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"Percebi que precisava perdoar", diz professora na Colômbia após Acordos de Paz BR

A reintegração de ex-combatentes das Farc na sociedade civil está sendo facilitada em um local na pequena cidade de Llano Grande em Dabeiba, Colômbia
Unmvc/Esteban Vanegas
A reintegração de ex-combatentes das Farc na sociedade civil está sendo facilitada em um local na pequena cidade de Llano Grande em Dabeiba, Colômbia

"Percebi que precisava perdoar", diz professora na Colômbia após Acordos de Paz

Paz e segurança

Mariela López falou à ONU News sobre escolha para sobreviver aos efeitos de um conflito de mais de cinco décadas entre tropas do governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo, Farc-EP; ONU News está em Llano Grande, que recebe visita do secretário-geral António Guterres no quinto aniversário dos Acordos de Paz.

O chefe da ONU inicia nesta semana uma viagem oficial à Colômbia para marcar o quinto aniversário dos Acordos de Paz de Havana para o país sul-americano.
António Guterres se reúne com representantes do governo e da sociedade civil e tem uma visita marcada ao vilarejo de Llano Grande, considerado um exemplo de coexistência, pacificação e reconciliação.

Harmonia e medo

A comunidade tem 150 habitantes e está localizada no Departamento de Antióquia. O jornalista da ONU News, Antonio Lafuente, que está no local, conversou com a professora, Mariela López, que fez um trabalho de sociabilização com alunos e moradores para demonstrar que muitos mesmo identificados como agressores eram na realidade vítimas do conflito, que durou mais de cinco décadas.

Constructoras de paz | Mariela López, vereda Llano Grande, en Dabeiba, Antioquia

Bandeira branca

A professora diz que foi preciso erguer uma bandeira branca e ensinar às crianças, todas vítimas do conflito, que era importante recomeçar e aprender a conviver de novo. Ela mesma chegou à conclusão que precisava perdoar para sobreviver e resgatar toda a comunidade.

Em Llano Grande vivem ex-integrantes do grupo rebelde Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, Farc-EP, que firmou os acordos com o governo. Também vivem ali, camponeses, militares e policiais. 

Uma das moradoras do local, Luzmila Segura, de 67 anos, lembrou que sentia medo da violência, antes da paz, ao ver as pessoas armadas. Hoje, ele vive numa casa doada e diz que existe harmonia como um bom relacionamento geral. A história de Jairo Puerta Peña é semelhante à de muitos ex-guerrilheiros na Colômbia.

 Um soldado em um antigo campo de guerrilha das Farc em Dabeiba, Colômbia
Unmvc/Esteban Vanegas
Um soldado em um antigo campo de guerrilha das Farc em Dabeiba, Colômbia

Rajadas

Recrutado aos 14 anos, ele tem quase 60 hoje. Somente após os Acordos de Paz, pôde mudar de vida. Atualmente, estuda para se tornar pedreiro e afirma que a vida é mais tranquila agora que ele pode estar com a família, trabalhar e dormir sem escutar tiros ou rajadas de helicópteros transportando tropas.

A Missão de Verificação da ONU na Colômbia e as agências da ONU se juntaram no país em apoio aos cidadãos e governos locais após os Acordos de Paz. Treinamento profissional, suporte técnico a pequenos produtores no setor agrícola e outras ações têm facilitado o retorno de muitos à normalidade após cinco anos de conflitos e violência.

Passos

A ONU estima que 80% dos moradores do Departamento de Antióquia foram vítimas do conflito armado. Muitos grupos se beneficiaram da economia da região com minério ilegal, cultivo de folhas de coca e outras atividades. Para os entrevistados, a apoio da ONU é fundamental para acompanhar os passos da verificação e da reconstrução após o conflito.

No total, as Nações Unidas estão atuando em pelo menos 15 projetos desde a fabricação de sabão até cultivo de peixes, educação, confecção, alimentação e agricultura.

Lucila, agricultora e vítima do conflito, do lado de fora de sua casa, reconstruída após o processo de paz na Colômbia
Unmvc/Esteban Vanegas
Lucila, agricultora e vítima do conflito, do lado de fora de sua casa, reconstruída após o processo de paz na Colômbia

Término

Mesmo assim, muitos moradores dizem que em outras partes do Departamento, ainda há um longo caminho a percorrer para mais integração e também término de obras de infraestrutura como ruas e rodovias.

Desde 2017, Antióquia já registrou 30 homicídios e quatro desaparecimentos, a maioria de homens. Em outras partes da Colômbia, como o Departamento de Chocó, a situação é considerada alarmante pelo Escritório de Direitos Humanos por causa de “graves violações” que seguem ocorrendo como recrutamento de menores, suicídio de crianças vítimas de violência sexual e o deslocamento de mais de 5 mil pessoas por causa da violência. Estima-se que mais de 30 mil estejam confinadas ainda com medo do futuro.
 
*Antonio Lafuente, enviado especial à Colômbia.