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O que é a Rede Zero Carbono e qual a sua importância?   BR

 57/5000 Emissões em um complexo industrial em Toronto, Canadá
Foto ONU/Kibae Park
57/5000 Emissões em um complexo industrial em Toronto, Canadá

O que é a Rede Zero Carbono e qual a sua importância?  

Clima e Meio Ambiente

A Rede Zero significa que não adicionaremos novas emissões à atmosfera. As emissões de dióxido de carbono, CO2, continuarão, mas serão equilibradas pela absorção de uma quantidade equivalente da atmosfera. 

Praticamente, cada país assinou o Acordo de Paris sobre Mudança Climática, que estabelece que a temperatura global permaneça1,5°C acima dos níveis da era pré-industrial. Mas se continuarmos lançando as emissões, que causam as mudanças climáticas na atmosfera, a temperatura continuará a subir bem além desta marca, que ameaça a vida a subsistência de todas as pessoas no mundo. 

Por isso, um maior número de nações estão se comprometendo a alcançar a neutralidade em carbono ou a “Rede Zero” em emissões dentro das próximas décadas. É uma grande tarefa, que requer ações ambiciosas que devem começar agora. 

O objetivo é chegar à Rede Zero até 2050, mas os países precisam mostrar como vão chegar lá. Os esforços para atingir a Rede Zero precisam ser complementados com adaptação e medidas de resiliência, e a mobilização do financiamento do clima para países em desenvolvimento. 

Sociedades disfuncionais colocam as pessoas e o planeta em rota de colisão

Como o mundo deve chegar à Rede Zero? 

A boa notícia é que a tecnologia para se chegar lá existe e não é cara. 

Um elemento-chave é transformar as economias com energia limpa, substituindo o carvão poluente e usinas de gás e combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia como fazendas que utilizam energia solar e eólica. 

Esta é uma receita para reduzir, de forma dramática, as emissões de CO2. Além disso, a energia renovável não é só mais limpa, mas também mais barata que combustíveis fósseis. 

Uma inteira mudança para o transporte elétrico gerado pela energia renovável também desempenharia um grande papel em reduzir as emissões com o bônus de cortar a poluição do ar nas maiores cidades do mundo. Os veículos elétricos estão se tornando, rapidamente, mais baratos e mais eficientes.  

E muitos países incluindo aqueles comprometidos com a Rede Zero propuseram planos para eliminar a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis. Outras emissões prejudiciais vêm do setor agrícola (os rebanhos produzem uma quantidade substancial de metano, um gás que causa o efeito estufa). Estes níveis podem ser reduzidos se for consumida menos carne e mais alimentos derivados de planta. Aqui também os sinais são promissores, como o aumento do interesse por esses alimentos que estão sendo vendidos em grandes redes internacionais de lojas e supermercados. 

Estes carros causam menos emissões de gases de efeito estufa do que os veículos normais

O que acontecerá com as emissões remanescentes? 

A redução das emissões é extremamente importante. Para se alcançar a Rede Zero, nós precisamos encontrar formas de remover o carbono da atmosfera. Aqui, as soluções estão à disposição. E a mais importante: elas existem na natureza há milhares de anos.  

Essas soluções incluem florestas, manguezais, jazidas de turfa, solo e reservas de algas marinhas que são altamente eficientes em absorver o carbono. Por isso, a importância dos grandes esforços, feitos ao redor do mundo, para salvar as florestas, plantar árvores e reabilitar manguezais e jazidas de turfa assim como melhorar as técnicas do setor de agricultura. 

Brasil está entre os países e regiões campeões de emissões de gases que causam o efeito estufa

Quem é responsável para se alcançar a Rede Zero? 

Todos são responsáveis como indivíduos em termos de mudar de hábitos e de viver de forma mais sustentável e que cause menos danos ao planeta. Todos devem abraçar essas mudanças no estilo de vida que estão delineadas na campanha da ONU Act Now, ou Aja Agora. 

O setor privado também precisa agir e pode fazê-lo pelo Pacto Global que ajuda empresas a se alinhar aos objetivos ambientais e sociais da ONU. Está claro que a força principal para a mudança será feita em nível nacional de governo através de legislações e regulamentos que reduzam as emissões. 

