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Para o Unicef, “novo normal é retornar as crianças às salas de aula”, mas 23 países ainda resistem BR

Cerca de 147 milhões de crianças perderam mais da metade de aulas presenciais nos últimos dois anos
Unicef/Maria Wamala
Cerca de 147 milhões de crianças perderam mais da metade de aulas presenciais nos últimos dois anos

Para o Unicef, “novo normal é retornar as crianças às salas de aula”, mas 23 países ainda resistem

Saúde

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, destaca que nessas nações, as escolas não foram totalmente reabertas após a pandemia; com isso, 405 milhões de alunos e alunas ficam fora do ensino. 

A educação de meninas e meninos em todo o mundo corre o risco de se tornar o “grande divisor”, quando a pandemia da Covid-19 entra pelo terceiro ano. O alerta foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

A situação deve levar a um grande êxodo escolar, quando as crianças abandonam o colégio. 

Abandono 

A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, destaca que mesmo antes da crise de saúde as crianças mais marginalizadas estavam ficando para trás.

Reabertura segura de escolas no nordeste do estado do Rio Grande do Norte, no Brasil
© UNICEF/Alessandro Potter
Reabertura segura de escolas no nordeste do estado do Rio Grande do Norte, no Brasil

 

Além da necessidade de volta às aulas, Russell diz que é preciso avaliar onde as crianças “estão em seu aprendizado, fornecer-lhes o apoio intensivo de que precisam para recuperar o que perderam e garantir que os professores tenham os recursos de treinamento e aprendizado de que precisam.”

A agência estima que 147 milhões de crianças perderam mais da metade de aulas presenciais nos últimos dois anos. O total de horas equivale a 2 trilhões.

Outro problema é a falta de interação entre crianças, professores e colegas. Os danos ao aprendizado podem ser permanentes.

Meninas

Catherine Russell aponta ainda “a crescente desigualdade no acesso à aprendizagem significa que a educação corre o risco de se tornar o maior divisor, não o maior equalizador. Quando o mundo deixa de educar seus filhos, todos nós sofremos”.

Crianças e adolescentes foram afetados com encerramento das escolas.
Unicef/Schverdfinger
Crianças e adolescentes foram afetados com encerramento das escolas.

 

Muitas crianças não retornaram à escola apesar da reabertura. Isso ocorreu em países como Libéria, África do Sul, Uganda, Maláui e Quênia. 

Cerca de 43% das escolas públicas liberianas permanecem fechadas desde dezembro de 2020. 
Na África do Sul, menores fora da escola triplicaram em 16 meses.

Em Uganda, cerca de 10% deles não voltaram à escola em janeiro passado, depois de dois anos de escolas fechadas. 

No caso malauiano, a taxa de evasão de meninas no ensino médio aumentou 48% entre 2020 e 2021. 

Sociedade

Uma pesquisa com 4 mil quenianos constatou que 16% de alunas e 8% dos alunos entre 10 e 19 anos não retornaram aos bancos escolares.

Unicef faz apelo por reaburtura de todas as escolas que ainda estão fechadas devido à pandemia
© UNICEF/Pablo Schverdfinger
Unicef faz apelo por reaburtura de todas as escolas que ainda estão fechadas devido à pandemia

 

Para o Unicef, as crianças nessa situação estão entre os mais vulneráveis e marginalizados da sociedade. Elas têm menores chances de ler, escrever ou fazer contas básicas. 

O grupo fica isolado ainda da rede de segurança oferecida pelas escolas e aumenta o risco de exposição à exploração, pobreza e privação.

Antes da pandemia, 32 países apresentavam baixo nível de aprendizagem que pode ter piorado pela perda da rotina na crise.

Matemática

Para esses contextos, o atual ritmo de aprendizagem é tão lento que levaria sete anos para que a maioria das crianças em idade escolar recupere as habilidades básicas de leitura perdidas em dois anos. 

Da mesma forma, a agência calcula que seria preciso um total de 11 anos para que o grupo adquira aptidões básicas de matemática.

Encerramento contínuo de escolas continua a colocar as meninas em risco de gravidez na adolescência e casamentos forçados
Unicef/Mauricio Bisol
Encerramento contínuo de escolas continua a colocar as meninas em risco de gravidez na adolescência e casamentos forçados

 

Em muitos casos, o Unicef diz não haver garantia de que menores em idade escolar tenham aprendido o básico. 

No grupo de nações examinadas, um quarto dos alunos da 8ª série não tinha capacidade de leitura básica na idade de 14 anos. 

Mais da metade não possuía as habilidades matemáticas esperadas de um aluno da segunda série, com cerca de sete anos.