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ONU quer mais ação global para combater tráfico de seres humanos BR

Samrawit, de 20 anos, da Eritreia, no Centro de Emergência do Acnur no Ruanda. Ela foi vítima de tráfico.
Acnur/Alissa Everett
Samrawit, de 20 anos, da Eritreia, no Centro de Emergência do Acnur no Ruanda. Ela foi vítima de tráfico.

ONU quer mais ação global para combater tráfico de seres humanos

Direitos humanos

Crime afeta dezenas de milhares de pessoas; 70% das vítimas são mulheres e meninas; uma em cada três pessoas traficadas é criança; para chefe do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc, crise da Covid-19 ampliou riscos do tráfico e dificultou meios de combate.

Este 30 de julho é o Dia Mundial contra o Tráfico Humano, um problema que atinge todo o mundo e que tem aumentado a cada ano. 

Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc, mostram que em 2018, a agência recebeu denúncias de cerca de 25 mil casos de tráfico humano, quase o dobro da média registrada em 2000, que foi de 13 mil.

Tábua de salvação

Pessoas de países de baixa renda são aos mais vulneráveis a esse tipo de crime, quase sempre associado a promessas de melhores condições de vida no exterior ou de oportunidades econômicas. 

Uma em cada três pessoas traficadas é menor de idade e 70% de todas as vítimas são mulheres e crianças. 

Uma em cada três pessoas traficadas é menor de idade e 70% de todas as vítimas são mulheres e crianças.

Neste Dia Mundial, várias agências da ONU pedem o fim do tráfico humano e destacam profissionais empenhados em combater o crime como assistentes sociais, inspetores do trabalho, agentes de saúde e trabalhadores de ONGs.

A chefe do Unodc, Ghada Waly, afirma que estes profissionais “oferecem uma tábua de salvação para as vítimas, reafirmando os direitos e a dignidade de todas as pessoas.” 

Covid-19

O Unodc gerencia o Fundo Voluntário da ONU para Vítimas de Tráfico de Pessoas, que presta assistência direta a 3,5 mil vítimas por ano em mais de 40 países. 

Segundo Ghada Waly, a pandemia de Covid-19 ampliou os perigos do tráfico com o aumento do desemprego, da pobreza, fechamento de escolas e maior interação na internet. Tudo isso, segundo ela está criando mais espaço para grupos de crime organizado. 

O fim do abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra crianças também faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O fim do abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra crianças também faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Unodc/Alessandro Scotti

A crise também sobrecarregou os serviços sociais, impactou o trabalho judiciário e dificultou a busca de ajuda pelas vítimas. 

Afronta 

A diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, Natalia Kanem, lembrou que, todos os anos, dezenas de milhares de pessoas são traficadas. 

Enquanto homens e meninos tendem a ser traficados para trabalho forçado, mulheres e meninas tendem a ser traficadas para sexo forçado. 

Kanem disse que os criminosos miram os mais pobres vulneráveis, usando de violência física e psicológica, drogas e abuso sexual como armas para controlar suas vítimas.  

Neste Dia Mundial, ela pede que os governos, forças policiais e outras autoridades redobrem seus esforços para punir os criminosos e apoiar os sobreviventes. 

Para a chefe do Unfpa, o tráfico nunca deve ser tolerado e a luta deve continuar mesmo durante a pandemia até que “esta afronta termine”.

Exploração 

Pessoas que atuam em setores essenciais, como agricultura ou transporte, foram obrigadas a trabalhar sob pressão, jornadas ainda mais longas e sem proteção

Também esta sexta-feira, a relatora especial sobre Tráfico de Pessoas, Maria Grazia Giammarinar, afirmou que “a exploração de trabalhadores desesperados nunca deve ser o novo normal.” 

Em comunicado, ela contou que este tipo de violação “aumentou de forma alarmante durante a pandemia de Covid-19 e novas medidas urgentes são necessárias nos níveis internacional e nacional.” 

Segundo ela, as pessoas que atuam em setores essenciais, como agricultura ou transporte, foram obrigadas a trabalhar sob pressão, jornadas ainda mais longas e sem proteção.

Crianças em situações de emergência ficaram mais vulneráveis às piores formas de trabalho infantil. Pessoas exploradas na indústria do sexo, principalmente mulheres e meninas, foram forçadas a passar fome e exploradas ainda mais violentamente.

Nesse contexto, a relatora especial afirma que “é necessária uma verdadeira mudança na prevenção e na luta contra o tráfico, inspirada pela agenda de direitos humanos.” 

Este ano é o 20º aniversário do “Protocolo de Palermo” da ONU, o principal instrumento internacional sobre tráfico. Para Maria Grazia Giammarinar, chegou a hora de atualizar o documento.