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Nações Unidas celebram 75 anos ouvindo pessoas de todo o mundo em pesquisa  BR

Assembleia Geral acolhe debate geral com novo formato: sem a presença pessoal de líderes globais.
Foto ONU: Eskinder Debebe
Assembleia Geral acolhe debate geral com novo formato: sem a presença pessoal de líderes globais.

Nações Unidas celebram 75 anos ouvindo pessoas de todo o mundo em pesquisa 

Assuntos da ONU

Evento de alto nível, nesta segunda-feira, em Nova Iorque marca aniversário da organização; resultados de consulta global revelam que 87% dos entrevistados acreditam que cooperação é vital e ainda mais urgente com pandemia de Covid-19; Assembleia Geral aprovou declaração ressaltando que “nenhuma outra organização global dá esperança a tantas pessoas”.

As Nações Unidas marcaram esta segunda-feira o seu 75º aniversário com um evento de alto nível com o tema: “O futuro que queremos, as Nações Unidas que precisamos: reafirmando nosso compromisso coletivo com o multilateralismo”. 

A iniciativa aconteceu no hall da Assembleia Geral, em Nova Iorque, obedecendo a medidas de distanciamento social para prevenir a contaminação com a Covid-19. Para marcar a data, a ONU organizou uma consulta global sobre o papel da organização no mundo. Líderes jovens pediram mais ação internacional e uma nova declaração sobre multilateralismo e cooperação foi aprovada pela Assembleia Geral.    

Secretário-geral, António Guterres, discursou no evento que marcou os 75 anos da ONU
Secretário-geral, António Guterres, discursou no evento que marcou os 75 anos da ONU, Foto ONU/Eskinder Debebe

Inquérito  

No evento, a ONU divulgou o resultado da consulta global sobre desafios e o futuro da organização. Até este 21 de setembro, mais de 1 milhão de pessoas de todo o globo haviam participado.  

Ao todo, foram mil diálogos em 82 países. Além disso, 50 mil entrevistados em 50 nações fizeram uma pesquisa independente. Opiniões de uma análise de mídia social e tradicional em 70 países foram incorporadas ao resultado. 

Em todas as regiões, faixas etárias e sociais, os entrevistados concordaram com as  prioridades para o futuro. A consulta revela um forte apelo à ação sobre desigualdades e mudanças climáticas, bem como mais solidariedade.  

Em meio à crise da Covid-19, a prioridade imediata é a melhoria de serviços básicos, como saúde, água potável, saneamento e educação, seguido por maior solidariedade internacional e maior apoio aos mais atingidos.  

As principais preocupações são a crise climática e a destruição de meio ambiente. Outras prioridades incluem maior respeito pelos direitos humanos, resolução de conflitos, combate à pobreza e corrupção. 

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A pesquisa também avaliou como os cidadãos olham para as Nações Unidas e para a sua missão.  

Mais de 87% dos entrevistados acreditam que a cooperação global é vital para lidar com os desafios atuais, e que a pandemia tornou a cooperação internacional mais urgente.

Seis em cada 10 entrevistados acreditam que a ONU tornou o mundo um lugar melhor

Seis em cada 10 entrevistados acreditam que a ONU tornou o mundo um lugar melhor. Olhando para o futuro, 74% veem a organização como “essencial” para enfrentar os desafios.

Apesar dessa visão positiva, os entrevistados desejam que a ONU mude e inove. Pedem uma organização mais inclusiva, transparente, responsável e eficaz.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou estes resultados surpreendentes. Ele disse que “as pessoas estão pensando grande” e “agora é a hora de responder a essas aspirações e realizar esses objetivos.”  

Conquistas 

Na abertura do encontro, o chefe da ONU contou que a organização “só surgiu depois de um imenso sofrimento.” 

Segundo ele, “foram necessárias duas guerras mundiais, milhões de mortes e os horrores do Holocausto para que os líderes mundiais se comprometessem com a cooperação internacional e o Estado de direito.” 

Presidente da 75ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, Volkan Bozkir também discursou no primeiro evento Momento ODSs.
Presidente da 75ª Sessão da Assembleia Geral, Volkan Bozkir, disse que organização deve responder a mudanças para permanecer relevante, ONU/Eskinder Debebe

Para o chefe da ONU, esse compromisso produziu resultados. Uma Terceira Guerra Mundial foi evitada e nunca, na história moderna, houve maior espaço de tempo sem um confronto militar entre as grandes potências. 

Guterres destacou ainda conquistas como tratados de paz e manutenção da paz, descolonização, padrões e mecanismos de direitos humanos, fim do apartheid, ajuda humanitária, erradicação de doenças, redução da fome, desenvolvimento do direito internacional e pactos para proteger o meio ambiente.  

Desafios 

Sobre os desafios que persistem, ele lembrou que, dos 850 delegados na Conferência de São Francisco, onde foi fundada a ONU, apenas oito eram mulheres. Segundo ele, “a desigualdade de gênero continua sendo o maior desafio para os direitos humanos em todo o mundo.” 

Guterres realçou ainda a mudança climática, o colapso da biodiversidade, o aumento da pobreza, o espalhar do ódio, o crescimento das tensões geopolíticas, a ameaça nuclear, desafios criados por novas tecnologias e a pandemia de Covid-19. 

Para o chefe da ONU, existe “um superávit de desafios multilaterais e um déficit de soluções multilaterais.” 

António Guterres disse que irá trabalhar em um relatório com propostas para estes desafios, mas que já conhece uma das soluções: mais multilateralismo e um multilateralismo mais eficaz.  

Ele disse ainda que “ninguém quer um governo mundial, mas deve-se cooperar em conjunto para melhorar a governança mundial.” 

Dos 850 delegados na Conferência de São Francisco, onde foi fundada a ONU, apenas oito eram mulheres

Apelo 

Já o novo presidente da Assembleia Geral, Volkan Bozkir, afirmou que “o multilateralismo não é uma opção, mas uma necessidade, à medida que se reconstrói melhor e mais verde para um mundo mais igual, mais resiliente e mais sustentável.” 

Para Bozkir, “as Nações Unidas devem estar no centro de nossos esforços”, mas não se pode esquecer que “desde que a ONU foi criada, o mundo mudou de maneiras inimagináveis.” 

O presidente disse que a organização deve responder a esses desafios e mudanças para permanecer relevante. Para ele, um dos pontos principais é consultar todas as partes interessadas, como organizações regionais e sociedade civil, setor privado, academia e parlamentares. 

Volkan Bozkir terminou com um apelo aos Estados-Membros. Ele disse que “agora é hora de mobilizar recursos, fortalecer esforços e mostrar vontade política e liderança sem precedentes.” 

Discursaram ainda no encontro, o presidente do Conselho de Segurança, Abdou Abarry, o presidente do Conselho de Segurança e o Conselho Económico e Social, Ecosoc, Munir Akram, o presidente da Corte Internacional de Justiça, Abdulqawi Ahmed Yusuf, e dezenas de representantes de Estados-membros.  

Apelo 

Quatro representantes da juventude, das Bahamas, Gana, Malásia e França, apresentaram um apelo à ação.  

No final do encontro, os países aprovaram, por consenso, uma nova declaração de apoio à missão da ONU. Segundo o texto, “não há nenhuma outra organização global com a legitimidade, poder de convocação e impacto normativo das Nações Unidas.”  

Os Estados-membros concluem dizendo que “nenhuma outra organização global dá esperança a tantas pessoas.” 

Assembleia Geral celebra 75 anos de Nações Unidas