

Hoje com 34 anos, Beatriz Sebastião está curada da fístula obstétrica depois de passar por uma intervenção cirúrgica. A alegria e vontade de viver e sonhar não como conter.

“Meu sonho na vida é ser enfermeira, médica para também ajudar outras mulheres que estão a sofrer com esta doença: fístula obstétrica. A mensagem que deixo para as mulheres é que tenham coragem e paciência, porque é uma doença que não cria dores, mas incomoda. Alertar as pessoas que não podemos humilhar, é uma mulher como nós, apesar de estar com a doença, não deixamos de ser mulher. Peço que elas se dirijam ao hospital o mais rápido possível.”

Mitos

Para o diretor da ONG Focus Fístula Moçambique, Igor Vaz, para além dos problemas de cobertura sanitária que o país enfrenta, há necessidade de mais conscientização das populações sobre aspetos básicos. O especialista em urologista é também cirurgião de fístula obstétrica.

“Casamentos prematuros, as gravidezes prematuras, problemas sobre tradições...Muitas destas mulheres quando criam a fístula pós-parto por trabalho arrastado são criticadas por conceitos tradicionais, feitiçaria, dizem que estão ligados aos castigos de Deus, enquanto, isto é, na verdade um problema de assistência ao parto.”

A fístula obstétrica pode ser prevenida, através do acesso a cuidados obstétricos de emergência, e acompanhamento pré-natal e de parto seguro.

Estima-se que mais de 2 milhões de mulheres em África Subsaariana, na Ásia, na região árabe, e na América Latina e Caribe estejam a viver com fístula, e cerca de 50 mil a 100 mil novos casos ocorrem anualmente.

De Maputo para ONU News, Ouri Pota