Especialista condena afastamento do presidente do Supremo da Nigéria dias antes de eleições
Relator diz que suspensão do juiz Walter Onnoghen viola padrões internacionais de direitos humanos sobre independência judicial; decisão foi tomada pelo presidente Muhammadu Buhari em finais de janeiro.
Um especialista independente* das Nações Unidas condenou esta segunda-feira a suspensão e a substituição do juiz-presidente do Tribunal Supremo da Nigéria, Walter Onnoghen, pelo presidente do país, Muhammadu Buhari.
Para o relator especial sobre a independência de juízes e advogados, a medida viola os padrões internacionais de direitos humanos sobre a independência do judicial e a separação de poderes.
Conduta
Diego Garcia-Sayan disse que as regras determinam que esse tipo de medidas só pode ser tomado por razões graves envolvendo má conduta ou incompetência.
Buhari suspendeu o juiz Walter Onnoghen, em 25 de janeiro, após uma deliberação de um tribunal estabelecido pela Constituição para decidir sobre a conduta de funcionários públicos. O líder nigeriano ordenou a substituição do então chefe do Supremo pelo magistrado Ibrahim Tanko Mohammad.
A medida do chefe de Estado nigeriano, eleito em 2015, é tomada antes das eleições presidenciais, marcadas para este sábado. Segundo as autoridades nigerianas, o chefe do Tribunal Supremo pode presidir processos de disputa eleitoral.
Autoridade
De acordo com o relator, qualquer decisão de suspender ou movimentar um juiz do cargo deve ser justa e tomada por uma autoridade independente, como um conselho judicial ou um tribunal.
Para Garcia-Sayan, “demitir os juízes sem seguir procedimentos legais ou oferecer uma oportunidade de contestação da decisão é incompatível com a independência do Judicial”.
O especialista destaca que quatro tribunais superiores já haviam ordenado a suspensão do processo, e o tribunal que interveio na decisão final já havia dito que não tinha jurisdição sobre casos envolvendo funcionários do poder judicial.
Garcia-Sayan destaca que alguns dos juízes e advogados de defesa envolvidos no caso de Onnoghen já enfrentaram graves ameaças, pressões e interferências.
*Relatores de direitos humanos são independentes da ONU e não recebem salário pela sua atuação.