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ONU preocupada com morte de 107 defensores de direitos humanos na Colômbia BR

O escritório enfatiza que líderes comunitários são particularmente vulneráveis e representam mais de 70% das mortes registradas.
ONU Colombia
O escritório enfatiza que líderes comunitários são particularmente vulneráveis e representam mais de 70% das mortes registradas.

ONU preocupada com morte de 107 defensores de direitos humanos na Colômbia

Direitos humanos

Escritório de Direitos Humanos investiga outros 13 casos do ano passado e 10 novos assassinatos nas primeiras duas semanas de 2020; grupos mais atingidos atuam na área dos direitos étnicos; ataques mortais a mulheres aumentaram 50% em um ano. 

O Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU está profundamente preocupado com o número de defensores dos direitos humanos mortos na Colômbia em 2019.

Um comunicado lançado esta terça-feira destaca que 107 ativistas foram assassinados no ano passado. Nesse momento, os especialistas do escritório tentam verificar outros 13 casos, que podem subir o total para 120 mortes.

 Vista panorâmica da cidade de Bogotá, capital da Colômbia.
Vista panorâmica da cidade de Bogotá, capital da Colômbia, Unic Bogota/José Ríos

Tendência

Os ataques já tinham aumentado em 2018, quando foram confirmados 115 assassinatos. A tendência deve continuar em 2020, com pelo menos 10 casos suspeitos nos primeiros 13 dias de janeiro.

O escritório da ONU pediu ao governo colombiano que tente impedir estes ataques, investigue todos os casos e condene os responsáveis ​​por essas violações.

O comunicado destaca que as vítimas e suas famílias têm direito à justiça, à verdade e a medidas compensatórias. O escritório diz que “o círculo vicioso e endêmico de violência e impunidade deve parar.”

Regiões

A grande maioria das 107 mortes ocorreu em áreas rurais. Quase todas, 98%, aconteceram em municípios com economias ilícitas onde operam grupos criminosos. Além disso, 86% ocorreu em aldeias com uma taxa de pobreza acima da média nacional.

Mais da metade dos assassinatos ocorreu em apenas quatro províncias, Antioquia, Arauca, Cauca e Caquetá, mas foram registrados casos em 25 províncias diferentes.

Os mais atacados foram os defensores de direitos humanos na área dos grupos étnicos, como povos indígenas e afro-colombianos. Por outro lado, os assassinatos de mulheres ativistas de direitos humanos aumentaram quase 50% em comparação com o ano anterior.

O escritório afirma que “os números mostram a gravidade do problema, mas escondem as causas estruturais” dessa violência. Segundo a nota, qualquer ataque “é inaceitável e constitui um ataque à democracia, comprometendo a participação e o acesso das pessoas a seus direitos humanos.”

Duas mulheres indígenas Wayuu, em La Guajira, na Colômbia, preparam uma refeição
Duas mulheres indígenas Wayuu, em La Guajira, na Colômbia, preparam uma refeição, UNIC Bogotá/Dagoberto Muñoz

Causas

As causas da violência incluem a atividade de grupos em áreas desocupadas pelo grupo de ex-rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc, e a preferência do governo por uma resposta militar para controlar essas situações.

Também contribuem os desafios contínuos na implementação do acordo de paz, especialmente o desmantelamento de grupos paramilitares, a situação de segurança, o processo de restituição de terras e a reforma rural.

O escritório da ONU destaca algumas medidas positivas, como a reunião da Comissão Nacional de Garantias de Segurança, convocada pelo governo no início deste ano. Ainda assim, afirma que “o número de assassinatos mostra que muito mais precisa ser feito.”

Os especialistas da ONU fazem recomendações incluindo o reforço do envolvimento cívico e o aumento da presença de autoridades civis para fornecer serviços básicos, como saúde e educação.

Segundo o escritório, “as disparidades no gozo de todos os direitos, particularmente os direitos econômicos, sociais e culturais, precisam ser combatidas com urgência.”