ONU condena uso de munição real após protestos com mortes no Sudão
Secretário-geral e chefe de Direitos Humanos querem investigação independente sobre essa ação em protestos populares na capital; apelo às autoridades interinas é que permitam uma transição rápida para uma administração civil.
O secretário-geral condenou com veemência a violência e os relatos do uso excessivo da força pelo pessoal de segurança do Sudão em civis.
Em nota emitida pelo seu porta-voz, António Guterres condena o uso da força para dispersar os manifestantes e disse estar alarmado pelos relatos de que as forças de segurança abriram fogo dentro de instalações médicas.
Transição

Agências de notícias informaram que pelo menos oito pessoas perderam a vida e outras dezenas ficaram com ferimentos entre os milhares de manifestantes que estavam fora do quartel-general do Exército em Cartum.
Após os protestos, membros da Associação de Profissionais do Sudão teriam suspendido toda a cooperação com o Conselho Militar de Transição em relação às negociações sobre um governo civil. De acordo com os relatos das agências, as autoridades interinas teriam negando o uso da força contra os manifestantes.
O chefe da ONU lembrou ao Conselho Militar de Transição sobre sua responsabilidade em relação à segurança e à proteção dos cidadãos sudaneses, e pediu a todas as partes que ajam com máxima contenção.
Guterres pediu ainda responsabilidade na defesa dos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade de reunião e de expressão e um acesso desimpedido para a prestação de cuidados essenciais em locais de trabalho e hospitais onde os feridos são tratados.
União Africana
O chefe da ONU quer que as autoridades sudanesas facilitem uma investigação independente sobre as mortes e que os autores desses atos sejam responsabilizados.
A nota termina com um apelo às partes a prosseguirem o diálogo pacífico e a manterem o rumo nas negociações sobre a transferência de poder para uma autoridade de transição liderada por civis, conforme é exigido pela União Africana.
Antes, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que líderes dos protestos também foram detidos.
A chefe de Direitos Humanos realça que “manifestantes no Sudão foram, durante os últimos meses, uma inspiração, protestando pacificamente e trabalhando para se engajarem com o Conselho Militar de Transição”.
Detidos
Bachelet considera “extremamente alarmantes” os relatos de uso de munição real pelas forças de segurança perto e no interior de instalações médicas. O apelo a estas forças de segurança é que “suspendam imediatamente esses ataques e garantam o acesso seguro e desimpedido aos cuidados médicos para todos”.
Bachelet enfatizou ainda que é um princípio fundamental do direito internacional dos direitos humanos que “aqueles que exercem seus direitos à liberdade de reunião e expressão pacíficas devem ser protegidos e não ser visados ou detidos”.
A mensagem da chefe de Direitos Humanos realça que abusos "que marcaram a história do Sudão, e provocaram os protestos frequentes nos últimos seis meses, não devem continuar" no que chama “um revés real” no país.