Muitos governos estão caminhando na direção certa. Até 2021, os países que representam mais de 65% das emissões globais de dióxido de carbono e mais de 70% da economia mundial terão aderido a compromissos mais ambiciosos para a neutralidade em carbono. 

União Europeia, Japão e a Coreia do Sul juntos com mais de 110 países já prometeram neutralidade de carbono até 2050. A China diz que fará isso até 2060. 

A OMS estima que 92% da população mundial habite em áreas onde a poluição excede os limites de segurança
Banco Mundial/Lundrim Aliu
A OMS estima que 92% da população mundial habite em áreas onde a poluição excede os limites de segurança

Alguns Fatos do Clima: 

  • A Terra está agora 1,1°C mais quente que no início da Revolução Industrial.  Não estamos no caminho para alcançar as metas acordadas no Acordo de Paris, em 2015, que estipularam a permanência do aumento da temperatura abaixo de 2 °C. 

  • A década mais quente ocorreu em 2010-2019. No ritmo atual de emissões de dióxido de carbono, a temperatura global poderá crescer entre 3 e 5 graus Celsius até o final deste século 

  • Para evitar o pior cenário de aquecimento (máxima de 1,5°C de aumento), o mundo terá que reduzir a produção com fontes fósseis em cerca de 6% ao ano entre 2020 e 2030. No entanto, os países estão planejando uma média anual de aumento de 2%. 

  • A ação climática não é um estouro no orçamento ou um destruidor para a economia. Na realidade, a adaptação para uma economia verde leva à criação de empregos. Este passo abriria caminho para gerar mais ganhos econômicos na casa dos US$ 26 trilhões até 2030 se comparado com o status quo do comércio hoje. Mas este valor pode ser ainda mais alto. 

Chefe de Estado destacou impacto de mudanças climáticas em seu país e esforços para combater essa ameaça

Estes compromissos representam mais do que apenas declarações políticas?  

Estes compromissos são sinais importantes das boas intenções para se alcançar este objetivo e têm de ser apoiados por um plano rápido e ambicioso de ação. Um passo importante é providenciar planos detalhados de ação nas Contribuições Nacionalmente Determinadas ou NDCs na sigla em inglês. 

Elas definem ainda metas e ações para reduzir as emissões dentro de 5 a 10 anos. As NDCs são fundamentais para guiar os investimentos corretos e atrair o financiamento necessário. 

Até o momento, 186 Estados-partes do Acordo de Paris desenvolveram as Contribuições Nacionalmente Determinadas. Este ano, estes países devem submeter planos novos e atualizados demonstrando mais ambição e ação. 

Peixes nas Ilhas Salomão, um dos locais mais afetados pela mudanças climática

A Rede Zero é realista? 

Sim. Especialmente se todos os países, cidades e instituições financeiras e empresas adotarem os planos realistas de transição para a rede zero de emissões até 2050.  

A recuperação da pandemia da Covid-19 pode ser um ponto importante e positivo de mudança. Quando os pacotes de estímulo fiscal começarem, haverá uma oportunidade genuína de promover os investimentos de energia renovável, edifícios inteligentes, transporte público verde e uma inteira série de outras medidas que podem ajudar a diminuir o ritmo da mudança climática. 

Mas nem todos os países têm o mesmo papel na promoção desta mudança,  certo? 

Sim. É absolutamente verdade. Os maiores emissores como os países do G-20 (o grupo das 20 maiores economias do mundo) que geram 80% das emissões de carbono, em particular, precisam aumentar os níveis atuais de ambição e ação. 

Ainda é preciso ter em mente que maiores esforços são necessários para construir resiliência em países vulneráveis e para as pessoas mais vulneráveis. Eles são os que menos contribuem para a mudança climática, mas são os que arcam com os piores impactos dela. Ações de resiliência e adaptação não recebem o financiamento necessário.  

Ainda que eles caminhem em direção à rede zero, os países desenvolvidos têm que produzir os compromissos assumidos de fornecer US$ 100 bilhões por ano para mitigação, adaptação e resiliência nas nações em desenvolvimento. 

ONU quer minimizar os impactos desastrosos da mudança climática.
OMM/Jordi Anon
ONU quer minimizar os impactos desastrosos da mudança climática.