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Representantes da ONU alarmadas com aumento da violência a civis em Moçambique   BR

A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas
Acnur/Martim Gray Pereira
A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas

Representantes da ONU alarmadas com aumento da violência a civis em Moçambique  

Paz e segurança

Em nota conjunta, três representantes especiais do secretário-geral alertam para situação de mulheres e crianças; escalada do conflito nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas; em 24 de março, terroristas atacaram a cidade de Palma matando dezenas de pessoas. 

Três altas funcionárias da ONU estão preocupadas com a rápida degradação da situação humanitária em Cabo Delgado, Moçambique, devido à escalada da violência causada pelos combates entre as forças de segurança do Estado e grupos armados não-estatais. 

O comunicado é firmado pela representante especial do secretário-geral para Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba, a representante especial para Violência Sexual em Conflitos, Pramila Patten, e a representante especial para a Violência a Crianças, Najat Maalla M'jid.  

Relatos 

Em declarações à ONU News, o porta-voz da representante especial para a Violência a Crianças, Miguel Caldeira, destacou algumas das violações que aconteceram nas últimas semanas.  

“Os relatos sobre os níveis de violência sem precedentes em Cabo Delgado, especialmente os assassinatos, decapitações e sequestros de civis, incluindo mulheres e crianças muito jovens, são absolutamente chocantes e, por isso, instamos todos os extremistas e outros grupos armados que operam em Moçambique a cessarem, imediatamente, todos estes atos de violência contra a população civil, especialmente aqueles que são perpetrados contra crianças e mulheres.” 

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Apelos 

Segundo as representantes, o governo de Moçambique deve cumprir seu dever de proteger a população contra atrocidades e atos de violência, bem como prevenir, investigar e punir todos esses atos de violência.  

Miguel Caldeira destacou ainda outros apelos feitos no comunicado das três representantes especiais. 

“Reiteramos ainda o apelo do secretário-geral e da representante da ONU em Moçambique para que todas as partes garantam o acesso seguro e desimpedido às organizações humanitárias para o fornecimento tão necessário da assistência, sobretudo aos deslocados e aos sobreviventes destes atos brutais.” 

Crianças 

A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas. 

A violência em Cabo Delgado entre terroristas e extremistas islâmicos e tropas do governo começou em 2017. 

Deslocados fazem fila para obter água em Metuge, província de Cabo Delgado, em Moçambique
Unicef/Mauricio Bisol
Deslocados fazem fila para obter água em Metuge, província de Cabo Delgado, em Moçambique

De acordo com a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, cerca da metade dos deslocados são crianças. 

Meninos e meninas são particularmente afetados pela crise e correm maiores riscos de sofrer graves violações, com relatos de recrutamento e uso por grupos armados, violência sexual, sequestro e acesso interrompido à assistência humanitária e educação.  

Palma 

Em 24 de março, os terroristas atacaram a cidade de Palma, perto da capital de Cabo Delgado, Pemba, matando dezenas de pessoas. Muitos fugiram pelo mato com apenas a roupa do corpo. Várias crianças fugiram da cidade desacompanhadas, como relatou o Unicef. 

No comunicado conjunto, as representantes pedem que todos os sobreviventes, especialmente crianças e mulheres, recebam ajuda médica e psicossocial e instam a todas as partes a prevenir mais hostilidades e a defender a proteção de todos os direitos humanos.  

Elas destacam ainda o “papel crucial” das organizações regionais e apelam à comunidade internacional para apoiar os esforços de paz e dar assistência à população.  

Representante especial do secretário-geral para a Violência a Crianças, Najat Maalla M'jid
Foto: ONU/Jean-Marc Ferré
Representante especial do secretário-geral para a Violência a Crianças, Najat Maalla M'jid

Crise 

Segundo o Escritório de Coordenação para Assistência Humanitária, Ocha, mais de 3,3 mil pessoas fugindo da violência em Palma chegaram aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba. Milhares de outras pessoas estão a caminho a pé, de barco e de ônibus para locais mais seguros. 

Os deslocados estão chegando aos seus destinos exaustos, traumatizados, feridos e necessitando de atenção médica urgente e apoio psicossocial. 

Muitas pessoas relataram ter visto seus familiares mortos e disseram que tiveram que se esconder no mato por vários dias, sem comida ou água, para escapar dos atacantes armados. 

O Ocha informa ainda que os parceiros humanitários continuam apoiando os deslocados nos pontos de chegada, mas afirma que o financiamento é “extremamente baixo.”