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Unctad: comércio ilícito causa perdas de mais de US$ 2 trilhões à economia BR

Okonjo-Iweala disse que uma das prioridades é lidar com as consequências da pandemia de Covid-19
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Okonjo-Iweala disse que uma das prioridades é lidar com as consequências da pandemia de Covid-19

Unctad: comércio ilícito causa perdas de mais de US$ 2 trilhões à economia

Desenvolvimento econômico

Segundo Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, prejuízos equivalem a mais que toda a economia do Brasil, da Itália ou a do Canadá; cifra representa mais que economias do México e da Indonésia juntas; fórum sobre o tema começa em 3 de fevereiro.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, alerta que a economia global perde mais de US$ 2 trilhões, anualmente, devido a crimes como contrabando, falsificação de produtos, tráfico de seres humanos e animais selvagens e outras formas de transações ilícitas.

Para a agência, essas atividades ilegais atrasam o progresso na agenda de desenvolvimento gloal.

Documento enfatiza o apoio das sociedades africanas de responsabilidade limitada na implementação do Plano de Ação de Viena dos Países em desenvolvimento sem litoral
Atividades ilícitas põe em risco os ODSs, by © MSC shipping

Comércio ilícito

Segundo a Unctad, o comércio ilícito drena quase 3% da economia mundial. Se fosse um país, o valor dessas transações econômicas seria maior que as economias do Brasil, da Itália e a do Canadá, separadamente, e tão grande quanto à do México e à da Indonésia combinadas.

Estas atividades colocam em risco, por exemplo, a saúde pública. A Unctad destaca que somente os medicamentos contra a malária falsificados e abaixo do padrão de qualidade e segurança causam mais de 100 mil mortes, por ano, na África Subsaariana.

Extinção

O comércio ilícito também leva espécies ameaçadas à extinção causando danos irreversíveis aos ecossistemas.

Um dos exemplos é a exploração ilegal de madeira, que tem um valor estimado anual de até US$ 157 bilhões. Este é o crime envolvendo recursos naturais mais lucrativo do mundo.

Para abordar a questão, a Unctad e a Aliança Transnacional de Combate ao Comércio Ilícito, Tracit, realizarão o primeiro Fórum sobre Comércio Ilícito, nos dias 3 e 4 de fevereiro, no Palácio das Nações, em Genebra.

O evento busca incentivar um diálogo aberto entre representantes dos Estados-membros, especialistas e observadores não-governamentais. A meta é compartilhar conhecimentos, promover a cooperação internacional de aplicação da lei, coordenar recursos e garantir que os países estejam adequadamente equipados para mitigar o comércio ilícito.

Para o secretário-geral da Unctad, Mukhisa Kituyi, “o comércio ilícito põe em risco todos os aspectos do desenvolvimento e todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs”.

Investimentos

Kituyi explica que o problema “cria uma ameaça tripla ao financiamento do desenvolvimento, afastando atividades econômicas legítimas, privando governos de receitas para investimentos em serviços públicos vitais e aumentando os custos de alcançar os ODSs, corroendo o progresso já feito.”

A Unctad afirma que a resposta internacional ao comércio ilícito é amplamente fragmentada entre muitos setores vulneráveis ​​ao problema. Por isso, é necessária uma abordagem conjunta que considere a natureza interconectada da questão, pontos em comum e pontos de convergência entre suas diversas manifestações.

A FAO irá organizar uma conferência de segurança alimentar no final deste mês em Genebra, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde, OMS, e a Organização Mundial do Comércio, OMC.
Agroalimentos falsos, abaixo do padrão, contrabandeados e ilegais custam à indústria global de alimentos entre US$30 e US$ 40 bilhões a cada ano, Masakazu Shibata

A diretora de comércio internacional da agência, Pamela Coke-Hamilton, disse que "todo país está sentindo os efeitos negativos do comércio ilícito, ressaltando a necessidade de parcerias e cooperação ampliadas entre os governos para combater esse impedimento ao desenvolvimento sustentável global."

Estado de direito

A Unctad alerta que essas atividades ilegais ameaçam o Estado de direito devido às ligações com o crime organizado. Essas vão desde as redes de tráfico de seres humanos e contrabando de tabaco até o envolvimento de grupos criminosos organizados no roubo de combustíveis e no comércio de mercadorias falsificadas.

Para a agência, ainda mais assustadores são os vínculos com o financiamento do terrorismo que aumentam as ameaças à segurança nacional e global.

O relatório revela que até 5% das mercadorias importadas para a União Europeia são falsificadas. As importações de mercadorias e produtos piratas amontam quase US$ 500 bilhões por ano.

Comida e peixe

  • Agroalimentos falsos, abaixo do padrão, contrabandeados e ilegais custam à indústria global de alimentos entre US$30 e US$ 40 bilhões a cada ano.
  • A Cote d’Ivoire, também conhecida como Costa do Marfim, perdeu cerca de 125 mil toneladas de cacau para contrabando na temporada de 2017-2018, equivalente a 9% da colheita. Para a Unctad, esta é uma perda significativa num país, onde o cacau é responsável por 20% das exportações.
  • Uma em cada quatro garrafas de álcool em todo o mundo é ilícita, representando 25,8% de todo o consumo global.
  • As perdas globais de pesca ilegal, não-declarada e não-regulamentada são estimadas entre US$ 15 bilhões e US$ 36 bilhões, representando 14% a 33% do valor global da pesca.

Saúde

  • Entre 72 mil e 169 mil crianças podem morrer de pneumonia todos os anos após receberem medicamentos ilícitos ineficazes.

Mineração

  • O comércio ilegal de metais preciosos na África do Sul é estimado em US$ 1,3 bilhão por ano, uma perda significativs no Produto Interno Bruto, PIB, nas exportações e nas balanças comerciais do país.