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Em Moçambique, refugiados apostam na agricultura para prover renda e subsistência BR

Samuel Mujyambere, do Burundi, apostou na banana como cultura principal
Ouri Pota
Samuel Mujyambere, do Burundi, apostou na banana como cultura principal

Em Moçambique, refugiados apostam na agricultura para prover renda e subsistência

Migrantes e refugiados

País possui cerca de 28 mil refugiados; mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas a força devido conflitos e ciclones que atingiram o país; este número inclui refugiados que buscam asilo e deslocados internos.

Neste Dia Mundial do Refugiado, a ONU News acompanhou a visita do vice representante da Agência da ONU para Refugiados em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, a dois projetos agrários de agricultores refugiados, situados no distrito de Boane, província de Maputo.

Anjum conheceu as plantações do produtor Baraka Patrice, de Burundi. Ele está refugiado em Moçambique desde 2004 e passou pelas províncias de Nampula e Zambézia. Em 2006, veio a cidade de Maputo em busca de melhores condições de vida.

A ONU News acompanhou a visita do vice representante da Agência da ONU para Refugiados em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, a dois projetos agrários de agricultores refugiados
Ouri Pota
A ONU News acompanhou a visita do vice representante da Agência da ONU para Refugiados em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, a dois projetos agrários de agricultores refugiados

Agricultura como alternativa

Baraka Patrice conta que foi em 2011 que desistiu do comércio de produtos alimentares de primeira necessidade para se dedicar a agricultura.

“Quando vi que o trabalho de plantio estava andar bem, eu pensei em voltar a escola, comecei na sétima classe, frequento às aulas a noite. Agora, estou a frequentar a décima segunda classe. Já comprei terreno, construí casa, casei aqui mesmo, já tenho filhos. Próximo ano darei continuidade a décima segunda classe porque neste momento tenho por concluir três disciplinas em falta; vou concluir próximo ano, para depois ingressar na universidade e sair como técnico agrónomo”

Assim como Baraka Patrice, muitos outros refugiados buscaram na agricultura uma alternativa para prover renda e sustentar a família.

Anjum conheceu as plantações do produtor Baraka Patrice, de Burundi
Ouri Pota
Anjum conheceu as plantações do produtor Baraka Patrice, de Burundi

Plantação de Bananas

Samuel Mujyambere, de Burundi, e seu amigo Gakwaya Viateur, de Ruanda, apostaram na banana como cultura principal. Segundo Samuel, inserir a fruta na alimentação é uma recomendação médica e auxilia com diversas doenças.

“Andamos a produzir pouco, agora chegamos à área de cinco hectares de banana produzida aqui em Boane, os nossos clientes são pessoas da Nigéria, Bangladesh, indianos, chineses, mas agora já temos clientes moçambicanos que já provaram a banana e pessoas com diabetes e tensão são recomendados pelos médicos para consumirem esta produção de banana.”

Samuel ainda destaca que a escolha pela cultura se deu pelas múltiplas possibilidades de consumo da banana na cozinha.

“Como vimos muita gente doente com problema de tensão, diabetes e a maioria de conterrâneos também teve esse problema, pensamos em mandar esta planta de banana em países diferentes para produzirmos em Moçambique. É uma planta ajuda na saúde, é muito usada na gastronomia e tem quase vinte maneiras de preparar este tipo de banana.”

Hoje com 42 anos, Samuel Mujyambere e Gakwaya Viateur trabalham lado a lado, com a ajuda de suas famílias.

Dificuldades dos refugiados

O vice representante do Acnur em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, disse estar satisfeito com o trabalho desenvolvido pelos refugiados.

Ele lembrou o momento em que também era refugiado e disse identificar se com o espaço do campo onde a lama tomava conta dos pés e da roupa do seu pai.

Para Anjum, é urgente que a sociedade tome consciência de que os refugiados não apenas buscam proteção e abrigo em determinado país, mas também trazem oportunidades de emprego para a população local, partilhando o conhecimento, o que contribui para desenvolvimento da economia de Moçambique.

O vice representante da Agência da ONU para Refugiados em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, com Baraka Patrice
Ouri Pota
O vice representante da Agência da ONU para Refugiados em Moçambique, Zulqarnain Hussain Anjum, com Baraka Patrice

Operações de 2022

De acordo com as estatísticas da ONU, Moçambique tem mais de 29,8 mil refugiados, sendo 25 mil são requerentes de asilo. Do total de refugiados, 25% são crianças. Para as operações de 2022, a agência precisa de cerca de US$ 36,7 milhões. Até maio, o financiamento chegou em apenas 20%, ou US$ 7,3 milhões.

Dentre várias atividades, o Acnur ajuda as famílias que desejam regressar ao seu país de origem para o fazer em segurança e dignidade. O processo é conduzido em conjunto com o Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados, Inar, o serviço nacional de migração, Senami e as representações de países de origem em Moçambique.

De setembro 2021 a junho deste ano, 148 indivíduos regressaram aos seus países de origem nomeadamente Burundi, República Democrática do Congo e Ruanda.

De Maputo para ONU News, Ouri Pota