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Entidades da ONU fazem apelo por ajuda nos cinco anos da crise dos rohingyas BR

Crise dos rohingyas teve início na noite de 24 de agosto de 2017 e durou várias semanas
Unicef/Siegfried Modola
Crise dos rohingyas teve início na noite de 24 de agosto de 2017 e durou várias semanas

Entidades da ONU fazem apelo por ajuda nos cinco anos da crise dos rohingyas

Ajuda humanitária

Acnur revela que 1 milhão de apátridas de Mianmar vivendo em Bangladesh precisam de assistência humanitária; especialista independente pede responsabilização dos militares birmaneses que provocaram o êxodo; OIT fala de perseguição direcionada que limita atuação de grupos de apoio a trabalhadores e migrantes.

O êxodo de mais de 700 mil pessoas da minoria rohingya, do Mianmar para o Bangladesh, completa cinco anos nesta semana.

O secretário-geral António Guterres disse que após a tomada do poder militar, em fevereiro de 2021, a situação humanitária, de direitos humanos e de segurança em Mianmar piorou. Ele considera fundamental que a comunidade internacional continue a buscar soluções abrangentes, duradouras e inclusivas para a crise.

Auxílio

A ONU quer ter acesso humanitário e de desenvolvimento nas áreas afetadas para atuar com seus parceiros. Guterres destacou que os autores de todos os crimes internacionais cometidos em Mianmar devem ser responsabilizados e que “a justiça para as vítimas contribuirá para um futuro político sustentável e inclusivo para o país e seu povo”.

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, pediu mais apoio internacional para o movimento que agora foi oficialmente declarado como uma “uma situação prolongada” de pessoas buscando abrigo. A superlotação afeta quase 1 milhão de rohingyas apátridas que dependem totalmente de assistência humanitária para sobreviver em território bengalês.

Sem a possibilidade de voltar para casa, eles vivem confinados em condições precárias, muitas vezes sem segurança e nem meios de subsistência.

 

Superlotação em acampamentos afeta quase 1 milhão de rohingyas apátridas que dependem totalmente de assistência
Acnur/Amos Halder
Superlotação em acampamentos afeta quase 1 milhão de rohingyas apátridas que dependem totalmente de assistência

 

O relator especial da ONU sobre a situação em Mianmar, Tom Andrews, afirmou que os rohingyas em Bangladesh continuam traumatizados após assistiram a morte de seus entes queridos, a perda de suas comunidades, casas e a tentativa de destruição da identidade.

Rakhine

Andrews pediu maior apoio global para reforçar o auxílio aos rohingyas instalados em acampamentos bengaleses com “fundos robustos que garanta acesso a serviços de qualidade, incluindo humanitários, assistência médica e educação até que possam voltar para casa”.

Após os atos violentos no estado birmanês de Rakhine, o especialista defende mais esforços para “responsabilizar os autores e que seja feita justiça aos rohingyas dentro e fora de Mianmar”. O perito destaca ter passado “da hora de toda a comunidade internacional chamar esses ataques pelo que eles são – genocídio.”

O relator ressalta que os militares birmaneses ainda não foram responsabilizados pela morte de milhares de rohingyas e o deslocamento de mais de 700 mil para Bangladesh.

A crise dos rohingyas teve início na noite de 24 de agosto de 2017 e durou várias semanas. Andrew ressalta que forças birmanesas planejaram e executaram ataques que resultaram “no assassinato generalizado e direcionado de civis rohingyas, incluindo violência sexual sistemática e saques, incêndios e destruição de aldeias inteiras”.

Ele disse que esse momento não marcou o início dos ataques contra os rohingyas. Antes de 2017, missões de apuração de fatos no estado de Rakhine revelaram que os rohingyas viviam oprimidos com seus direitos básicos sendo negados.

O campo de refugiados de Kutupalong em Cox's Bazar, Bangladesh, é um dos maiores do mundo e hospeda centenas de milhares de rohingyas que fugiram da violência em Mianmar
Ocha/Vincent Tremeau
O campo de refugiados de Kutupalong em Cox's Bazar, Bangladesh, é um dos maiores do mundo e hospeda centenas de milhares de rohingyas que fugiram da violência em Mianmar

 

Em meio a execuções de ativistas, prisões de líderes eleitos e atrocidades, ele disse que é essencial que “de uma vez por todas, a comunidade internacional responsabilize os militares”. Andrews lançou um apelo à comunidade internacional para que faça sua parte e possa “encaminhar a situação em Mianmar ao Tribunal Penal Internacional sem demora e pressionar ao máximo esses militares por meios econômicos e diplomáticos.

Segurança e Proteção

Um relatório das Nações Unidas indica que sindicatos e organizações da sociedade civil do país enfrentam a ameaça de extinção sob a administração militar que assumiu o poder no golpe. Eles sofrem com violência, prisões arbitrárias, invasões, apreensões, ameaças telefônicas e vigilância desde a tomada do poder pelo general Min Aung Hlaing em fevereiro de 2021.

A Organização Internacional do Trabalho, OIT, revela  haver “perseguição direcionada” a grupos que ajudam trabalhadores e migrantes. A situação “limitou substancialmente sua capacidade de operar” e obrigou a fazer mudanças em seu trabalho para garantir segurança e proteção.

Várias entidades do ramo foram banidas desde o golpe. Aquelas que não foram oficialmente incluídas na chamada “lista negra” têm seus líderes presos sob o pretexto de “causarem medo, espalhar notícias falsas ou agitar” o público.

Refugiados rohingyas chegando em Aceh, na Indonésia, depois de meses no mar
OIM/Said Rizky
Refugiados rohingyas chegando em Aceh, na Indonésia, depois de meses no mar