ONU alerta sobre desnutrição infantil aguda sem precedentes no Iêmen
Com mais de meio milhão de vítimas, sul do país registra recorde de taxas em menores de cinco anos; chefe humanitária no país enfatiza iminência de “situação irreversível” com risco para geração inteira de crianças.
Agências das Nações Unidas alertaram esta terça-feira que as crianças iemenitas sofrem desnutrição infantil aguda sem precedentes. A já chamada pior crise humanitária do mundo avança e o financiamento está muito aquém do necessário.
Uma em cada quatro crianças tem desnutrição aguda em algumas áreas do país que sofrem os efeitos do conflito e do colapso econômico.
Taxas
Este ano, a desnutrição atinge 587.573 menores no sul, segundo a análise da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, IPC.
O índice que atualizou o estado da insegurança alimentar na região revelou ainda que cerca de 100 mil crianças correm risco de morte e precisam de tratamento urgente.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, o Programa Alimentar Mundial, PMA, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, publicarem o comunicado com base na gravidade do caso.
O Unicef realça que as taxas de desnutrição aguda entre menores abaixo de cinco anos são as mais altas já registradas em partes do sul do Iêmen. A análise revela um aumento de cerca de 10% ocorrido desde janeiro deste ano.
Desnutrição
A avaliação foi feita nas áreas do sul do Iêmen, mas aguarda-se que estudo em curso nas áreas do norte revele tendências igualmente preocupantes.
O Unicef aponta ainda que o aumento significativo da desnutrição no sul foi de 15,5% em crianças. Com esta condição, a criança tem 10 vezes mais chance de morrer de cólera, diarreia, malária ou infecções respiratórias agudas já comuns no Iêmen.
A previsão do IPC mostra que até o final de 2020, o Iêmen enfrentará insegurança alimentar grave. O PMA chama a atenção para o fato de este número corresponder a 40% da população nas áreas analisadas, ou cerca de 3,2 milhões de pessoas.
Para a agência, essas previsões ainda estariam subestimadas, sendo “altamente provável que a situação seja pior do que o inicialmente projetado, pois as condições continuam a piorar além dos níveis previstos.”
Um dos motivos para isso é que no momento em que os dados foram recolhidos presumia-se que os preços dos alimentos estabilizassem, mas esse não foi o caso. Os aumentos foram em média de 140% acima do período anterior ao conflito.
Custos
Para os mais vulneráveis, mesmo um pequeno acréscimo nesses custos “é absolutamente arrasador.
A situação é pior do que em 2018, quando o PMA expandiu a assistência em mais de 50%. Nesse processo, foi evitada a fome. O receio é que agora os ganhos alcançados em 2018-2019 sejam perdidos à medida que o conflito piora e o declínio econômico continua.
O PMA realça que algumas famílias foram deslocadas pela terceira ou até quarta vez. Cada vez que uma família é enfrenta essa situação, a capacidade de lidar com a crise diminui e é pouco provável que se recupere.
A coordenadora humanitária da ONU para o Iêmen, Lise Grande, disse que a ONU já vem alertando desde julho que o Iêmen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica.
Geração
De acordo com a chefe humanitária no país árabe, se a guerra não acabar agora “estará iminente uma situação irreversível e o risco de se perder uma geração inteira de crianças pequenas do Iêmen”.
O financiamento ao plano de resposta humanitária para 2020 foi de 42% dos US$ 3,2 bilhões necessários. Cerca de 80% da população precisa de alguma forma de assistência humanitária e proteção, incluindo aproximadamente 12,2 milhões de crianças.
Cerca de 69% dos 333 distritos correm o risco de passar fome. A ONU realçou que continua em ação no terreno respondendo às necessidades mais urgentes, apesar do ambiente operacional difícil.